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A construção social da memória de Miguel Arraes

Ex-governador Miguel Arraes durante discurso na AlepeEx-governador Miguel Arraes durante discurso na Alepe - Instituto Miguel Arraes/Divulgação
Por Alex Ribeiro
Do Blog da Folha


Em um momento em que líderes da esquerda estão sendo alvo de aversão no País, a figura do ex-governador Miguel Arraes, que completaria 100 anos nesta quinta-feira (15), aparentemente teve sua imagem desviada dos eternos críticos das redes sociais.

Antes mesmo de se tornar o “ícone” ou “pai arraia”, e também anterior ao Golpe Militar em 1964, quando foi um dos governadores mais prestigiados no País, o discurso do líder do Partido Socialista Brasileiro era em prol dos pobres e com uma sociedade mais justa e igualitária.

O discurso de sua posse ao Governo do Estado, em 1963, externava a sua veia populista, quando, por exemplo, prometeu dar casas ao povo e resolver “os problemas dos mocambos”, ainda tão comuns na Região Metropolitana do Recife. Era a “revolução brasileira”, dita por Arraes como a época da mudança, da transformação.

As suas atitudes incomodavam os norte-americanos, como no episódio relatado pelo jornalista Vandeck Santiago, no livro Pernambuco em Chamas, no qual Arraes cancelou todos os convênios existentes entre Estados Unidos e Pernambuco, logo depois que assumiu o Governo, após saber da intenção dos norte-americanos de realizar acordos com Estados que faziam oposição a João Goulart.

Ele acabou sendo um dos alvos principais dos militares. Sendo um dos primeiros governadores a ser retirado do poder após o golpe e se tornou um ícone.

Após a sua volta do exílio na Argélia, em 1979, a sua figura foi ainda mais exaltada. Tanto é que, na campanha para o Governo do Estado, em 1986, artistas como cordelistas e repentistas, enalteceram Arraes. Nesse período, o uso da iconografia, relatado por Elizabeth Remigio em sua obra As brigadas muralistas e as campanhas de Arraes, foi uma marca forte nas campanhas ao ex-gestor. Cantores de renome nacional se engajaram também naquela campanha.

A história recente do Brasil comprova que a figura de Arraes foi pouco desconstruída. A construção de sua figura ocorreu muito por conta do discurso feito em prol de sua imagem, principalmente em Pernambuco.

A narrativa apresentada por aqueles que seguem o seu legado também contribui para diminuir os julgamentos e as críticas ao perfil socialista do ex governador.

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