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A negação do “outro”: Ditadura e tempo presente

Cientista político Alex RibeiroCientista político Alex Ribeiro - Pedro Farias
Por Alex Ribeiro. Doutorando em História pela Universidade Federal da Bahia, cientista político e jornalista.

A revista IstoÉ em janeiro de 2010 deu voz para o menino que sofreu com a repressão ditatorial brasileira de 1964. Ele relatou que nunca conseguiu superar os traumas da Ditadura. Carlos Alexandre tinha em 1974 um ano e oito meses de idade e foi levado da sua casa por agentes que estavam a serviço do regime para ser levado ao Departamento Estadual de Ordem Politica e Social (DEOPS). Em fevereiro de 2013 ele cometeu suicídio.

“Numa manhã de fevereiro de 1974, meu filho Cacá, de um ano e sete meses, foi preso em nossa casa, que ficava no bairro do Brooklin, em São Paulo.” “Ele lutou muito para poder conseguir se inserir na sociedade, mas não conseguiu” “Cadê a sua mãe? Sua mãe não está aqui nem pra te alimentar”. O menino começou a chorar de fome. Então os policiais deram um tapa muito forte que cortou a boca da criança. Meu filho”, contou a sua mãe, Darcy Andozia, em depoimento à Comissão da Verdade de São Paulo.

A morte de Carlos trouxe a conhecimento público a forma que a truculência e a tortura instituída pelo Regime Militar atingiu também as crianças. De acordo com a Comissão da Verdade de São Paulo, 44 pessoas prestaram depoimentos sobre os traumas que algumas destes então menores de idade desenvolveram no período.

Além do caso de Carlos, podemos citar mais dois: O professor de Filosofia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Edson Luís de Almeida Teles, nasceu em 15 de junho de 1968. É Filho de Maria Amélia de Almeida Teles e César Augusto Teles. A cena mais marcante foi o contato com a sua mãe. Ela o chamou e ele reconheceu apenas a sua voz. O seu rosto estava desfigurado. Edson perguntou: “Quem é essa pessoa que tem a voz da mamãe?”.

Outro caso é da pesquisadora do programa de pós-doutorado do Departamento de
História da USP, Janaína de Almeida Teles, nascida em 11 de fevereiro de 1967 e filha de Maria Amélia de Almeida Teles e César Augusto Teles. “Fui perguntar alguma coisa para o soldado e ele respondeu ‘cala a boca, comunista’. Falavam ela que o pai estava em um hospital: “O papai ta bem doente mesmo, mas aqui não tem ninguém de branco, como que é um hospital?”

Os relatos elencados fazem parte de uma série de fatos sobre o período ditatorial
brasileiro. Nesses casos investigados pelas diversas Comissões da Verdade que surgiram no País nos últimos anos uma característica é peculiar: a tortura. Ao contrário de debates anteriores sobre movimentos de resistências ao Regime
Militar, a tortura escancara o quanto os métodos utilizados nos “porões da Ditadura” cercavam os opositores de várias formas, seja através do ataque físico, psicológico, como também a seus familiares.

Nesses tempos que se questionam e deturpam os fatos históricos é importante
escancarar as diversas formas de perseguições na ditadura. Estas opressões ocorriam dentro de um sistema que era marcado por surgir dentro de regimes democráticos; na qual o controle da sociedade passa a ser tão importante quando o controle do Estado, seja na intervenção da vida, da liberdade e da propriedade privada; e ainda, onde o indivíduo tenha confiança no terror.

Isso mostra que a convicção em favor do ódio, típico de Ditaduras Totalitárias como a do Brasil de 1964, torna-se favorável às diversas formas de violências e não mede, e nem mediu, esforços para atingir a integridade humana.

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