[Opinião] O poder do personalismo político brasileiro
O personalismo político é um dos traços marcantes da nossa sociedade. Já dizia, com outras palavras, o sociólogo Sergio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, quando não defendemos um ator político, lutamos contra ele. Simples. A obra foi publicada em 1936, mas não faltam exemplos na atual conjuntura para corroborar com a ideia, mesmo com um cenário de cisão ideológica – o que se pressupõe ideias.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é um caso emblemático, mas não único exemplo. O deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) é outro caso sintomático da personalização da política e da busca míope por um salvador da pátria, como Lula fora outrora. A ex-ministra Marina Silva (Rede) e o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa (PSB), seguem a mesma lógica.
Lula tentou por muitas eleições ser presidente. Acumulou três derrotas – 1989, 1994 e 1998 -, mudou o discurso e se elegeu – 2002 e, reelegeu-se, em 2006. Foi o presidente que mais fez por mais brasileiros. Elegeu a sucessora – em 2010. O partido entrou num aspiral de escândalos e, por sobrevivência, secundarizou a ideia de fortalecer novos quadros. Na ausência deles, Lula é o único nome. Ou seja, não há nomes. Isso demonstra que a legenda trocou o projeto de governo pelo projeto de poder.
Marina é outro caso. O partido dela flerta com a centro-esquerda e a centro-direita. Ela já disputou duas eleições – 2010 e 2014 -, com discursos díspares. Deve disputar a terceira e já fico curioso para saber o que vai vender desta vez.
Em cargo eletivo há exatos 30 anos – quando se elegeu vereador do Rio de Janeiro em 1988 -, Bolsonaro se vende como não político. Seus filhos também são políticos. Ele, todavia, notabilizou-se por atacar minorias e falar o que os seus súditos querem ouvir. Não o pergunte sobre economia ou política, afinal, ele já disse que não precisa saber do primeiro e que não faz parte do segundo. Há quem acredite. Espera-se que em algum momento ele diga o que pensa sobre temas caros, sem precisar agredir alguém.
Mais recentemente, Barbosa saiu do ostracismo intencional para flertar com a possibilidade de ser presidente da República. O PSB, que se vangloria por defender a política e as ideias programáticas, vislumbrou no ex-ministro o ator perfeito, mesmo sem ter certeza sobre tudo o que ele pensa. Este é o lugar comum da política brasileira, arruma-se a pessoa, depois cria-se as ideias.
Outro clichê é que não há espaço vago na política. E alguns destes atores estão preenchendo justamente esta suposta vacância não com projetos ou programas, mas com o nome. Ao estilo brasileiro, como sempre. Desde a construção das raízes.
Marcelo Montanini é repórter de Política da Folha de Pernambuco e mestre em Relações Internacionais pela Universidade de Lisboa.



