Sítio de Pai Adão: gameleira centenária é podada
Galhos serão triturados para que o pó da madeira seja espalhado em volta das raízes da gameleira. É esse material orgânico que servirá de adubo para a árvore
Um total de oito hastes (galhos mais grossos que sustentam a copa de uma árvore) da gameleira centenária situada no Sítio de Pai Adão, em Água Fria, Zona Norte do Recife, será podado. A intervenção, que teve parecer favorável do babalorixá do sítio, Manoel Papai, é necessária para diminuir o peso nas laterais da gameleira, uma vez que havia o risco iminente da árvore tombar.
A equipe da Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) trabalha desde às 10h30 desta segunda-feira (19) e deve concluir o trabalho por volta das 17h. Ao fim do processo, os galhos serão triturados para que o pó da madeira seja espalhado em volta das raízes da gameleira. É esse material orgânico que servirá de adubo para a árvore imponente, de aproximadamente 22 metros de altura e de uma copa de cerca de 30 metros de diâmetro.
"A poda é para diminuir o peso da árvore. A própria natureza tratará de regenerá-la", afirma o gerente de arborização da Emlurb, Caio Imperiano. As hastes podadas são as que tiveram perda significativa de folhas, um indicativo de que já não tinham seiva bruta e elaborada circulando no vegetal.
E, acredita Imperiano, as chances de sobrevivência da gameleira aumentam, à medida que ela apresenta mais partes saudáveis do que danificadas - mesmo com o trauma sofrido pelo incêndio que a tomou parcialmente no último dia 9. "Não estamos falando de qualquer árvore. Estamos falando de uma árvore que carrega uma história, representa uma entidade sagrada para o Candomblé", afirma o gerente.
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Manoel Papai, babalorixá que dirige o Sítio de Pai Adão há 38 anos, não teve coragem de ficar no terreno para assistir a poda. Mas, antes de a equipe da Emlurb iniciar a intervenção, pediu mais uma vez aos orixás que protegessem a gameleira e reforçou, novamente, o pedido de autorização dado pelas entidades. Jogou uma jarra d'água, enquanto conversava com a árvore.
"A água é a base de tudo. É a água que acorda a terra. Pedi para que a terra acordasse e pedi ao ar para dar forças", contou, adiantando que no próximo dia 24 de novembro, a partir das 9h, um ato será feito no entorno da árvore. "Vamos dar as mãos e ficar no entorno da árvore, como num abraço coletivo. Entoar cânticos. Mostrar que Iroko não está só", complementou Manoel Papai. Iroko é um orixá que, no Brasil, é associado à árvore chamada gameleira.
Iroko
Tombada pelo Estado há 33 anos, pelo município há 30 e nacionalmente desde setembro, a gameleira estava há um ano e meio passando por um tratamento fitossanitário com produtos naturais, adubação foliar com micronutrientes, adubação granular com macronutrientes e por uma cobertura de resto de poda de outras árvores. Proposital ou não, o incêndio que a tomou parcialmente contribuiu apenas para transformar o que foi incinerado em micronutriente.
"Mas, irei exigir do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) que faça o cercamento elétrico no muro e coloque um gradio no entorno da gameleira. Para evitar outro trauma a ela", garantiu Manoel Papai. Mais antigo espaço destinado ao candomblé em Pernambuco, o terreiro Obá Ogunté Sítio de Pai Adão foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Iphan em setembro deste ano.