Imprensa mundial repercute queda de sanções dos EUA contra Alexandre de Moraes; confira
Financial Times, AP, Reuters e Washington Post apontam gesto de desescalada após tarifas e pressão dos EUA sobre julgamento de Bolsonaro; Lula é creditado por articulação diplomática Agência
A retirada do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), da lista de sancionados pela Lei Magnitsky ganhou amplo destaque na imprensa internacional nesta sexta-feira (12) como um sinal do entre Washington e Brasília. A decisão do governo Donald Trump, publicada pelo Tesouro americano, também retirou das sanções a esposa do ministro, Viviane Barci de Moraes, e o Lex Instituto, empresa da família, e foi lida por veículos estrangeiros como parte de um movimento mais amplo de desescalada após meses de tensão diplomática.
O Financial Times classificou o gesto como “o mais recente movimento de Washington para reconstruir pontes com o Brasil”. O jornal britânico lembrou que Moraes foi o magistrado que supervisionou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe, e destacou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “rejeitou a pressão” dos EUA para interferir no processo, defendendo a independência do Judiciário.
O FT também citou a atuação do deputado Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos para tentar viabilizar sanções, observando que o parlamentar recebeu a notícia “com pesar”. A leitura de reaproximação foi ainda mais explícita na Associated Press (AP), que afirmou que a decisão “representa um descongelamento, em certa medida, na relação fria entre os dois governos”.
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A agência ressaltou que o recuo ocorreu após conversas telefônicas entre Trump e Lula e em meio ao alívio de tarifas impostas a produtos brasileiros — medidas inicialmente usadas como pressão política durante o julgamento de Bolsonaro. A AP também traçou paralelos entre o caso brasileiro e as acusações enfrentadas por Trump após a invasão do Capitólio em 2021.
Na mesma linha, a Reuters apontou que a reversão, menos de cinco meses após a imposição das sanções, evidencia o rápido aquecimento da relação entre Trump e Lula depois de um período de confronto. A agência lembrou que as punições haviam sido justificadas por acusações americanas de “uso do Judiciário como arma”, detenções arbitrárias e supressão da liberdade de expressão — alegações agora abandonadas com a retirada do nome de Moraes da lista. Segundo a Reuters, Lula afirmou ter pedido pessoalmente a Trump a revogação das sanções, sem oferecer contrapartidas.
O Washington Post, destacou o caráter de recuo (“climbdown”) da campanha de pressão do governo Trump no Brasil. O jornal informou que a decisão foi atribuída, em nota conjunta do Tesouro e do Departamento de Estado, à avaliação de que a manutenção das sanções seria “incompatível com os interesses da política externa dos EUA”.
A publicação também mencionou o apoio do governo americano à aprovação, pela Câmara dos Deputados, de um projeto de anistia que pode anular penas relacionadas aos atos antidemocráticos de 2023.
A Bloomberg relacionou diretamente o fim das sanções ao alívio tarifário concedido pelos EUA a exportações brasileiras, lembrando que Trump havia elevado taxas com o objetivo declarado de ajudar Bolsonaro a evitar o julgamento.
Para a agência, a retirada do nome de Moraes encerra um capítulo de pressão econômica e judicial que marcou a relação bilateral no segundo semestre. A Lei Magnitsky, criada em 2012 no governo Barack Obama, é um dos instrumentos mais severos dos EUA para punir estrangeiros acusados de violações de direitos humanos ou corrupção. As sanções contra Moraes haviam sido impostas em julho, no auge das pressões americanas sobre o julgamento de Bolsonaro, condenado em setembro a 27 anos e três meses de prisão.

