PSD mira vice de Zema como 'plano B' em MG e irrita aliados de Pacheco e Lula
Na semana passada, Mateus Simões expôs a articulação ao afirmar que vai procurar o presidente do PSD, Gilberto Kassab, caso Pacheco deixe a legenda
Enquanto a candidatura do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ao governo de Minas Gerais em 2026 segue indefinida, cresceu dentro do PSD a movimentação para atrair ao partido o vice-governador do estado, Mateus Simões (Novo), visto como um “plano B”.
A articulação, que tem a anuência de lideranças locais, como o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia), provocou desconforto entre aliados de Pacheco e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na semana passada, Simões expôs a articulação ao afirmar que vai procurar o presidente do PSD, Gilberto Kassab, caso Pacheco deixe a legenda. Embora uma saída agora seja tratada como improvável, o senador já recebeu convites de PSB, MDB e União Brasil e deu mostras de incômodo com a aproximação do PSD com um adversário político. De acordo com relatos, ele se queixou a aliados por o partido estar com “um pé em cada canoa”.
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Simões se reuniu há duas semanas com Silveira em Brasília, em encontro articulado por Cássio Soares, presidente do PSD mineiro. Oficialmente, a pauta foi a implantação de um gasoduto no Sul de Minas. Nos bastidores, no entanto, a reunião foi lida como gesto político ao vice-governador, nome do governador Romeu Zema (Novo) para a sucessão e potencial adversário do senador em 2026.
O ministro foi criticado internamente por ter recebido Simões dias após um evento de Lula em Minas Gerais, quando Pacheco foi chamado de “futuro governador”. O ex-presidente do Senado e o ministro não se manifestaram.
Na ocasião, Lula fez ataques a Zema, enquanto Pacheco falou sobre “reconstruir o estado” e “superar o negacionismo”, críticas indiretas ao governo mineiro, em discurso lido como um sinal de que pretende entrar na disputa.
Busca por espaço
Simões tem baixo reconhecimento do eleitorado: aparece com 4% das intenções de voto, segundo a pesquisa Quaest mais recente, de fevereiro. Apesar disso, tem o apoio de parte da máquina estadual e comanda, na prática, a articulação política do governo.
A filiação ao PSD é vista como forma de ampliar seu espaço na disputa, especialmente pelo tempo de TV. A aposta dos articuladores é repetir a estratégia da eleição de Fuad Noman à prefeitura de Belo Horizonte, vitoriosa mesmo após largada em desvantagem.
Cássio Soares, que lidera a maior bancada da Assembleia entre os aliados de Zema, é um dos entusiastas da chegada de Simões ao PSD. Apesar de, nas últimas eleições, o partido não ter fechado com o governo, há pressão para que, em 2026, a aliança se concretize.
— Tenho ótima relação com Rodrigo (Pacheco), mas ele sendo candidato ao governo fica mais difícil. Creio que seja possível (a aproximação com o PSD) desde que ele saia do partido — disse Simões.
Apesar de manter, publicamente, o discurso de alinhamento com Lula, Silveira tem sido cobrado por lideranças do PT. A relação com Pacheco, a quem já assessorou no Senado, também se deteriorou. Em uma viagem oficial ao Japão, em março, ambos estiveram no avião presidencial, mas mal se falaram durante o trajeto.
A ambiguidade do PSD mineiro reflete a postura do próprio Kassab no cenário nacional. Embora o partido ocupe três ministérios de Lula, o dirigente tem se afastado do Planalto e já declarou interesse na candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à Presidência. Atualmente, Kassab é secretário do governo paulista e chegou a ceder espaço da propaganda partidária ao aliado.
No mesmo compasso ambíguo, Simões recebeu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em Belo Horizonte nesta semana. No evento, subiu o tom contra o Planalto e afirmou que Lula deveria ser extirpado da política. Em um gesto que foi lido por aliados de Pacheco como uma tentativa de minimizar a aproximação, Silveira chamou o encontro de “inadequado”.
Aliado de Pacheco e vice-líder do bloco de oposição a Zema na Assembleia Legislativa de Minas, o deputado Professor Cleiton (PV) afirmou que não há condições de apoiar Simões:
— Principalmente depois de ter posado com Bolsonaro.

