Em recado ao Centrão, Lula diz que ministro que não defender governo pode pedir para sair
Em reunião ministerial, presidente também criticou Antônio Rueda e Ciro Nogueira
Em recado aos representantes do Centrão no governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a seus ministros na reunião desta terça-feira que quem não se sentisse à vontade para defender a gestão publicamente poderia pedir para sair, de acordo com aliados ouvidos pelo Globo.
Pela primeira vez, Lula também afirmou publicamente que espera ter como principal adversário na disputa pelo Palácio do Planalto no ano que vem o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e não um integrante da família Bolsonaro.
A avaliação na reunião ministerial ocorre um dia após o evento de aniversário do partido de Tarcísio. Na ocasião, o presidente da sigla, o deputado Marcos Pereira (SP), fez um aceno público à possibilidade de o governador paulista disputar o Planalto. Tarcísio, por sua vez, evitou citar a eleição, mas falou sobre "derrotar o improvável".
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Além disso, Lula citou o presidente do PP, Ciro Nogueira, oposicionista e apoiador de Jair Bolsonaro. Lula reclamou do que chamou de movimentação do dirigente partidário para ser candidato a vice de Tarcísio. Ao falar sobre o tema, o presidente também se queixou do presidente do União Brasil, Antonio Rueda, e disse aos ministros que não gosta dele.
Nesta terça, Lula disse que todos os ministros devem estar a par das entregas do governo como um todo, não apenas de suas áreas. O petista se queixou de que as legendas do Centrão fazem eventos em que as críticas ao governo são constantes e que os ministros desses partidos não fazem nenhuma fala pública de contraponto.
Essa situação ocorreu, por exemplo, na semana passada, quando União Brasil e PP fizeram um evento para marcar o lançamento da federação entre as duas legendas.
A fala de Lula ocorreu no final do encontro. De acordo com presentes, o presidente falou diretamente sobre a escalada que União Brasil e PP têm dado em direção a uma tentativa de desembarque dos cargos do governo. Lula disse na reunião que os ministros dessas siglas não eram escolha dos partidos, e sim do próprio presidente, mas quem quisesse sair do cargo, precisava falar.
Os ministros do Esporte, André Fufuca (PP), e do Turismo, Celso Sabino (União Brasil), estavam no encontro da semana passada, e o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), participou nesta segunda-feira do evento da sigla em que Marcos Pereira acenou a Tarcísio. Nas duas ocasiões, o governador de São Paulo esteve presente.
Publicamente, no entanto, Tarcísio tem evitado mencionar a possibilidade de disputar o Planalto e diz que seus planos são concorrer à reeleição em São Paulo.
Ministros ligados ao Centrão reconhecem que hoje a situação é delicada e parte do grupo diz que vai evitar a partir de agora participar dos eventos organizados e que teriam um claro teor de reforçar o discurso de oposição do governo. A ala do Centrão que tem cargos no governo, no entanto, descarta pedir desfiliação e dizem que vão apoiar Lula de qualquer maneira em 2026. O discurso é de que os partidos são grandes e diversos e já estão acostumados a terem membros que possuem posições diferentes.

