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Olinda além da fama de cidade-dormitório

Apesar da sua história e de sua rica cultura, a cidade enfrenta uma série de desafios

Olinda além da fama de cidade-dormitórioOlinda além da fama de cidade-dormitório - Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco

Conhecida por sua pluralidade cultural e arquitetura, Olinda foi a segunda cidade brasileira a ser declarada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1982. Apesar da sua história e de sua rica cultura, a cidade enfrenta uma série de desafios

Segundo especialistas e moradores, para além da fama de cidade-dormitório, o município enfrenta desafios de diversas frentes: econômicas, de mobilidade, planejamento urbano, segurança, saneamento e drenagem

Infraestrutura 
Segundo o economista e especialista em Gestão Pública e Desenvolvimento Regional, Brenno Almeida, Olinda conseguiu, nos últimos anos, estabelecer uma cadeia de negócios produtiva, mas ainda insuficiente para superar a fama de cidade-dormitório. “Se a expressão do passado cidade-dormitório existia, hoje ainda existe. Olinda conseguiu consolidar uma rede de negócios, mas ainda insuficiente”, reiterou.  

Um dos principais entraves para a consolidação do crescimento do município é o histórico desafio da infraestrutura. Segundo Brenno, apesar de ter expandido a utilização do seu território, Olinda não se desenvolveu o suficiente para garantir infraestrutura para as demandas da cidade. “Qualquer ambiente de negócios é favorecido pela infraestrutura urbana e local. Ao longo dos anos fica evidente o déficit de infraestrutura que Olinda tem.” 

De acordo com relatório da Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (Condepe/Fidem), o Produto Interno Bruto em 2021 do município chegou a R$ 5,78 bilhões. A cidade participa com 2,62% do PIB estadual. O PIB municipal é o oitavo maior do estado. Já o PIB per capita de Olinda é de R$ 14,7 mil. 

O principal desafio econômico que Olinda enfrenta é buscar uma inserção nos novos mercados. A falta de mobilidade urbana é um dos fatores que impossibilitam esse crescimento, segundo Almeida. “O fluxo de pessoas, bens, serviços e mercadorias é estrangulado por conta da estrutura viária da cidade, que não oferece mobilidade fluida para as pessoas”, conclui. 

“A possibilidade de se implantar plantas industriais na cidade no formato da indústria 3.0, por exemplo, tem uma viabilidade bastante comprometida por conta da infraestrutura urbana da cidade. Olinda é uma cidade que está estrangulada”, acrescentou. 

Uma via estratégica tanto para mobilidade quanto para o comércio da cidade é a Avenida Presidente Kennedy. Com 4,5 km de extensão, a avenida atravessa cinco bairros: Vila Popular, Peixinhos, Jardim Brasil, Aguazinha e São Benedito. Diariamente, circulam cerca de cinco mil carros e 39 linhas de ônibus.

“Por exemplo, as obras ao longo de vias que são eixos comerciais extremamente importantes como a Presidente Kennedy, a PE-15, são uns transtornos para as pequenas e grandes empresas que estão instaladas, porque Olinda tem grandes empreendimentos”, disse o professor aposentado de geografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jan Bitoun, que mora em Olinda desde 1981 e está na mesma casa desde 1987.  

Jan Bitoun. Foto: Ricardo Fernandes/Folha de Pernambuco

Mobilidade 
Para solucionar o desafio da mobilidade, a arquiteta e urbanista Nadja Granja defende ser necessário o estudo de um deslocamento inteligente sem passar horas dentro dos transportes públicos e privados.  “Na mobilidade também entram as questões dos alagamentos que interferem diretamente e afastam as pessoas da cidade.”, destacou. 

Segundo a urbanista, falta uma conexão entre projetos, órgãos públicos (nas três esferas - federal, estadual e municipal) e gestores das universidades para que o município supere a questão. 

Sítio Histórico
Patrimônio e ativo cultural e turístico da cidade, o Sítio Histórico de Olinda é um atrativo do município, mas também exige cuidados diferenciados. “O Sítio Histórico é uma combinação entre monumentos, e paisagem urbana que precisa ser mantida, preservada, cultivada de uma certa forma, para manter a qualidade estética para esses monumentos no entorno”, disse Jan Bitoun.  

Um desses equipamentos históricos que demandam atenção é o Cine Olinda, localizado no bairro do Carmo, que permanece fechado.

Outra obra estruturadora importante para a cidade é o Canal do Fragoso. Localizado na região da Cidade Baixa de Olinda, o entorno da obra enfrenta inundações em períodos chuvosos há vários anos. A ocupação urbana desordenada da bacia do rio Fragoso resultou no estrangulamento da calha do rio, provocando a diminuição da sua capacidade de escoamento. Além disso, a própria estrutura do canal não possui espaço suficiente para permitir o escoamento da água agravando a situação, segundo Jan Bitoun.  

Canal do Fragoso, em Olinda. Foto: Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco

Como o município é relativamente pequeno, seria possível fazer uma administração - em todas as esferas públicas - mais próxima com a população olindense. “Se você não quer olhar de perto, você nunca vai fazer uma boa administração”, comentou o professor. “Olinda, um território pequeno, tornando possível uma gestão participativa, próxima, atenta e carinhosa. Agora nada disso a gente tem, mas seria possível”, reiterou. 

Moradores 
O consultor de vendas Renato Joel Alípio dos Santos, de 34 anos, mora no bairro de Jardim Atlântico, em frente ao Canal do Fragoso. Entre os problemas destacados por ele estão segurança, limpeza e infraestrutura. 

A designer de moda Gabriela Neves, de 30 anos, é moradora do bairro dos Bultrins e defendeu um olhar para toda a cidade. “É necessário um bom plano de campanha que priorize não só a orla, mas a cidade inteira”, destacou. 

Sandete Ferrão, de 71 anos, é moradora e comerciante no Sítio Histórico de Olinda. A segurança foi o principal ponto abordado por ela. “O lugar mais visitado de Olinda é o Alto da Sé e você não vê policiamento”, criticou.

Já Obisolon Nunes trabalha há mais de 20 anos no Sítio Histórico da Marim dos Caetés e defende a melhora da iluminação e políticas sociais.

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