Aplicativos, primeiro desafio de Boulos
Nos primeiros três anos da gestão petista, a pauta do governo não seduziu a categoria e perdeu tração; a partir de agora ela será conduzida por Guilherme Boulos (PSOL)
O que se ouve em Brasília é que a chegada do novo ministro Guilherme Boulos, para tocar a Secretaria-Geral da Presidência da República, só veio estreitar ainda mais o governo, que já conta com uma figura também tarimbada de radical no núcleo duro do governo — Gleisi Hoffman, da Articulação Política.
E que por isso mesmo o governo vem sofrendo derrotas e atropelos na relação com o Congresso. Mesmo assim, os trabalhadores por aplicativo — classe composta por uma base de eleitores que não se identifica com a esquerda e rejeita a CLT — voltaram ao foco do Palácio do Planalto.
Nos primeiros três anos da gestão petista, a pauta do Ministério do Trabalho não seduziu a categoria e perdeu tração; a partir de agora ela será conduzida por Guilherme Boulos (PSOL), que tem a missão de dialogar com o segmento.
Depois de ter enfrentado dificuldades para se aproximar dos profissionais durante a campanha derrotada à Prefeitura de São Paulo no ano passado, o novo ministro vai intensificar os gestos ao setor, importante para o projeto de reeleição de Lula em 2026. Dados do IBGE mostram que os trabalhadores por aplicativo somavam 1,7 milhão de pessoas em 2024, um aumento de 25,4% em relação a 2002, quando o petista foi eleito pela primeira vez.
A maioria é formada por homens (83,9%), pretos ou pardos (54%), com idade entre 25 e 39 anos (47,3%) e nível médio completo ou superior incompleto (59,3%). Com o avanço da categoria de perfil pouco identificado com a esquerda, Lula tenta agora reabrir diálogo e propor garantias sem engessá-los.
Para o governo, o desafio será combinar garantias trabalhistas com a autonomia e flexibilidade valorizadas pela categoria — ponto que não foi bem compreendido pelo Planalto nas primeiras tentativas de regulação. A versão do projeto de lei enviada ao Congresso em abril do ano passado, restrita aos motoristas e que os vinculava a sindicatos tradicionais, acabou travada e gerou atritos com os entregadores, que não haviam sido contemplados na proposta.
Na época, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, chegou a afirmar que as negociações entre as empresas e os trabalhadores estariam paradas por falta de acordo. O texto, no entanto, segue estagnado há 15 meses na Comissão de Indústria, Comércio e Serviços da Câmara.
Vários trabalhadores por aplicativo estão organizados coletivamente através de associações, muitas vezes informais e mediadas por grupos de WhatsApp, mas também há versões formalizadas. Essas organizações não são iguais aos sindicatos, o que gerou tensão inicial com o governo.

