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BRASÍLIA

Câmara encaminha relatório alternativo pela suspensão do mandato de Glauber

Deputado do PSOL responde por agressão a um integrante do MBL; governo articulou destaque que reduziu punição

Glauber foi retirado da cadeira da Presidência da Câmara dos Deputados pela Polícia LegislativaGlauber foi retirado da cadeira da Presidência da Câmara dos Deputados pela Polícia Legislativa - Foto: Sérgio Lima/AFP

A Câmara dos Deputados encaminhou nessa quarta-feira (10) em plenário um relatório alternativo pela suspensão de seis meses do mandato de Glauber Braga (PSOL-RJ), um dia depois de o parlamentar ter ocupado, por cerca de uma hora, a cadeira da Presidência da Casa e tentado obstruir os trabalhos do plenário. O placar pela análise do mérito da punição mais branda foi de 226 votos favoráveis e 220 contrários.Agora, os deputados votarão para confirmar ou não a punição mais branda.

Até o início da tarde, o cenário era de que Glauber seria cassado. Integrantes da base do governo, contudo, articularam a aprovação de um destaque que diminuiu a oposição.

Esta aprovação só foi possível por conta da crise institucional atravessada pelo presidente Hugo Motta (Republicanos-PB).

Apesar da maior parte da Casa condenar a atitude de Glauber nesta terça-feira, a condução da crise por parte de Motta pesou contra o presidente. Parlamentares ouvidos sob reserva afirmaram que a suspensão seria uma espécie de "saída honrosa" para Motta, em vez de correr o risco de sair derrotado na votação da cassação. O acordo costurado contemplou todos os partidos. Apenas o PL e o Novo orientaram contra.

A decisão encerra meses de desgaste envolvendo o processo disciplinar contra o deputado — um percurso que incluiu até uma greve de fome — e foi tomada em meio ao clima de ruptura provocado pelos episódios da véspera.

Nesta noite, por 25 minutos, o deputado pode se defender. Ele iniciou sua fala com uma frase de efeito da esquerda, afirmando: "O Congresso é inimigo do povo". Em seguida, disse que vai continuar fazendo suas denúncias:

"Não vou fingir aquilo que não sou. Não vou chamar um deputado no canto e dizer que não falo mais sobre orçamento secreto. Não vou deixar de dizer aquilo que já disse sobre o ex-presidente Arthur Lira. Essa tentativa de cassação não tem absolutamente nada a ver com o chute na bunda dado no provocador, mas eu espero que ele (Lira) seja responsabilizado".

Glauber ainda lamentou a atitude de Motta, alegando que ele desejava criar uma falsa simetria entre o seu caso e o da deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP), que terá sua cassação analisada em plenário na sequência. Zambelli está presa na Italia após ter sido condenada pelo STF por ter invadido o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Entenda o caso
O motivo do processo de cassação é um episódio de abril de 2024, quando Glauber foi denunciado por ter chutado o militante do MBL Gabriel Costenaro durante uma discussão nos corredores da Câmara. Glauber Braga e o militante Gabriel Costenaro discutiram dentro das dependências da Casa. Houve empurrões e chutes do parlamentar contra o militante. O deputado Kim Kataguiri (União-SP) também estava presente.

Na ocasião, a discussão seguiu para o exterior da Câmara e precisou ser apartada por policiais legislativos, que conduziram os dois para prestar depoimento no Departamento de Polícia Legislativa (Depol) da Câmara. O deputado se defende dizendo que, na ocasião em que agrediu o integrante do MBL, o militante o teria provocado e xingado sua mãe.

Em março deste ano, o Conselho de Ética aprovou parecer favorável à cassação, o que levou o deputado a iniciar, em 9 de abril, uma greve de fome de oito dias em protesto.

Ele ingeriu apenas água, soro e isotônicos, dormiu no Anexo 2 e recebeu apoio logístico da deputada e esposa, Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que levou colchão e cobertor ao local. A greve só foi encerrada após o então presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), comprometer-se a não pautar a votação por 60 dias.

Protesto em plenário
Na terça-feira, ao ser informado de que seu processo seria votado hoje, Glauber subiu à Mesa Diretora, sentou-se na cadeira presidencial e se recusou a deixar o posto. “Eu ficarei aqui até minhas últimas forças”, afirmou, insistindo que a cassação era “um ataque político”.

A cena escalou rapidamente. Deputados tentavam dialogar com Glauber, enquanto Motta determinou o encerramento da sessão e a intervenção da Polícia Legislativa, o que gerou um empurra-empurra que se estendeu pelo plenário e Salão Verde. O sinal da TV Câmara foi cortado, e jornalistas e fotógrafos foram retirados da galeria, movimento que ampliou a tensão e gerou fortes críticas de partidos da base governista e da oposição.

Após ser removido à força — carregado pelos braços e pelas pernas —, Glauber deixou o plenário aos gritos de “não vão me calar”. A sessão só foi retomada mais de uma hora depois.

"Só pedi ao presidente Hugo Motta foi que ele tivesse 1% do tratamento comigo que teve com aqueles que sequestraram a Mesa Diretora por 48h. Os caras ficaram 48h e eu fiquei nem uma hora e já foi suficiente", Disse Glauber logo após deixar a mesa diretora, mostrando que teve o paletó rasgado durante o tumulto. O atestado do Departamento Médico da Câmara informa que ele teve traumatismo superficial no ombro durante a confusão.

O episódio detonou a reação imediata de deputados da base, que passaram a afirmar publicamente que Hugo Motta havia perdido as condições de continuar à frente da Câmara. Alguns cobravam, nos bastidores, que a Mesa revisse a decisão de acionar a Polícia Legislativa.

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