Sex, 05 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
Senado

Prazo curto imposto por Alcolumbre eleva pressão sobre governo para aprovar Messias no STF

Sabatina marcada para 10 de dezembro reduz margem de articulação do Planalto e dificulta mobilização por votos em meio ao clima de tensão com o presidente do Senado

 Alcolumbre encurtou de forma decisiva o tempo disponível para o Planalto construir apoio e consolidar os votos necessários à aprovação do advogado-geral da União Alcolumbre encurtou de forma decisiva o tempo disponível para o Planalto construir apoio e consolidar os votos necessários à aprovação do advogado-geral da União - Foto: Andressa Anholete/Agência Senado

A decisão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), de marcar para 10 de dezembro a sabatina e a votação da indicação de Jorge Messias ao Supremo Tribunal Federal aumentou significativamente o desafio do governo para aprovar o nome escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A avaliação entre líderes da Casa é que o calendário definido por Alcolumbre encurtou de forma decisiva o tempo disponível para o Planalto construir apoio e consolidar os votos necessários à aprovação do advogado-geral da União.

Para caciques do Senado, a decisão de Alcolumbre de marcar o quanto antes a sabatina e não seguir a sugestão do governo, de deixar para o ano que vem, foi o mesmo que ele “chamar para briga”.

Até a definição da data, a expectativa entre articuladores do governo era que Messias teria algumas semanas para percorrer gabinetes, conversar com cada parlamentar e estabelecer pontes com lideranças — processo considerado indispensável diante da resistência inicial provocada pela forma como Lula conduziu a indicação.

Agora, com apenas nove dias entre a leitura da mensagem presidencial, marcada para 3 de dezembro, e a sabatina, o Planalto vê uma janela estreita para organizar essa operação política, que precisará ocorrer simultaneamente às negociações da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e às discussões preliminares do Orçamento de 2026.

Acontece também após a conclusão do julgamento e condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e os demais condenados na trama golpista, o que inflamou a oposição e vê nessa votação uma oportunidade de desmoralizar o governo.

A movimentação ocorre ainda em meio à deterioração do ambiente entre o governo e Alcolumbre, cujo descontentamento com a escolha de Messias tornou-se explícito. O senador defendia o nome de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a vaga e se irritou com o fato de não ter sido informado previamente da decisão do Planalto.

Desde então, Messias tenta contato com o presidente do Senado, sem sucesso, e optou por divulgar uma carta pública em que se coloca à disposição para o escrutínio constitucional e destaca sua trajetória profissional construída dentro do próprio Senado.

Nos últimos dias, Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado, admitiu que o clima segue “de tensão muito grande” e avaliou que não há tempo suficiente para votar a indicação ainda em 2025. Wagner destacou que, diante da controvérsia criada pela indicação, Messias precisará conversar com os 81 senadores, além de dialogar diretamente com Alcolumbre e com o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Otto Alencar (PSD-BA). O senador observou que, com o Congresso concentrado na LDO, a aprovação neste ano se tornava pouco provável.

A recondução de Paulo Gonet para a Procuradoria-Geral da República, aprovada com margem estreita no mês passado, já havia demonstrado a fragilidade da base no Senado e reforçado a leitura de que a Casa está menos disposta a atender automaticamente aos interesses do Planalto.

Governistas afirmam que terão de escalar Lula para atuar pessoalmente na articulação, sobretudo junto a senadores de centro e aos que ficaram contrariados por não terem sido previamente consultados sobre a escolha de Messias. O indicado, por sua vez, planeja intensificar as conversas individuais, estratégia que exige tempo — justamente o recurso que o novo calendário tornou mais escasso.

Veja também

Newsletter