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Tarifa dos EUA ameaça R$ 19 bi do PIB brasileiro, mas golpe maior será na própria economia americana

Entre os produtos, os mais atingidos vem ser tratores e máquinas agrícolas, cuja exportação pode cair 23,6%, diz a indústria

O presidente dos EUA, Donald Trump, pediu em 23 de maio de 2025 uma tarifa de 50% sobre as importações da União Europeia, aumentando as apostas em sua guerra comercial globalO presidente dos EUA, Donald Trump, pediu em 23 de maio de 2025 uma tarifa de 50% sobre as importações da União Europeia, aumentando as apostas em sua guerra comercial global - Foto: Joel Saget / AFP

Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) alerta para os efeitos negativos que as tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos Donald Trump podem provocar na economia brasileira. A estimativa é que o tarifaço americano provoque uma perda de R$ 19,2 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, redução de R$ 52 bilhões nas exportações e eliminação de 110 mil empregos, especialmente nos setores industriais e agropecuários.

Mas o principal prejudicado com as tarifas não é o Brasil. Segundo estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), encomendado pela CNI, os próprios EUA devem sofrer o maior impacto da política adotada pela Casa Branca. O PIB americano pode cair 0,37% mais que o dobro do impacto previsto para o Brasil, com retração estimada de 0,16%. No cenário global, o PIB mundial cairia 0,12% e o comércio internacional recuaria 2,1%, o equivalente a US$ 483 bilhões.

"Os números mostram que esta política é um perde-perde para todos, mas principalmente para os americanos. A indústria brasileira tem nos EUA seu principal mercado, por isso a situação é tão preocupante", afirma o presidente da CNI, Ricardo Alban.

Indústria é a mais afetada

O impacto das tarifas será sentido principalmente por setores industriais com forte presença no mercado norte-americano. Equipamentos de transporte, como aviões e embarcações, por exemplo, têm 22,1% de seu faturamento atrelado às exportações aos EUA. Em seguida, aparecem madeira (17%), metalurgia (10,1%) e máquinas e equipamentos (4,8%).

Entre os produtos, os mais atingidos vem ser tratores e máquinas agrícolas, cuja exportação pode cair 23,6%, o que deve se refletir em uma redução de 1,86% na produção. Também devem sofrer perdas significativas as exportações de aeronaves, com retração de 22,3% e queda de 9,2% na produção, e carnes e aves, com redução de 11,3% nas vendas externas e de 4,2% na produção.

Estados com maiores perdas

As perdas econômicas não estarão distribuídas de forma uniforme entre os estados. São Paulo, por exemplo, pode ter um prejuízo de R$ 4,4 bilhões no PIB. Em segui vêm Rio Grande do Sul (R$ 1,9 bilhão), Paraná (R$ 1,9 bilhão), Santa Catarina (R$ 1,74 bilhão) e Minas Gerais (R$ 1,66 bilhão).

Comércio complementar

A CNI ressaltou que as economias brasileira e americana são complementares, com forte integração das cadeias produtivas. Em 2024, 78,2% das exportações da indústria de transformação brasileira tiveram os EUA como destino, o que reforça a importância da parceria. Produtos como aviões, petróleo, café, aço, papel e químicos estão entre os principais itens exportados para o país. Nos últimos dez anos, os EUA acumularam um superávit de US$ 43 bilhões na balança comercial de bens com o Brasil, além de US$ 165 bilhões no setor de serviços.

— É do interesse de todos avançar nas negociações e sensibilizar o governo americano da complementariedade das nossas relações. A racionalidade deve prevalecer — defendeu Alban.

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