Sex, 05 de Dezembro

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Baco & Cia.

Vinho e arte: Poesia

"O Violinista Feliz com um Copo de Vinho", pintura de Gerard van Honthorst, de 1864"O Violinista Feliz com um Copo de Vinho", pintura de Gerard van Honthorst, de 1864 - Reprodução

Já pensou se, no lugar desse título, estivesse escrito “vinho e veneno”? Que troca, hein? Pois é, quase foi assim. Visto que esses dias circulou notícia sobre contaminação de 90% dos vinhos franceses por pesticidas. De pronto uma amiga “sustentável” me enviou a esparrenta matéria e sugeriu que eu escrevesse sobre o tema. Concordei! Depois pensei melhor e decidi deixar pra outra hora. Já basta a forte campanha contra essa bebida de Jesus, a cargo de alguns pseudocientistas mal-amados. Fui no caminho inverso e me inspirei em ótima postagem no Instagram “roge”, do Rogério Felicio. Não conhece? Recomendo vivamente que o siga. O texto falava da relação do célebre poeta francês Charles Baudelaire (século XIX) e o vinho. Como escreveu o Rogerio, “poucos escritores souberam traduzir em palavras a embriaguez da vida como Baudelaire. Poeta dos excessos e observador implacável da condição humana, ele via no vinho não apenas uma bebida, mas um estado de espírito, um convite à expansão dos espíritos, à fuga da monotonia e ao encontro com a própria alma”. Análise muito precisa. Seu poema “A alma do vinho” (Les Fleurs du Mal, 1857), que inicia com “Uma noite, a alma do vinho cantou nas garrafas”, é uma densa visão da natureza humana, que ele comenta através desta bebida. Em outro poema, sugere: “Para não ser o escravo martirizado do tempo, embriague-se... mas com quê? Com vinho, com poesia ou com virtude, como quiser”. Marcante, não é, leitor? E não apenas de Baudelaire vive a arte literária enofílica. Desde a antiguidade, grega e romana. Horácio dizia: “O vinho é a alma da poesia”. Nos tempos modernos, Fernando Pessoa, Pablo Neruda, Vinicius de Moraes, entre tantos outros, cantam o vinho em verso e prosa. Veja alguns exemplos.
“O vinho é o pensamento da terra cantando para o céu”, Mario Quintana.
“A lágrima que bebo por não ter-te”, Soneto do Vinho, Vinícius de Moraes.
“O vinho melhora com a idade; eu melhoro com o vinho”, Anônimo.
“Um bom vinho é poesia engarrafada”, Robert Stevenson. 
"O vinho alegra o coração do homem e a alegria é a mãe de todas as virtudes."  Johann Wolfgang von Goethe.
"O vinho é uma das maiores coisas que Deus criou, pois alegra o coração do homem.", William Shakespeare.
“Um jantar sem vinho é com uma valsa sem música”, Salvador Dali. Dali, aliás, que publicou uma bela e rara obra, “Os vinhos de Gala”, referência a Elena Gala, sua esposa e musa inspiradora. Vamos atrás desse livro, leitor?
Pois é amigo, não apenas Baco era apaixonado pelo vinho. É uma bebida intimamente ligada aos artistas e suas artes – literária, plástica, musical... Espero mostrar isso a você nas próximas colunas.
Ah, quanto à contaminação de pesticida nos vinhos franceses, se você souber de um bem contaminado, avise. Tem umas pessoas no Brasil precisando recebê-lo de presente. Deus me perdoe, por favor! Por hoje, lendo um poema de Baudelaire, tim, tim, brinde à vida. 
 

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