[Opinião] Os primeiros seis meses do governo não enfraquecem o bolsonarismo
A polarização das últimas eleições presidenciais mostrava que o começo do governo do novo presidente iria ser marcado por tensões e uma atenção ainda maior da opinião pública. Vencedor da disputa, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) chegou a diminuir os discursos contra a oposição e militantes da esquerda.
Mas mesmo sem ser tão recorrente o majoritário não deixa de polemizar contra os seus críticos, principalmente nas redes sociais. Este é o local que o social-liberal mais escancara seu desprezo a quem o rebate. Argumentos como “fake news” são os mais utilizados para se defender. A estratégia ainda o deixa fortalecido. Seguidores do “bolsonarismo” ainda o admiram e o veem como porta-voz de suas opiniões.
Nesses seis meses podemos levantar algumas características da sua administração: a primeira é que o governo ainda está se adequando ao poder Executivo, argumento confessado até pelo próprio presidente. Sua equipe é composta por seguidores do seu guru, Olavo de Carvalho, militares, evangélicos e pessoas ligadas a ideias de extrema direita.
A segunda característica é que a única bandeira definida no governo é a anticorrupção representada pelo ministro da Justiça Sérgio Moro. O magistrado começa a ter sua figura desconstruída através das reportagens do Intercept que acusa Moro de atuar em conluio com membros do Ministério Público Federal em diversos processos da Operação Lava Jato. O desgaste de Moro pode ser bom até para Bolsonaro que, por enquanto, está longe dos holofotes dos vazamentos das conversas dos membros do Ministério Público Federal.
A terceira característica é sobre a Reforma da Previdência que o governo aposta todas as fichas. A estratégia pode ser um erro para Bolsonaro caso os índices econômicos não tenham sucesso a médio prazo. A quarta é a inexistência unidade do partido do governo. O PSL possui rixas internas e isso dificulta até no diálogo com o Congresso e na manutenção de alguns atores políticos envolvidos em casos de laranja.
A quinta característica é a falta de traquejo de Bolsonaro com o Parlamento. Ele cria esse isolamento com o discurso de combate a "velha política". Esta é associada a corrupção e isso é muito ruim para o governo. É preciso distinguir práticas corruptoras, distribuição de cargos e emendas parlamentares. Além disso, os aliados do governo tecem diversas críticas ao Congresso nas redes sociais, dificultando ainda mais uma aproximação entre poderes.
No entanto, a opinião pública ainda está paciente com o governo. O perfil dequem desaprova o Executivo, de acordo com a última pesquisa Ibope, são em sua maioria pessoas de baixa renda. Essa mesmo perfil faz parte das pessoas, pelo menos em sua maioria, que votaram no seu principal rival, Fernando Haddad (PT).
Com uma popularidade ainda considerável, Bolsonaro ainda tem, pelo menos no curto prazo, tempo para utilizar estratégias de aproximação com o Congresso, de unificar seu partido e de ajudar na aprovação de projetos em prol da melhora da economia e da inclusão social. Ele também pode ser protagonista do bolsonarismo, que ainda é dividido com Sérgio Moro. Um bolsonarismo que não mostra sinais de fraqueza.
Por ser apoiado por grupos antiprogressistas que pregam a moral, os bons costumes e tem aversão e até perseguem os seus opositores, o bolsonarismo continua bastante forte. O que importa é manter suas ideias no controle do Estado, independente de quem está no governo. Nem que seja saindo as ruas e inventando novos heróis. O bolsonarismo virou um projeto de poder que irá demorar muito tempo a sair de cena.



