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Espião russo no Brasil: Fachin diz que extradição antecipada de agente secreto depende de Lula

Em março de 2023, o Supremo aprovou a entrega voluntária do espião à Rússia

Edson Fachin, ministro do Supremo Tribunal FederalEdson Fachin, ministro do Supremo Tribunal Federal - Foto: Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados

O ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin negou a entrega "antecipada" do espião russo Sergey Cherkasov ao seu país de origem, argumentando que ele ainda responde a inquéritos no Brasil por "possíveis atos de espionagem, lavagem de capitais e corrupção passiva". Esta foi a última decisão tomada por Fachin no processo que tramita na Corte sobre a sua extradição.

Nesta terça-feira, o New York Times publicou uma reportagem apontando a descoberta de pelo menos nove agentes russos que estavam operando em território nacional com identidades brasileiras, entre eles está Cherkasov, cujo caso foi revelado pelo Globo.

Na decisão tomada em dezembro de 2024, Fachin afirmou que não cabe ao Supremo decidir sobre a "liberação antecipada" do russo - o que, segundo a jurisprudência da Corte, seria de competência do presidente da República.

"Observo, nessa perspectiva, a diretriz assentada desta Suprema Corte segundo a qual é prerrogativa exclusiva do Presidente da República a competência para liberação antecipada do extraditando", escreveu o ministro do STF.

Em março de 2023, o Supremo aprovou a entrega voluntária do espião à Rússia depois que o mesmo concordou em ser extraditado para lá. Autoridades russas pediam a sua deportação sob a acusação de ele integrar uma organização criminosa envolvida com o tráfico internacional de drogas.

O STF, no entanto, decidiu que ele só deveria ser removido à Rússia após a conclusão das investigações que são conduzidas pela Polícia Federal - o que não aconteceu ainda. Os Estados Unidos também entraram com um pedido de extradição, mas a solicitação foi negada pelo governo brasileiro.

A defesa de Cherkasov também pediu que ele pudesse cumprir a prisão em regime domiciliar - o que foi indeferido pelo ministro Fachin sob a alegação de que ele não apresentou um endereço onde pretendia ficar. Ele foi condenado pela Justiça brasileira por uso de documento falso, mas continua sendo investigado por outros crimes relacionados à espionagem.

Em maio de 2023, o Globo revelou a história de Cherkasov, que se identificava como o estudante carioca Victor Müller Ferreira. Ele chegou a morar na Argentina e fez uma pós-graduação em uma universidade norte-americana. Em 2022, ele havia conseguido um emprego como estagiário no Tribunal Penal Internacional, em Haia, para atuar em casos envolvendo crimes de guerra.

Ao chegar a Amsterdã para iniciar o trabalho, foi impedido de passar pela imigração. Teve que voltar ao aeroporto de Guarulhos (SP), onde acabou sendo preso em 2 de abril de 2022 por uso de documentos falsos.

Na hora da detenção, Cherkasov teve de entregar o celular, pen-drives, HD e chips de memória. Esse material, analisado pelos investigadores, revelou indícios de que o suposto espião da GRU, inteligência militar russa, “possuía uma rede de apoio no Brasil”, que “depositava valores mensais em sua conta de forma fracionada e em espécie, visando à sua não identificação”. Desde então, Cherkasov segue preso no Brasil.

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