Câmara encaminha relatório alternativo pela suspensão do mandato de Glauber
Deputado do PSOL responde por agressão a um integrante do MBL; governo articulou destaque que reduziu punição
A Câmara dos Deputados encaminhou nessa quarta-feira (10) em plenário um relatório alternativo pela suspensão de seis meses do mandato de Glauber Braga (PSOL-RJ), um dia depois de o parlamentar ter ocupado, por cerca de uma hora, a cadeira da Presidência da Casa e tentado obstruir os trabalhos do plenário. O placar pela análise do mérito da punição mais branda foi de 226 votos favoráveis e 220 contrários.Agora, os deputados votarão para confirmar ou não a punição mais branda.
Até o início da tarde, o cenário era de que Glauber seria cassado. Integrantes da base do governo, contudo, articularam a aprovação de um destaque que diminuiu a oposição.
Esta aprovação só foi possível por conta da crise institucional atravessada pelo presidente Hugo Motta (Republicanos-PB).
Apesar da maior parte da Casa condenar a atitude de Glauber nesta terça-feira, a condução da crise por parte de Motta pesou contra o presidente. Parlamentares ouvidos sob reserva afirmaram que a suspensão seria uma espécie de "saída honrosa" para Motta, em vez de correr o risco de sair derrotado na votação da cassação. O acordo costurado contemplou todos os partidos. Apenas o PL e o Novo orientaram contra.
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A decisão encerra meses de desgaste envolvendo o processo disciplinar contra o deputado — um percurso que incluiu até uma greve de fome — e foi tomada em meio ao clima de ruptura provocado pelos episódios da véspera.
Nesta noite, por 25 minutos, o deputado pode se defender. Ele iniciou sua fala com uma frase de efeito da esquerda, afirmando: "O Congresso é inimigo do povo". Em seguida, disse que vai continuar fazendo suas denúncias:
"Não vou fingir aquilo que não sou. Não vou chamar um deputado no canto e dizer que não falo mais sobre orçamento secreto. Não vou deixar de dizer aquilo que já disse sobre o ex-presidente Arthur Lira. Essa tentativa de cassação não tem absolutamente nada a ver com o chute na bunda dado no provocador, mas eu espero que ele (Lira) seja responsabilizado".
Glauber ainda lamentou a atitude de Motta, alegando que ele desejava criar uma falsa simetria entre o seu caso e o da deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP), que terá sua cassação analisada em plenário na sequência. Zambelli está presa na Italia após ter sido condenada pelo STF por ter invadido o sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Entenda o caso
O motivo do processo de cassação é um episódio de abril de 2024, quando Glauber foi denunciado por ter chutado o militante do MBL Gabriel Costenaro durante uma discussão nos corredores da Câmara. Glauber Braga e o militante Gabriel Costenaro discutiram dentro das dependências da Casa. Houve empurrões e chutes do parlamentar contra o militante. O deputado Kim Kataguiri (União-SP) também estava presente.
Na ocasião, a discussão seguiu para o exterior da Câmara e precisou ser apartada por policiais legislativos, que conduziram os dois para prestar depoimento no Departamento de Polícia Legislativa (Depol) da Câmara. O deputado se defende dizendo que, na ocasião em que agrediu o integrante do MBL, o militante o teria provocado e xingado sua mãe.
Em março deste ano, o Conselho de Ética aprovou parecer favorável à cassação, o que levou o deputado a iniciar, em 9 de abril, uma greve de fome de oito dias em protesto.
Ele ingeriu apenas água, soro e isotônicos, dormiu no Anexo 2 e recebeu apoio logístico da deputada e esposa, Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que levou colchão e cobertor ao local. A greve só foi encerrada após o então presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), comprometer-se a não pautar a votação por 60 dias.
Protesto em plenário
Na terça-feira, ao ser informado de que seu processo seria votado hoje, Glauber subiu à Mesa Diretora, sentou-se na cadeira presidencial e se recusou a deixar o posto. “Eu ficarei aqui até minhas últimas forças”, afirmou, insistindo que a cassação era “um ataque político”.
A cena escalou rapidamente. Deputados tentavam dialogar com Glauber, enquanto Motta determinou o encerramento da sessão e a intervenção da Polícia Legislativa, o que gerou um empurra-empurra que se estendeu pelo plenário e Salão Verde. O sinal da TV Câmara foi cortado, e jornalistas e fotógrafos foram retirados da galeria, movimento que ampliou a tensão e gerou fortes críticas de partidos da base governista e da oposição.
Após ser removido à força — carregado pelos braços e pelas pernas —, Glauber deixou o plenário aos gritos de “não vão me calar”. A sessão só foi retomada mais de uma hora depois.
"Só pedi ao presidente Hugo Motta foi que ele tivesse 1% do tratamento comigo que teve com aqueles que sequestraram a Mesa Diretora por 48h. Os caras ficaram 48h e eu fiquei nem uma hora e já foi suficiente", Disse Glauber logo após deixar a mesa diretora, mostrando que teve o paletó rasgado durante o tumulto. O atestado do Departamento Médico da Câmara informa que ele teve traumatismo superficial no ombro durante a confusão.
O episódio detonou a reação imediata de deputados da base, que passaram a afirmar publicamente que Hugo Motta havia perdido as condições de continuar à frente da Câmara. Alguns cobravam, nos bastidores, que a Mesa revisse a decisão de acionar a Polícia Legislativa.

