Sabatina a Messias: cancelamento dá respiro ao governo para reorganizar relações no Senado
A decisão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), de cancelar a sabatina de Jorge Messias, indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF), deu tempo ao Palácio do Planalto para tentar reorganizar sua relação com a Casa, segundo governistas.
A inquirição do indicado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava marcada para o dia 10 de dezembro, mas foi postergada porque o Executivo segurou o envio de mensagem presidencial com o nome do advogado-geral da União.
Sem o documento, a Casa não pode sabatinar, aprovar ou rejeitar o nome ao STF.
O líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), avaliou que o novo cenário reduz tensões e reabre canais de conversa:
— Quanto mais tempo houver até a sabatina, mais espaço se abre para diálogo e construção de consensos entre os senadores — disse o parlamentar: — Se a mensagem não chegou, não tinha como manter a sabatina. A política é cíclica. Ninguém fica brigado a vida inteira.
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O anúncio do adiamento ocorreu enquanto Messias estava no gabinete do senador Omar Aziz (PSD-AM), aliado do governo. Segundo Aziz, o AGU acompanhou em silêncio a leitura que mudaria o rumo da articulação:
— Messias veio aqui, apresentou o currículo dele. E, enquanto ele estava aqui comigo, o presidente Davi Alcolumbre acabou de anunciar que a data não seria mais aquela; que ia esperar.
Ele contou que a decisão já havia sido comunicada reservadamente pelo presidente do Senado
— O adiamento dá a ele mais tempo para conversar com todos os senadores. A gente ficou de voltar a conversar depois. A mensagem ainda não chegou, então agora ele tem tempo para fazer essas conversas.
Ao presenciar a leitura ao lado de Messias, Aziz relatou que o indicado não reagiu, ficando "quieto" e sem "falar nada".
Minutos após o anúncio, Jaques Wagner se reuniu a portas fechadas com o relator da indicação, senador Weverton Rocha (PDT-MA).
A ausência da mensagem presidencial — segurada pelo Planalto na tentativa de ganhar votos — poderia gerar questionamentos regimentais caso a sabatina fosse realizada.
Para aliados, a decisão funcionou como um “freio técnico” com efeito político: reduziu o risco de derrota e deu ao governo a chance de reconstruir diálogo. Persistem, porém, resistências na Casa, especialmente entre senadores que preferiam o nome do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), preterido por Lula.
Messias segue em maratona de visitas. Nesta quarta-feira, reuniu-se com Mecias de Jesus (Republicanos-RR), Oriovisto Guimarães (PSDB-PR) e o próprio Omar Aziz. Um encontro com senadores do PL e do Novo foi suspenso e só deve ocorrer após o envio da mensagem formalizando a indicação.
Com o novo calendário, o Planalto ganha dias decisivos para tentar consolidar votos e evitar que a indicação entre na CCJ sob risco de revés.

