Aliado de Alcolumbre fez fundo aportar R$ 400 milhões no banco Master
Indicado rebateu conselheiros sobre risco; valor da Amprev, que emprega ainda um irmão de Davi, fica atrás só do Rioprevidência
Em meio ao cerco do Banco Central e da Polícia Federal contra o Banco Master, que foi alvo de liquidação extrajudicial e teve seu dono preso nesta semana, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), viu um aliado se tornar alvo de questionamentos no Amapá por levar o fundo de pensão do estado a alocar R$ 400 milhões em papéis da instituição.
Os aportes da Amapá Previdência (Amprev), que ocorreram em julho de 2024, foram conduzidos pelo presidente do fundo, Jocildo Silva Lemos, que afirma ter assumido o comando do fundo por “convite” de Alcolumbre.
Além de Jocildo, a Amprev tem o irmão do senador, Alberto Alcolumbre, como conselheiro fiscal.
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O desgaste gerado pela operação da PF contra o Master, deflagrada na terça-feira, ocorre em paralelo a sinais de descontentamento de Alcolumbre com o governo Lula.
O presidente do Senado defendia a ida do também senador Rodrigo Pacheco (PSD) ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas Lula indicou anteontem o chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias.
Em reunião na quarta-feira, Jocildo foi cobrado por conselheiros da Amprev por ter decidido seguir com o investimento no Master, no ano passado, mesmo com orientações contrárias. O banco foi liquidado nesta semana por operação fraudulenta.
A conselheira Michele Teixeira citou haver “notícias e informações” sobre problemas no banco desde 2024, e questionou por que o Amprev fez “mais aplicações mesmo após um parecer do Ministério da Previdência”.
O parecer, embora não citasse o Master, instruía fundos de pensão estaduais a evitarem comprar papéis de instituições com “risco reputacional”.
Em resposta, Jocildo disse que o comitê de investimentos da Amprev, que ele também preside, por vezes é bombardeado por informações “fake”.
“ A proposta mais vantajosa para o Amapá Previdência era a do Banco Master, que nos apresentava uma taxa de juros melhor”, alegou.
O investimento do fundo do Amapá no Banco Master já havia sido questionado internamente em julho de 2024, como antecipado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” e confirmado pelo Globo.
Logo após um primeiro aporte de R$ 200 milhões em letras financeiras da instituição, realizado no dia 12 daquele mês, dois conselheiros da Amprev relataram preocupação com notícias de que um comitê da Caixa havia rejeitado uma operação semelhante, por ver “alto risco de solvência” no Master.
Como revelou a colunista do Globo Malu Gaspar, os gerentes que barraram a operação foram posteriormente destituídos de seus cargos pela cúpula da Caixa, que conta com dirigentes indicados por siglas do Centrão.
Mesmo com o alerta, feito em uma reunião em 19 de julho do ano passado, Jocildo defendeu que a Amprev fizesse um novo aporte em letras financeiras do Master, de R$ 100 milhões.
Na ocasião, o aliado de Alcolumbre disse que não havia “fatos concretos” que indicassem problemas com o Master e citou que era preciso “preservar a presunção de inocência” do banco.
Ele também rebateu o pedido dos conselheiros para que novos aportes só ocorressem após uma diligência no banco, e ironizou a preocupação com riscos a partir do noticiário.
“Se for o caso, em um dia foi aprovado R$ 200 milhões, no outro aprovar uma diligência condicionada, como fica a primeira deliberação? (...) Se for dada razão a toda matéria que aparece, a carteira da Amprev ficará toda no DI (Depósitos Interfinanceiros, título negociado apenas entre bancos)”, disse Jocildo, conforme a ata da reunião.
O Amprev, que ainda faria um terceiro aporte no Master, no fim daquele mês, se tornou um dos fundos de previdência estaduais e municipais mais expostos pela liquidação do Master.
O aporte de R$ 400 milhões sob a gestão do aliado de Alcolumbre representou metade do valor investido pela Amprev em 2024. E só fica atrás do volume investido pelo Rioprevidência, vinculado ao governo estadual do Rio — e também na alçada de influência do União Brasil — , que colocou R$ 970 milhões em papéis do banco.
Relação antiga
Procurada, a Amprev afirmou, em nota, que suas aplicações “seguiram rigorosamente as normas do Sistema Financeiro Nacional” e que o aporte no Master representa cerca de 5% do seu patrimônio total.
Em maio do ano passado, Jocildo agradeceu, em um evento, ao “senador Davi Alcolumbre que me convidou para ser o presidente da Amapá Previdência” desde 2023. Apesar da fala de Jocildo, Alcolumbre afirmou, em nota enviada ao Globo, que “não possui qualquer participação, influência ou atribuição em nomeações, decisões administrativas ou escolhas de investimento” da Amprev.
A relação entre ambos é antiga: Jocildo é também o presidente a Liga Independente de Escolas de Samba do Amapá, entidade que desde 2020 tem captado recursos de emendas de Alcolumbre para organizar o carnaval amapaense. Ele também faz parte da executiva estadual do União Brasil no Amapá. Nas eleições de 2022, o senador usou o email “jocildolemos.ap” no seu registro de candidatura.

