Deputadas do PSOL acionam MPF contra Meta por "suposto bloqueio" de contas de esquerda
Empresa afirma que está "ciente de um problema técnico" e pediu "desculpas por qualquer inconveniente que isso possa ter causado"
As deputadas do PSOL Sâmia Bomfim (SP) e Fernanda Melchionna (RS) acionaram o Ministério Público Federal (MPF) contra a Meta, dona do Facebook, Whatsapp e Instagram, por "suposto bloqueio" de perfis de personalidades de esquerda entre terça (9) e quarta-feira (12).
A ação, que pede o início de uma investigação, ocorreu em conjunto com a Federação Nacional de Jornalistas e outras três entidades.
Segundo as parlamentares, o motivo da ação foi o chamado “shadowban” – ocultação de perfis – que "ocorreu de forma generalizada sobre contas associadas a lideranças de esquerda desde o momento em que o deputado Glauber Braga (PSOL-SP) ocupou a mesa do plenário da Câmara, na tarde de terça, até a manhã do dia seguinte".
"Com ampla repercussão, começa a circular nas redes sociais relatos de usuários das redes sociais Instagram e X que perfis de parlamentares do PSOL não estariam aparecendo no campo de busca de cada usuário — ao digitar o nome de usuário das referidas figuras, mesmo que por completo, a rede social não oferecia ao usuário a opção de acessar aquele determinado perfil", dizem as deputadas na ação.
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Entre os nomes de esquerda citados na ação estão parlamentares da sigla como Érika Hilton, Guilherme Boulos, Luiza Erundina, Ivan Valente, Pastor Henrique Vieira e Talíria Petrone, além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os requerentes também pedem ao MPF que questione a Meta sobre quais foram os parâmetros adotados para penalizar os perfis, qual política interna da serviu de fundamento para a moderação e se haverá alguma reparação destinada às páginas prejudicadas.
Atribuído pela empresa a uma instabilidade no sistema, o erro também impediu acesso a páginas de representantes da direita, como mostrou o Globo. O "sumiço" também teria afetado o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), além de veículos da imprensa.
Em nota, a Meta afirmou que está "ciente de um problema técnico ocorrido hoje mais cedo que afetou a capacidade das pessoas de buscar por contas no Instagram". "A questão já foi resolvida e pedimos desculpas por qualquer inconveniente que isso possa ter causado", afirmou o comunicado.
Reação da esquerda
O "sumiço" foi assunto de uma nota assinada pelo secretário de comunicação do PT, Éden Valadares, e publicada no site oficial do partido. No comunicado, a sigla manifestou "preocupação diante das denúncias de que diversos perfis de dirigentes, militantes e figuras públicas do campo progressista não estão sendo encontrados ou não aparecem nas buscas das plataformas digitais".
"O episódio só reforça a urgência de construirmos um caminho sólido para a soberania digital do país", diz o texto. O representante da sigla também criticou "algoritmos opacos, controlados por empresas cujos interesses privados frequentemente se alinham ao projeto da extrema-direita internacional".
O caso também foi criticado pelo perfil do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que afirmou que a empresa "está censurando a esquerda".
"Depois da vergonha de ontem na Câmara, que terminou reduzindo a pena dos golpistas, a Meta passou a esconder perfis de esquerda na busca do Instagram, inclusive o nosso", afirmou a organização em um post no X. A falha também foi comentada por personalidades como a ex-deputada federal Manuela D'Ávila, que publicou um vídeo em tom crítico à empresa em suas redes sociais. Na gravação, ela disse que também teve o perfil ocultado e classificou a falha como "um verdadeiro escândalo".
— É impossível nos identificar, nos marcar e nos marcar no Instagram. Isso é interferência direta nas eleições e no processo de luta democrática brasileira. A Meta já havia pressionado com outras empresas para que o Brasil não regule as redes — disse. — Essas empresas se relacionam, de maneira escancarada, com o governo americano e são aliados de primeira hora do presidente Donald Trump. Estamos presenciando um gesto de censura e tratamento desigual.

