Em meio à maior turbulência política do mandato, Tarcísio reduz postagens e entrevistas
Em contraste com meses anteriores, governador de São Paulo têm optado pelo silêncio nas redes sociais desde o tarifaço de Trump
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), reduziu as postagens em redes sociais e as entrevistas coletivas após a turbulência política desencadeada pelo tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em 9 de julho.
Nos 14 dias que se seguiram ao anúncio de Trump, o governador fez apenas sete postagens no Instagram, a rede que mais utiliza, destoando do período anterior — foram 22 publicações entre 1 e 8 de julho, média de 2,7 por dia. Em junho, tinha feito 72 postagens (média diária de 2,4). Nos seis primeiros meses do ano, Tarcísio manteve uma média de duas postagens a cada dia.
Possível nome do bolsonarismo para a disputa presidencial de 2026, Tarcísio sofreu críticas contundentes do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL) após sugerir saídas negociadas para a crise do tarifaço — para o clã do ex-presidente, a única solução deve ser a anistia a Jair Bolsonaro (PL) pela participação nos atos golpistas.
Na quarta (16), Eduardo anunciou uma reaproximação com o governador, mas a turbulência tem sido a principal crise política do mandato de Tarcísio. O desgaste foi agravado pela foto de Tarcísio com o boné de apoio ao presidente americano, publicada em janeiro.
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Segundo aliados, a postura mais discreta do governador após as críticas segue um cálculo político.
– Quanto menos ele falar agora, menos especulação haverá. Ele está mantendo sua rotina aqui no estado, sem se meter em política nacional. Já fez gestos ao empresariado paulista, mas o tema (do tarifaço) agora tem que ser com o governo federal – afirma um auxiliar próximo de Tarcísio.
Além da redução no número de postagens, Tarcísio também tem limitado as entrevistas coletivas. Na quinta-feira (17), após um evento em Embu (SP), os repórteres foram alocados na frente do palco e os assessores chegaram a organizar uma fila para as perguntas, mas depois de alguns minutos informaram que o governador não falaria com os jornalistas.
A última entrevista ocorreu no dia 12, em Cerquilho, perto de Sorocaba, no interior do estado. Na ocasião, o governador, que dias antes havia culpado o presidente Lula pelo tarifaço de Trump, mudou o tom e disse o momento requeria união de esforços.
– Acho que é um momento que demanda união de esforços, demanda sinergia, porque é algo complicado para o Brasil, é algo complicado para o segmento da nossa indústria, do nosso agronegócio. A gente precisa fazer uns dados agora para resolver, deixar a questão por este lado e tentar resolver essa questão – comentou Tarcísio.
O mesmo tom foi utilizado nesta segunda-feira (21), em Bebedouro (SP), quando Tarcísio respondeu a questionamentos da imprensa local sobre o tarifaço.
– Temos que buscar diálogo, temos que buscar pacificação, é necessário agora botar a bola no chão e entender o conceito geopolítico para buscar a melhor negociação. Uma negociação que nos alivie desse ônus que vai ser insuportável para determinados setores — afirmou o governador.
– Tarcísio sabe que está com um pé em cada canoa, a do bolsonarismo e a dos moderados. Esse equilíbrio é frágil. Ele sabe que, se pender para o lado da moderação, vai sofrer ataques dos radicais, como andou sofrendo. Sabemos que a família Bolsonaro não carrega feridos. Ele vai "jogar parado" até o assunto esfriar – diz o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Não é a primeira vez que Tarcísio evita a imprensa. Quando Bolsonaro estava em vias de ter a denúncia aceita pelo STF, no dia 25 de março, o governador atendeu a dezenas de prefeitos e representantes de municípios para fotos no palco do Memorial da América Latina, durante a entrega de um prêmio educacional, mas foi cercado por seguranças que bloquearam o acesso da imprensa o tempo todo.
O governador adotou novamente o silêncio quando pressionado a prometer um indulto a Bolsonaro em troca do apoio nas eleições de 2026. O assunto surgiu a partir de uma entrevista do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao jornal “Folha de S. Paulo”, em que o filho do ex-presidente sustenta que todo candidato de centro-direita deveria se comprometer com essa pauta.
Tarcísio foi à manifestação bolsonarista na Avenida Paulista, em São Paulo, que teve público abaixo do esperado, no dia 30 de junho. Ele deu enfoque a críticas ao PT no discurso, além de elogios ao governo Bolsonaro, sem abordar especificamente a conduta dos ministros do Supremo ou um indulto ao aliado. Na caminhada de um hotel próximo até o trio elétrico, não deu atenção a perguntas que eram feitas, assim como na saída, quando se aproximou das grades para tirar fotos com apoiadores.
No feriado de 9 de Julho, ainda sem dar uma resposta pública ao pedido, evitou qualquer discurso no desfile que celebrou a Revolução Constitucionalista no Obelisco do Parque Ibirapuera e saiu rapidamente de carro, protegido por assessores e destoando novamente do tempo dedicado a selfies e afagos ao público presente.
Procurado pela reportagem, o governador não quis comentar o assunto.

