Motta: novo ministro do Turismo ajuda Lula no Congresso e admite altos e baixos com o governo
A gestão de Motta foi duramente criticada por integrantes do governo federal, que falam em desconfiança com a condução do parlamentar à frente da Casa
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou nesta sexta-feira (19) que a entrada do novo ministro do Turismo, Gustavo Feliciano, vai ajudar o governo Lula no Congresso, mas admitiu que a relação com o governo foi de altos e baixos durante o ano.
Ele ponderou que, apesar das discordâncias, sempre manteve diálogo e respeito com o presidente da República. O parlamentar reforçou que os Poderes devem ser independentes e fez a avaliação que a relação com o Planalto termina 2025 “estabilizada”.
A gestão de Motta foi duramente criticada por integrantes do governo federal, que falam em desconfiança com a condução do parlamentar à frente da Casa. Ao longo deste ano, Motta enfrentou uma sucessão de crises institucionais, com aliados reconhecendo que ele teve dificuldades de consolidar sua autoridade internamente, e que o colocaram sob pressão simultânea do Planalto, da oposição e do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em fala a jornalistas nesta sexta, Motta reconheceu que houve momentos de “altos e baixos” na relação com o Planalto, mas afirmou que, mesmo durante pontos de tensão, houve diálogo com setores do Executivo.
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"Não está escrito na Constituição que um Poder tem que concordar com o outro em 100% dos pontos. Tem que ter harmonia, diálogo e, na hora que for divergir, um Poder precisa compreender o outro. Nem eu preciso concordar ou apoiar tudo o que o Executivo faz e o inverso também é verdade", disse Motta.
Nesta semana, no entanto, numa sinalização de distensionamento com a Câmara e, sobretudo, com o presidente da Câmara, Lula indicou um nome alinhado ao grupo do parlamentar na Paraíba para comandar o Ministério do Turismo. O presidente da Casa foi um dos principais fiadores do novo ministro.
Motta, inclusive, participou de reunião com o presidente da República na quinta que oficializou a indicação de Gustavo Feliciano, filho do deputado Damião Feliciano (União Brasil-PB), para o lugar de Celso Sabino (União Brasil-PA).
O presidente da Câmara afirmou nesta sexta que deu “o testemunho favorável” sobre o futuro ministro ao petista e disse que a chegada dele poderá ajudar o Planalto na articulação política.
"Ele tem boa relação política e penso que vai ajudar o governo nessa interlocução com o partido. O presidente foi feliz na escolha e dei esse testemunho acerca dessa indicação", completou Motta.
Motta afirmou também que mantém relação de “profundo respeito e diálogo” com Lula e disse que tem mantido contato próximo ao presidente da República:
"Temos conversado muito. Existe os altos e baixos, as discordâncias, mas o respeito não se perdeu, mesmo quando existiu essa divergência".
Eleito com apoio quase que majoritário dos partidos, Motta teve que se equilibrar entre as demandas do PT e do PL ao longo deste ano, fazendo gestos de um lado a outro. Apesar disso, na avaliação de aliados dele, em momentos considerados chave de sua presidência, Motta atendeu mais a oposição. O deputado, no entanto, não tem interesse em tensionar a relação com Lula porque busca apoio do petista para eleger o seu pai, Nabor Wanderley, à uma vaga ao Senado no próximo ano.
Nesta sexta, o presidente da Câmara disse que enxerga o campo da esquerda unido em torno da candidatura de Lula à reeleição e a direita com um cenário de “indefinição”. E disse que é natural que, com a aproximação das eleições, o dia a dia da Casa seja afetado pela disputa.
“O cenário nacional interfere não só nas movimentações dos partidos, como na dos parlamentares. Hoje, tem o campo da esquerda organizado em torno do presidente Lula. Tem discussão sobre vice, se mantém chapa ou não. Ele está montando o tabuleiro em cada estado. E a direita, diante do julgamento do ex-presidente Bolsonaro e das recentes decisões, ainda está sem um cenário definido sobre quem vai disputar essa eleição”, disse.
Ele afirma que o trabalho do presidente da Câmara deverá ser o de “proteger” a agenda de votações e discussões em plenário para que ela “não seja contaminada única e exclusivamente pelo debate eleitoral.”
Motta também disse que cada parlamentar, no momento adequado, fará sua opção eleitoral e disse que, enquanto presidente da Câmara, avalia ser melhor não tratar de sua opção pessoal para conseguir conduzir o plenário com “mais imparcialidade”.
"Se anuncio aqui apoio a A ou a B, tudo o que eu fizer a partir de aqui vai ser porque estou a favor de A e contra B. Tenho que ter esse equilíbrio e buscar atuar respeitando as lideranças partidárias"
Motta foi questionado se há condições políticas para garantir ao PT a indicação da próxima vaga ao Tribunal de Contas da União (TCU) --uma promessa feita por ele durante sua campanha à presidência da Câmara. De acordo com o parlamentar, haverá o convencimento junto aos líderes e aos parlamentares para honrar o compromisso político e caberá às lideranças avaliarem o melhor momento político para tratar do assunto.
Uma das queixas recorrentes dos deputados é sobre a execução pelo governo federal das emendas parlamentares. Motta afirmou que há um compromisso do Planalto de executar esses recursos até o dia 31 de dezembro e disse que o fluxo desse processo “está andando bem”, citando um esforço pessoal da ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais.

