Sex, 05 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
TENTATIVA DE GOLPE

Cid diz que coronel denunciado pela PGR recebia informações sobre Moraes de juiz do TSE

Moraes afirma que magistrado já foi identificado, mas não disse o nome

Depoimento de Mauro Cid a Alexandre de Moraes e Paulo GonetDepoimento de Mauro Cid a Alexandre de Moraes e Paulo Gonet - Foto: STF/reprodução/vídeo

Em depoimento ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) em novembro do ano passado, o tenente-coronel Mauro Cid, delator no inquérito que apurou tentativa de golpe de Estado, afirmou que um dos militares envolvidos na organização recebia de um juiz do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informações sobre a agenda do ministro.

"Sobre o monitoramento do ministro Alexandre de Moraes, reforço o que eu falei aquela vez, foi pedido pelo presidente Bolsonaro, e o contato lá do coronel Câmara era um elemento do TSE. Eu não sei, eu não tenho contato, eu nunca falei, eu nunca", disse em depoimento à Polícia Federal no dia 19 de novembro.

A investigação da Polícia Federal identificou que a ação golpista envolvia um plano de assassinato de autoridades, dentre elas Moraes, e que o ministro chegou a ser monitorado por militares de um batalhão especial do Exército apelidado de "kids pretos".

Trocas de mensagens entre Cid e coronel Marcelo Câmara, ex-assessor especial da Presidência no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, em dezembro de 2022, mostram esse monitoramento. Eles usavam o codinome "professora" para se referir a Moraes. Em uma das mensagens, no dia 16 de dezembro, Câmara envia para Cid uma mensagem encaminhada por outra pessoa.

"Viajou para São Paulo hoje, retorna na manhã de segunda-feira e viaja novamente pra SP no mesmo dia. Por enquanto só retorna a Brasília pra posse do ladrão. Qualquer mudança que saiba lhe informo", relatou.

Em depoimento a Moraes no dia 21 de novembro, Cid afirmou que, no dia 16 de dezembro de 2022, pessoas que faziam o monitoramento do ministro pediram a informação sobre ele. O tenente-coronel, então, voltou a dizer que o contato de Câmara era um juiz do TSE.

"Sobre uma coisa que eu acho que é interessante, é sobre o monitoramento do Senhor, né, no que diz respeito o contato que a gente tinha ciência. O monitoramento... A informação do dia 16, ela foi pedida por esse pessoal, né? A pessoa queria saber por onde o Senhor ia tá. E eu perguntei para o Coronel Câmara, né, e eu não sei, não sei bem quem era... não conheço o contato dele. Inclusive, uma informação que eu sei, né, até, é que um dos contatos dele era um juiz, eu não dizer função, mas é um juiz do TSE. Inclusive, era ele que auxiliava as Forças Armadas a redigir os documentos que o general Paulo Sérgio e encaminhava pro senhor", afirmou.

Em seguida, Cid recua e diz que não sabe confirmar se o juiz repassava a agenda de Moraes. "Não sei se ele tinha acesso à agenda do ministro. Eu, assim, eu não posso dizer que era ele. Eu sei que, na parte do TSE [...] Na parte de urnas, aquele negócio todo, quem passava as informações era ele, a parte mais técnica, ali, da coisa. E o último monitoramento, a gente faz aquela brincadeira, né, professora tal, foi... essa aí foi o presidente que pediu. Essa aí foi o próprio presidente que pediu", disse.

No mesmo depoimento, Moraes volta a indagar o delator sobre os monitoramentos, questionando especificamente sobre as ações tomadas quando o ex-presidente Jair Bolsonaro pediu o monitoramento do ministro. Cid, então, responde que solicitou ao coronel Câmara, mas disse que não sabia quem ajudava o coronel com as informações.

— Eu não sei quem era o contato dele, nunca perguntei, obviamente, quem era o contato dele. (...) O que sei é o que falei para o senhor daquele ministro, daquele elemento do TSE — afirmou.

Moraes, então, o corrige.

— Não é um ministro, é um juiz que nós já identificamos — afirmou Moraes, sem citar nomes.

Veja também

Newsletter