[Opinião] Absolvido pela História
Nascido em 1463, Giovani Pico Della Mirandola, foi um filósofo italiano e considerado um dos mentores do Renascimento. Em sua obra Discurso Sobre a Dignidade do Homem disse o seguinte: “Ao homem nascente o Pai conferiu sementes de toda a espécie e germes de toda a vida, e, segundo a maneira de cada um os cultivar, assim estes nele crescerão e darão os seus frutos. Se vegetais, tornar-se-á planta. Se sensíveis, será besta”. Assim é a dignidade humana, segundo o erudito italiano.
Ao tratar do tema da dignidade humana, assim pensou Kant: “O que tem preço pode ser substituído por alguma coisa equivalente; o que é superior a qualquer preço, e por isso não permite nenhuma equivalência, tem dignidade”. Assim é possível entender que dignidade não tem preço. No que tange ao mundo jurídico, o debate com relação ao que se entende por dignidade é algo complexo, vez que, assim como na filosofia, também está ligada ao campo da subjetividade. O mestre pernambucano Aníbal Bruno (sabes quem foi?), ao tratar dos crimes contra a honra, diz o seguinte: “Mas há o aspecto particular das narrativas da história, onde homens que participaram da vida pública do país têm os seus atos expostos e comentados, sem que o que aí se diga de desfavorável venha constituir afronta à sua memória. Então, há o interesse superior, de ordem pública, da verdade histórica, pela exata determinação e relato dos acontecimentos, que se contrapõe ao interesse privado e o supera, excluindo a antijuridicidade do comportamento do autor. O fato não vem a ser crime”. Assim sendo, o penalista entendia que o homem público estava sujeito a crítica até mesmo depois de morto, quanto mais se estiver vivo.
A vida não é composta apenas por momentos de glória. Ninguém está livre das críticas. Toda unanimidade é burra, já dizia o também pernambucano Nelson Rodrigues (sabes quem é?). Mas a história se encarrega de absolver aqueles que merecem como o Ibsen Pinheiro, mas também condena como Adolf Hitler. Talvez o segundo esteja mais próximo daqueles que amam usurpar os princípios democráticos.
Hely Ferreira é cientista político e escreve no Blog da Folha às quintas-feiras.



