EUA ampliam sanções a autoridades brasileiras duas semanas após a condenação de Bolsonaro
Anúncios ocorreram na véspera do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral da ONU
Os Estados Unidos ampliaram nesta segunda-feira as sanções a autoridades brasileiras e familiares, duas semanas após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. Os anúncios ocorreram na véspera do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Assembleia Geral da ONU
O ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, teve o visto de entrada no país suspenso.
Segundo a agência de notícias Reuters, a medida alcançou também o ex-advogado-geral da União José Levi; o ministro do Superior Tribunal de Justiça Benedito Gonçalves; e atuais e ex-integrantes do gabinete do ministro Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e no Supremo Tribunal Federal ( STF), casos dos juizes Airton Vieira, Marco Antonio Martin Vargas e Rafael Henrique Janela Tamai Rocha.
Além disso, a advogada Viviane Barci de Moraes, esposa de Moraes, foi incluída na Lei Magnitsky. Uma empresa de Viviane e dos três filhos do casal também foi incluída. O anúncio foi feito pelo Departamento do Tesouro dos EUA.
"Alexandre de Moraes é responsável por uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias e processos politizados, inclusive contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. A ação de hoje deixa claro que o Tesouro continuará a mirar indivíduos que fornecem apoio material a Moraes enquanto ele abusa dos direitos humanos", disse o Secretário do Tesouro, Scott Bessent.
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O próprio Moraes foi incluído na Lei Magnitsky em julho, no mesmo dia em que Trump formalizou o tarifaço de 50% contra exportações brasileiras. Ele foi o primeiro brasileiro sancionado diretamente pela norma, que impõe restrições econômicas como o bloqueio de contas bancárias e de bens em solo americano.
A decisão do governo americano de ampliar as sanções para a família do ministro ocorre 10 dias após a Primeira Turma do STF condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos e três meses de prisão, por uma tentativa de golpe de Estado. Sete aliados de Bolsonaro também foram condenados.
Na semana passada, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, já havia adiantado que novas medidas seriam anunciadas em breve, como resposta à condenação. No governo americano, Rubio ocupa o cargo equivalente ao chefe da diplomacia.
O que é a lei Magnitsky?
A lei Magnitsky prevê uma série de sanções que, na prática, extrapolam as fronteiras dos Estados Unidos e que são decretadas sem necessidade de condenação em processo judicial. A rigor, é uma decisão do Poder Executivo, que pode ou não ser lastreada em informes de autoridades e organismos internacionais.
Sancionada pelo então presidente americano Barack Obama em 2012, a lei foi criada originalmente com o objetivo de punir os responsáveis pelo assassinato do advogado e militante russo Sergei Magnitsky, opositor de Vladimir Putin morto em uma prisão em Moscou em 2009.
Em 2016, o escopo da norma foi ampliado para permitir que o governo dos Estados Unidos possa sancionar pessoas pelo mundo que tenham desrespeitado os direitos humanos ou que sejam acusadas de corrupção. Não é necessário, porém, que haja condenação oficial para que as sanções sejam aplicadas.
O que fica bloqueado quando alguém é sancionado?
A lei inclui o banimento de entrada nos Estados Unidos e a proibição de negociar com empresas e cidadãos americanos. No caso de Moraes, o ministro já estava com o visto bloqueado por decisão anunciada pelo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, em 17 de julho.
Para além da proibição de entrada nos EUA, a principal sanção da Magnitsky é o bloqueio de bens de pessoas ou organizações que estejam nos Estados Unidos. Isso inclui desde contas bancárias e investimentos financeiros até imóveis. Os sancionados tampouco podem realizar operações que passem pelo sistema bancário dos Estados Unidos.
A lei leva também ao bloqueio de ativos dolarizados fora da jurisdição americana, além do bloqueio de cartões de crédito internacionais de bandeiras com sede no país, a exemplo de Visa, Mastercard e American Express, explica a advogada Vera Kanas, especializada em comércio internacional.
Há ainda a possibilidade da suspensão de contas em redes sociais e serviços de big techs com sede nos Estados Unidos, como Google, Microsoft, Apple e Meta. Isso inclui o bloqueio de acesso a serviços como Teams, Whatsapp, Gmail, Google Drive, YouTube e Google Pay, mesmo que utilizados no Brasil ou em outros países.

