Habitacional em Boa Viagem gera embate entre secretários de João Campos e Raquel Lyra
Licenciamento ambiental de obra habitacional acirra disputa entre estado e Prefeitura do Recife
A suspensão da derrubada de árvores em Boa Viagem, neste sábado (16), transformou-se em mais um capítulo da disputa entre o prefeito do Recife, João Campos (PSB), e a governadora Raquel Lyra (PSD).
O episódio, que envolveu fiscais da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) e da Polícia Ambiental, resultou no embargo da obra dos habitacionais Vila Aeronáutica I e II e em multa de cerca de R$ 500 mil contra a gestão municipal.
O caso intensifica a rivalidade entre os dois grupos políticos, que têm travado embates em diferentes frentes da administração pública e devem se enfrentar diretamente na eleição para o Palácio do Campo das Princesas em 2026.
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Disputa
Segundo a CPRH, a Prefeitura apresentou autorização própria, mas não a licença estadual exigida para o corte das árvores. Diante da irregularidade, os equipamentos foram apreendidos e a obra, embargada.
O secretário estadual de Meio Ambiente, Daniel Coelho (PSD), gravou um vídeo nas redes sociais defendendo a medida.
“O Governo do Estado é a favor da construção de habitações, a gente é a favor de moradia popular. Agora, temos o dever de proteger o meio ambiente e cuidar da documentação correta. Em um dos terrenos a Prefeitura tem a licença, nos demais não. Então, os equipamentos que estavam aqui iam fazer uma obra sem a correta licença. Por isso, estão apreendidos”, disse.
Ele ainda ressaltou que a denúncia partiu de moradores preocupados com a derrubada de árvores antigas.
“O CPRH já lavrou o auto e a Prefeitura vai se defender. O licenciamento e os documentos não correspondem ao necessário, então a obra está embargada neste momento. Também vamos lavrar auto de infração por descumprimento da legislação”, completou Coelho.
Reação
A resposta veio poucas horas depois. Também em vídeo publicado no Instagram, o secretário de Habitação do Recife, Felipe Cury, acusou o governo estadual de tentar inviabilizar um projeto de impacto social.
“Estamos em Boa Viagem, no terreno que é do município, em parceria com o governo Lula, para garantir moradia digna. Vamos construir mais de 500 unidades habitacionais para o povo que já mora aqui em condições precárias. E, de repente, chega um aparato para tentar impedir essa obra”, afirmou.
O projeto prevê 528 apartamentos nos conjuntos Vila Aeronáutica I e II, em uma área de 25 mil m² na Rua 20 de Janeiro. Antes ocupado por militares da Aeronáutica, o terreno foi transferido à Prefeitura como parte da quitação de uma dívida da União.
O investimento total é de cerca de R$ 90 milhões, incluindo contrapartida municipal de R$ 1 milhão, com expectativa de atender 2,6 mil pessoas em situação de vulnerabilidade.
Cury defendeu que a gestão municipal possui autorização para a erradicação de 130 árvores e garantiu que haverá compensação ambiental.
“A gente tem licenciamento do Recife que nos garante fazer a erradicação. E vamos replantar o dobro dessa quantidade. Quem diz ser a favor de árvore, na prática, parece estar contra as pessoas morarem aqui. O povo também merece viver em Boa Viagem”, declarou.
O secretário reforçou o tom político da defesa ao prefeito João Campos.
“Essa obra é de mais de R$ 90 milhões, com coragem do prefeito em transformar um terreno abandonado em um dos maiores projetos habitacionais da cidade. Aqui vão morar pessoas que já vivem em Boa Viagem, mas de forma precária. É moradia digna, é vida melhor para o nosso povo. A obra está moendo e não vai parar”, concluiu.