Nunes defende vice de Tarcísio como candidato ao governo de SP
Prefeito da capital vinha se movimentando para disputa estadual caso o governador concorra ao Planalto, mas aliados falam em 'risco' para a cidade caso ele deixe administração municipal para vice bolsonarista
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), defendeu pela primeira vez na noite de segunda-feira que o vice-governador Felício Ramuth (PSD) dispute o governo estadual caso Tarcísio de Freitas (Republicanos) decida concorrer à presidência da República, numa clara mudança de estratégia em relação ao que vinha adotando nos últimos meses.
Nunes vinha se movimentando para tentar o Palácio dos Bandeirantes em 2026 em um cenário de Tarcísio presidenciável, mas o fator Mello Araújo (PL), vice-prefeito da capital, tem pesado cada vez mais.
Nesta segunda, Nunes foi enfático ao dizer que ficará na prefeitura até o fim do mandato, em 2029. De acordo com algumas fontes, foi uma espécie de “recado” para Mello, de que ele não vai assumir a cidade de São Paulo em 2026 e nem terá respaldo para concorrer ao Senado, outra hipótese que vinha sendo cogitada nos bastidores.
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— Vou me empenhar na campanha do Tarcísio, seja para governador, que é o que ele tem colocado, seja para presidente. Mesmo com o Tarcísio em Brasília, eu posso ir para Brasília com ele, talvez em 2029, se ele me convidar. Acho que a tendência natural é o Felício Ramuth (para concorrer ao governo estadual). Evidentemente, vai ter que sentar com todos os partidos, vai ter que dialogar com todo mundo, ano passado a gente deu uma experiência bastante importante de que é possível fazer uma grande construção — falou Nunes antes de evento do Grupo Voto, em São Paulo.
De acordo com aliados ouvidos pelo Globo, por trás disso está o fato de que Mello tem virado um “risco” para Nunes, pois a avaliação é que, passado quase um ano após a posse, o vice ainda não teria se adaptado à gestão e não tem conseguido dialogar internamente com os outros integrantes da administração municipal. A relação com parlamentares da base também é alvo de críticas.
A postura pública do vice-prefeito também tem incomodado, principalmente as críticas recentes que ele fez a Tarcísio sobre as ações na Cracolândia causaram e as falas sobre supostas irregularidades na administração municipal. Nas redes sociais, Mello usa boa parte de suas publicações para defender o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que lhe indicou ao cargo de vice na chapa de Nunes, e pouco trata sobre a gestão municipal.
A prisão de Bolsonaro, na avaliação de integrantes dos governos estadual e municipal, pressiona para a definição do xadrez eleitoral em São Paulo. Uma eventual saída de Tarcísio, tido como o nome mais forte para concorrer ao Planalto como representante da direita, abre a corrida para o governo paulista, que até agora conta com ao menos três postulantes: além de Nunes e Ramuth, o deputado estadual André do Prado (PL).
Há meses, Nunes vinha se movimentando nos bastidores visando à candidatura estadual, plano que foi impulsionado após uma reeleição bem-sucedida na capital, com apoio amplo de partidos da direita e da centro-direita, inclusive de bolsonaristas, e pela boa relação que cultiva com Tarcísio.
Mas nas últimas semanas a situação mudou. Uma fonte próxima ao prefeito diz que, apesar de ter vontade de disputar o cargo, “não há uma obsessão” pela ideia, e que seria “um risco” ele deixar a administração com o vice porque existe um plano de governo para a cidade que poderia não ser seguido nesse cenário.
Outro correligionário aponta que a relação do vice com secretários e com parlamentares nunca foi boa, mas que as críticas públicas e recentes ao governador e que respingaram na própria gestão — Mello disse que houve irregularidades em contratos firmados pela própria gestão atual com entidades de acolhimento de dependentes químicos — tornaram a situação “insustentável”.
Caso Nunes decida concorrer ao governo estadual, precisaria deixar a prefeitura de São Paulo no início de abril de 2026, menos de um ano e meio após começar o segundo mandato. Antes da prefeitura, Mello havia sido policial militar e presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), mas nunca havia ocupado um cargo político.
Na tarde desta terça (25), o presidente da Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), André do Prado (PL), outro cotado para suceder Tarcísio caso ele opte pela eleição nacional, acredita que as palavras de Nunes são para valer. Ele evitou, contudo, cravar que seria por conta do vice Mello, e sim pelo “compromisso com a cidade de São Paulo”.
— O prefeito tem um planejamento estratégico traçado com a população, em parceria com o governador Tarcísio, de implantar essas políticas públicas. Então, é muito difícil uma renúncia. Ele tem condição de fazer um excelente governo e finalizar oito anos de mandato, de ser um expoente na política estadual e nacional. Na minha opinião, além dessa questão do vice que está sendo colocada, eu acho que está mais impactando para ele, realmente, é o compromisso que ele tem com a cidade.
Ele também ressaltou que nem sempre esse abandono do posto é bem visto pelo eleitorado, mencionando o caso de João Doria, que deixou a prefeitura apenas 15 meses após ter sido eleito prefeito para disputar o Palácio dos Bandeirantes.
— Acredito que há uma grande chance de ele não ser candidato. Uma renúncia, muitas vezes, não é compreendida pela população. Então, entendo que ele vai se manter no cargo para finalizar o mandato dele, com uma aprovação altíssima, entregando tudo aquilo que ele se propôs durante o período eleitoral — disse Prado.
Mesmo com Bolsonaro preso, entretanto, o discurso oficial de Tarcísio permanece o mesmo: o governador garante que é candidato à reeleição em São Paulo e descarta qualquer pretensão ao governo federal. Mas uma decisão precisará ser tomada nos próximos meses, já que o governador precisaria deixar o cargo no início de abril caso deseje concorrer ao Planalto.

