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DISCURSO DO PRESIDENTE DO BRASIL

Defesa da soberania, crítica à anistia, plataformas e genocídio em Gaza: os recados de Lula na ONU

Presidente brasileiro abriu Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York

Lula discursa na ONU neste 23 de setembro de 2025Lula discursa na ONU neste 23 de setembro de 2025 - Foto: Michael M. Santiago / Getty Images North America via AFP

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou na Assembleia Geral da ONU em Nova York nesta terça-feira (23) reafirmando a defesa da soberania brasileira. Sem citar o líder americano Donald Trump diretamente, Lula voltou a criticar o tarifaço de 50% imposto pelo americano a exportações brasileiras.

Defesa da democracia e da soberania
O presidente Lula iniciou seu discurso com a defesa da soberania dos países, em uma reação à taxação do Brasil pelos Estados Unidos e às sanções aplicadas contra integrantes do governo e ao Judiciário brasileiro.

Sem citar Donald Trump, afirmou considerar tentativas de interferir no Judiciário como uma "agressão inaceitável".

—Não há justificativa para as medidas unilaterais arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia. (...) Nossa nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis — disse Lula.

Lula disse que "mesmo sob ataques sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia", em alusão ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.

Existe um evidente paralelo entre a crise do multilatelarismo e o enfraquecimento da democracia.

O autoritarismo se fortalece quando nos omitimos frente à arbitrariedade, quando a comunidade internacional vacila na defesa da paz, da soberania e do direito, as consequências são trágicas.

Crise da democracia no mundo
Lula se mostrou preocupado com o que chamou de "forças antidemocráticas" ao redor do mundo e associou a crise do multilateralismo com a da democracia globalmente.

— Existe um evidente paralelo entre a crise do multilateralismo e o enfraquecimento da democracia. O autoritarismo se fortalece quando nos omitimos frente à arbitrariedade. Quando a comunidade internacional vacila na defesa da paz, da soberania e do direito, as consequências são trágicas — disse.

Em todo o mundo, disse Lula, "forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades". — Cultuam a violência, exaltam a ignorância, atuam como milícias físicas e digitais e cerceiam a imprensa.

Crítica à anistia e a ingerência externa no Brasil
Também sem citar o nome de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Lula criticou a ação do deputado nos Estados Unidos para ampliar sanções do país contra o Brasil e autoridades brasileiras.

— Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema direita subserviente e saudosa diante de antigas hegemonias — afirmou.

Regulação das plataformas digitais
Lula defendeu na ONU a regulamentação das plataformas digitais. O presidente afirmou que as redes sociais "tem sido usadas para semear intolerância, misoginia, xenofobia, homofobia e desinformação".

— A internet não pode ser terra sem lei. Cabe ao poder público proteger os mais vulneráveis. Regular não é restringir a liberdade de expressão, é garantir que o que já é ilegal no mundo real seja tratado assim, também, no ambiente digital, no ambiente virtual — disse.

Reforma da OMC e crítica ao protecionismo
Na esteira do anúncio de tarifaços dos EUA contra o Brasil e outros países, a exemplo da China e da Índia, Lula defendeu uma reforma na Organização Mundial do Comércio (OMC) para fortalecer o sistema multilateral para contrapor o protecionismo.

— Poucas áreas retrocederam tanto como o sistema multilateral de comércio. Medidas unilaterais transformam em letra morta princípios basilares como a cláusula de nação mais favorecida, desorganizam cadeias de valor e lançam a economia mundial em uma espiral perniciosa de preços altos e estagnação. É urgente refundar a OMC em bases modernas e flexíveis.

Guerra em Gaza
Lula afirmou em seu discurso que a guerra em Gaza deve ser caracterizada como um genocídio contra a população palestina. O presidente brasileiro defendeu o reconhecimento da Palestina como estado e criticou a cassação de vistos de membros da delegação palestina.

— Os atentados terroristas perpetrados pelo Hamas são indefensáveis sob qualquer ângulo, mas nada absolutamente nada justifica o genocídio em curso em Gaza — disse.

Lula afirmou que "é lamentável" que o presidente Mahmoud Abbas, líder da Autoridade Nacional Palestina, "tenha sido impedido pelo país anfitrião de ocupar a bancada da Palestina neste momento".

— O alastramento desse conflito para o Líbano, para a Síria e o Irã e o Catar fomenta uma escalada armamentista sem precedentes — afirmou.

Distinção entre crime organizado e terrorismo
Lula também se opôs novamente à proposta fomentada pelos Estados Unidos de classificar facções criminosas ligadas ao tráfico como organizações terroristas, o que traria aos países em que elas operam sanções econômicas.

— É preocupante a equiparação entre a criminalidade e o terrorismo. A forma mais eficaz combater o tráfico de drogas é a cooperação para a operação para reprimir a lavagem de dinheiro e limitar o comércio de armas — disse.

Meio ambiente e COP30
O presidente do Brasil também ressaltou a realização da Conferência do Clima em Belém, programada para novembro, e defendeu a criação de um conselho ligado à Assembleia Geral da ONU para monitorar o cumprimento das metas nacionais dos países para mitigar as mudanças climáticas.

— Bombas e armas nucleares não vão nos proteger da crise climática. O ano de 2024 foi o mais quente já registrado. A COP 30 em Belém, no Brasil, será a COP da verdade. Será o momento dos líderes mundiais pais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta — disse Lula.

Lula ressaltou que "é chegado o momento de passar da fase da negociação para a etapa da implementação". Defendeu a criação de um conselho vinculado à Assembleia Geral da ONU " com força e legitimidade para monitorar compromissos" dos países com medidas para mitigar a mudança climática.

 

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