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Sicília com outro sabor

Paisagem da Sicília, na ItáliaPaisagem da Sicília, na Itália - Freepik/Reprodução

Estive lá pela primeira vez no 2º semestre de 2007, motivando um artigo aqui no Sabores, intitulado “Mapa do Vinho: Sicília”. Você não leu? Estou triste! Ou não lembra? Então vamos reavivar sua memória. 
A Sicília tem uma longa e riquíssima história, desempenhando um papel de grande destaque em vários impérios da antiguidade. A vitivinicultura, ali, presente nessa evolução. Ainda hoje é a maior região vinícola da Itália. Vestígios arqueológicos mostram que a videira já era cultivada na Sicília desde a Idade do Bronze, anterior a 1.000 a.C. Fenícios, no século IX a.C., se instalaram no oeste da ilha e introduziram técnicas de vinificação avançadas, usando o vinho como produto de seu comércio marítimo. No século VIII a.C. os gregos colonizaram as costas leste e sul, região que se tornou conhecida como Magna Grécia. Eles foram os grandes responsáveis pela expansão e valorização da viticultura na Sicília. Fundaram cidades como Siracusa, Agrigento e Naxos, plantaram vinhas em grande escala e trouxeram práticas de poda, seleção de castas e fermentação. Após longos conflitos entre Grécia e Cartago, no século III a.C. se instala na ilha o onipotente império Romano, que mantém a valorização do vinho siciliano. O clima quente e o solo vulcânico do Etna geravam vinhos potentes e duradouros, ideais para o transporte até Roma. O vinho de Mamertino, produzido perto de Messina, era celebrado por César em banquetes. Depois a história segue e a Sicília passa pela dominação de vários povos, entre eles os Vândalos, que trouxeram devastação e declínio. Eita, se Xandão sabe disso, inclui os sicilianos na “trama golpista de 8 de janeiro”. Cala-te boca, Murilo. Tu terminas na Papuda! Ao longo dos séculos, foi dominada por Ostrogodos, Bizantinos, Árabes, Normandos. Germanos (Suábios), Impérios de Anjou, de Aragão, pelos espanhóis, piemonteses, Habsburgos e até Napoleão. Isso deixando de lado breves ocupações. Ufa! Mas, ressalve-se, deixaram vasta riqueza arquitetônica. Depois de passar brevemente pelas mãos de nosso Giuseppe Garibaldi, foi incorporada à unificação italiana de 1861. Que lhe trouxe pobreza e consequente dominação pela máfia. Qualquer semelhança com o Brasil, leitor, é mera coincidência. Visto que por aqui a máfia fica nos palácios do planalto e lá, nos pequenos vilarejos, como a charmosa Savoca (do filme O Poderoso Chefão), que visitamos dias atrás.
Falei tanto de história que quase esqueci o vinho. Que acompanhou o declínio da Sicília no século passado, privilegiando quantidade em vez de qualidade. Depois de boas intervenções do governo local, houve substancial melhoria e o vinho siciliano vem reconquistando espaço da enologia mundial. Vou destacar uma antiga vinícola que visitamos, a Benanti, na encosta do Etna (que graças a Deus estava quietinho!). Fundada em 1734, produz espumantes, brancos, rosados e tintos de alta qualidade, que merecem ser degustados. Como merece uma visita (quiçá com almoço incluído) à sua linda e bem estruturada Tenuta Monte Serra.
Restando dizer que revisitei agora a Sicília por um motivo especialíssimo: comemorar em “petit comitê” familiar o aniversário de 50 anos de Rafael. Meu Deus, filho com cinquentinha! O peso da velhice é uma realidade. Mas contará a bela Sicília com mais uma ocupação - ainda que bem breve - na sua rica história, a dos Guimarães. Pacífica e amorosa. Indimenticabile! Tim, tim, brinde à vida.

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