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Freixo: 'Quem mandou matar Marielle é uma pergunta decisiva para a democracia'

Marcelo Freixo acredita que a demora da investigação apontar os mandantes do crime não é casualMarcelo Freixo acredita que a demora da investigação apontar os mandantes do crime não é casual - Paullo Allmeida/ Folha de Pernambuco
A morte da ex-vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) ainda deixa perguntas sem repostas. O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), colega de partido e amigo pessoal de Marielle comentou, em entrevista exclusiva ao Blog da Folha, sobre as investigações do assassinato da parlamentar carioca, que já dura mais de um ano e três meses.

"Quem mandou matar Marielle é uma pergunta decisiva para a República brasileira, para a democracia. E não é porque era minha amiga não. É porque tem um grupo político que opera como forma de fazer política a violência letal. Independente de quem foi morto. Eles não achavam que a marielle virasse o símbolo que virou. Então, mesmo virando esse símbolo todo, demorou um ano pra saber quem puxou o gatilho", lembrou.

"Só estremos 'satisfeitos' quando soubermos quem mandou matar Marielle. Em relação à investigação, é muito importante ter a prisão de quem matou e não é qualquer pessoa", disse.

Marcelo Freixo acredita que a demora da investigação apontar os mandantes do crime não é casual. "É uma mistura de incompetência com o que a morte da Marielle representou. A morte dele levanta um tampão num bueiro chamado Rio de Janeiro que tem muito pouco de cartão postal", disparou.

80 tiros - O Superior Triubunal Militar (STM) decidiu, no último dia 23, dar liberdade a nove dos 12 militares envolvidos na morte, no Rio de Janeiro, do músico Evaldo dos Santos Rosa e do catador de materiais recicláveis Luciano Macedo. Os militares estavam presos desde abril. Segundo Marcelo Freixo, a soltura dos acusados foi beneficiada por um decreto do ex-presidente Michel Temer (MDB), que está sendo, segundo ele, contestado no STF pelo PSOL. O decreto permite que militares acusados de homicídio sejam julgados pela Justiça Militar.

Segundo Freixo, a soltura dos militares passa um péssimo recado à sociedade. "É só perguntar para as pessoas nas ruas. Isso é um absurdo. Não foram só 80 tiros, foram 200. Oitenta foram só os que pegaram no carro, só pra corrigir. Só o tenente atirou 73 vezes. É inacreditável. Há uma sinalização de que se pode matar. Eu não sei se aqueles soldados são os únicos culpados, ele têm culpa e devem responder por isso, mas não são os únicos", apontou.

"É uma tragédia estrutural. Você não pode deixar na Justiça Militar uma responsabilidade como essa. É um retorno à lógica da ditadura, Justiça Militar julgar crime comum. É muito retrocesso", criticou o parlamentar, que estendeu os questionamentos à experiência de intervenção militar no Rio de Janeiro. "Eles já tinham ficado 14 meses na Maré e aquilo custou R$ 600 milhões. Entra na maré agora e vê como está lá. É simples. Isso não é um problema dos militares".

O psolista apontou falta de planejamento e de efetividade da intervenção militar. "Claramente não foi planejado aquilo. Aquilo foi no carnaval, as escolas de samba criticando Temer com um vampiro e eles decidem fazer uma intervenção para dar uma resposta. Com um mês depois acontece o assassinato de Marielle pra demonstrar que aquilo não resultou em nada. Nas barbas da intervenção você tem o assassinato político mais brutal da história do Rio de Janeiro e um dos mais bem planejados", lembrou Freixo.

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