Unicef e Prefeitura do Recife apresentam estudo com dez recomendações para melhoria do Compaz
Medidas se dividem em quatro eixos: integração com o território, atendimento inclusivo, serviços e atividades e integração entre políticas
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Prefeitura do Recife apresentaram, nesta quarta-feira (29), um estudo sobre os Centros Comunitários da Paz (Compaz).
O trabalho, realizado pelo Coletivo Massapê, possui dez recomendações, distribuídas em quatro eixos, para o fortalecimento e melhoria dos equipamentos. Atendendo atualmente cerca de 60 mil pessoas na Capital pernambucana, os espaços focam na prevenção às violências em crianças e adolescentes das áreas periféricas da Cidade.
Chamado de “Entre Vozes e Vivências: avaliação participativa do Compaz para o fortalecimento da cultura de paz e inclusão social no Recife (PE)”, o relatório utilizou como base dois equipamentos da Rede Compaz. São eles: o Miguel Arraes, no bairro da Madalena, e o Ariano Suassuna, no Cordeiro, ambos na Zona Oeste.
"É muito bom podermos trazer um estudo desse tipo, que leva em consideração o que pensa a criança e adolescente atendido pelo Compaz. Nós somos um ecossistema em crescimento e em constante mudança, sempre evoluindo para poder ganhar o Recife com o nosso trabalho em conjunto. Vamos trabalhar agora em um plano de ação para podermos implementar as recomendações", revelou o Secretário Executivo de Segurança Cidadã do Recife, Paulo Moraes.
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O trabalho foi feito através de questionários e grupos focais com cuidadores, adolescentes e funcionários das unidades, assim como oficinas de leitura para compreender as percepções do público infantil.
Os perfis considerados para a pesquisa correspondem à população em situação de vulnerabilidade social, audiência prioritária da ferramenta. No total, 876 pessoas foram envolvidas diretamente, dispostas da seguinte maneira:
- 766 participantes do questionário;
- 73 participantes de grupos focais;
- 22 participantes de oficinas de leitura;
- 16 integrantes do Comitê Científico;
- 5 pesquisadores moradores da comunidade.
Revelações e recomendações da pesquisa
Como mencionado, as recomendações foram divididas em quatro eixos. São eles: integração com o território, atendimento inclusivo, serviços e atividades e integração entre políticas.
O questionário revelou dados importantes a respeito dos jovens atendidos pelo equipamento. Dos entrevistados, 80% moram em um raio de até 2 km do equipamento que frequentam, e 72,8% precisam se deslocar a pé todos os dias para o ponto. Outro dado importante é que 42% possuem renda abaixo de um salário mínimo.
Assim, conforme revelaram os pesquisadores, a lomoção se torna um dos principais empecilhos para os jovens. Outro fator identificado foi a quantidade de vagas, já que a procura pelos equipamentos é grande.
Também faz parte da pauta a necessidade do melhoramento da política de inclusão, principalmente, de pessoas com deficiência e idosos do Compaz. Além disso, medidas de segurança no entorno das comunidades e parcerias com outras instituições também são recomendadas.
Para tentar solucionar isso, as recomendações abaixo foram elaboradas pelo estudo:
- Realizar intervenções urbanas no entorno do equipamento para garantir que os caminhos feitos diariamente pelas crianças e adolescentes para chegar até o Compaz sejam seguros, acessíveis e amigáveis;
- Mapeamento de interesses e demandas das pessoas que moram no entorno do Compaz;
- Contratação de profissionais especializados para a inclusão de crianças e adolescentes mais vulneráveis com deficiência, LGBTQUIAPN+ e diferentes raças e etnias;
- Estabelecimento de protocolos de acolhimento e encaminhamento de crianças e adolescentes em contextos de violência;
- Retomada do Programa Agentes de Paz na Articulação comunitária do Compaz;
- Gestão compartilhada para a promoção da participação comunitária e cooperação no Compaz;
- Ampliação do número de funcionários para garantir uma maior cobertura e atenção às crianças e aos adolescentes em situação de risco;
- Criação de mecanismos para a participação inclusiva de crianças em situação de maior vulnerabilidade;
- Fortalecimento do vínculo de integração entre o CREAS e o Compaz para acolher e encaminhar crianças e adolescentes em situação de risco e violência;
- Relacionamento com as polícias que estão nos territórios.
