PF diz que Abin paralela usou drones da instituição e ''câmeras instaladas em toda a Esplanada''
Informações constam em relatório final da Polícia Federal sobre o funcionamento da estrutura clandestina da agência
A Polícia Federal apontou que a estrutura da "Abin paralela" foi utilizada para impulsionar manifestações contra as urnas eletrônicas e de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo o relatório, houve "desvio de recursos humanos, financeiros e tecnológicos" da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para "fins estritamente políticos".
A PF cita como exemplo drones da Abin utilizados em um ato pelo voto impresso no Ceará, em 2021. Segundo os investigadores, os aparelhos foram utilizados no "acompanhamento de manifestações públicas para fins de pautas pessoais e ideologicamente direcionadas".
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Um dos ex-agentes da Abin relatou, em depoimento, que o então diretor-geral da Abin e hoje deputado federal, Alexandre Ramagem (PL-RJ), usava as imagens geradas por drones em publicações nas suas redes sociais. O material exibia motociatas e manifestações de apoio a Bolsonaro.
"O ataque ao sistema eleitoral, também, contou com o produto da estrutura paralela, por exemplo, no uso de imagens de drones para fins políticos partidários por exemplo para defesa do voto impresso. Não somente de drones, mas, também, de câmeras instaladas em todos os ministérios", diz o relatório final da PF.
Em depoimento, um agente afirmou que as imagens eram produzidas originalmente para "consumo interno" e a "segurança do presidente". Segundo esse servidor, a prática de Ramagem causava "desconforto na equipe responsável". "O pessoal ficava chateado porque o trabalho estava sendo utilizado para uso pessoal", disse ele.
Além dos drones, a PF afirma que foram instaladas câmeras "exclusivas" da Abin em "toda a Esplanada" durante a gestão de Ramagem.
"Os drones não eram os únicos meios técnicos para geração de imagens para fins de propaganda política, posto que, também, estavam disponíveis câmeras em toda esplanada por meio de convênio com a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial)", acrescenta o relatório.
Um dos 36 indiciados no inquérito, Ramagem classificou as conclusões da PF como "narrativas".
"O início da tal 'Abin paralela' surgiu com um sistema first mile. Descobriram que foi minha gestão a exigir controle, apurar utilização, exonerar o diretor responsável e encaminhar à corregedoria, com farta documentação. A investigação da PF descambou. Revelou-se apenas criatividade endereçada à imprensa; vontade da Abin de não ter controle; uma PF desestruturando a inteligência de estado; e, ao final, rixa política interna contra a administração do Lula na Abin", escreveu ele na rede social X.