UNICEF e Prefeitura do Recife lançam estudo sobre a Rede Compaz | Fotos: Júlia Kacowicz/UnicefA avaliação faz parte do projeto #AgendaCidadeUNICEF, trazido para a Capital pernambucana em parceria entre Unicef e Prefeitura do Recife. A ação visa o fortalecimento de políticas de proteção de crianças e adolescentes, como foco no bairro do Ibura, na Zona Sul.
"Todas as recomendações fazem parte do trabalho que já vem sendo desenvolvido pelo Compaz, mas que ainda possuem pontos de carência. Então estamos aqui para tentar afetar isso. O Compaz tem esse papel educativo e formativo, então achamos que seria interessante oferecer ainda mais oportunidades para esses adolescentes", completou a representante do Coletivo Massapê, Organização Não-Governamental (ONG) que atua em questões de Urbanismo no Recife, Marina Mergulhão.
Rede Compaz
As primeiras unidades da rede Compaz foram implementadas pela Prefeitura do Recife a partir de 2016, com foco nos territórios em situação de vulnerabilidade social. O objetivo é atuar como uma resposta direta aos índices de violência.
A instituição foca nos jovens como forma de evitar a entrada e a permanência desse público no ciclo de violência. O trabalho das unidades se dá na oferta de serviços e atividades educacionais, culturais, esportivas, de qualificação profissional, de saúde e bem-estar.
Uma das jovens atendidas pelo equipamento é Agnely Royma Vicente de Araújo, de apenas oito anos. Ela frequenta o Compaz Ariano Suassuna e tem como maior paixão o tênis, sonhando, inclusive, com uma carreira no esporte. Neste início, ela já se sagrou campeã sub-12 de Tênis do Recife e Sub-10 do Nordeste, categorias acima do padrão de idade dela.
"Eu jogo desde os cinco anos e gosto muito dos meus professores e do esporte também. Cheguei a jogar tênis na escola, mas no Compaz é muito melhor. É um lugar em que me sinto muito bem e espero que mais pessoas possam se sentir assim", revelou.
"O Compaz trouxe uma oportunidade para a minha filha que eu nunca poderia dar. O tênis é um esporte muito caro, então eu nunca teria condições de proporcionar isso pra ela. Então o Compaz realiza sonhos, inclusive os dela, tanto no presente, quanto no futuro", completou o pai da garota, Ronaldo Vicente de Araújo.
No momento, quatro unidades do Compaz estão em funcionamento no Recife, com mais um em construção e previsão de expansão ao longo de 2024. O equipamento se baseia em modelos semelhantes em outras cidades, em uma estratégia que vem crescendo no Brasil.
Agnely Royma Vicente de Araújo, ao lado do seu pai, Ronaldo Vicente de Araújo. - Foto: Genivaldo Henrique/Folha de PernambucoUnicef no Recife
O Unicef chega à Capital pernambucana como parte de uma parceria com a Prefeitura do Recife para implementação da #AgendaCidadeUNICEF. O projeto atua em centros urbanos na promoção de direitos e oportunidades para crianças e adolescentes mais vulneráveis, com o objetivo de contribuir para a inclusão e combate à discriminação e violência.
No Recife, o bairro definido como prioritário pela prefeitura e pelo Unicef foi o Ibura, um dos mais populosos da Cidade, com 50 mil habitantes. De acordo com dados de 2019 reportados pela gestão, a região apresenta uma das maiores taxas de homicídios da Capital, alcançando adolescentes entre 10 e 19 anos.
"É muito importante que possamos trazer esse projeto aqui para o Recife. Atuamos em diversos estados do Brasil, e o nosso compromisso, a nível nacional, é promover um presente e um futuro de qualidade para essas crianças e adolescentes, através de iniciativas que promovem a cidadania", explicou a chefe da área de proteção contra violência do Unicef, Rosana Vega.
O projeto prevê ações integradas até 2024 nas áreas de ducação, inclusão socioprodutiva, proteção contra violência, além de saúde e bem-estar.
Nesse período, o Unicef deve disponibilizar apoio técnico, compartilhamento de metodologias, monitoramento e intercâmbio com outras iniciativas locais e globais. A ação faz parte dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

