[Opinião] Projeto Oásis, na Boa Vista: para quem?
O histórico conjunto arquitetônico do conhecido Colégio Salesiano, situado no bairro da Boa Vista, tem sobrevivido ao tempo como um marco na paisagem da cidade. Para além dos fatos relevantes que marcaram seu surgimento, o significativo caráter do conjunto foi reconhecido pelo poder público municipal, nos anos de 1990, como Imóvel de Proteção de Área Verde (IPAV). Sob essa qualificação, estão os imóveis que constituem uma Unidade de Equilíbrio Ambiental, cujas funções paisagísticas estão diretamente associadas às amenizações climáticas e ao desfrute da cobertura vegetal como alternativas de renovação do ar e do bem-estar dos cidadãos, dentro do conturbado cenário urbano. Isso significa dizer que os elementos vegetais, o solo natural e as áreas livres são seus atributos mais importantes e prevalentes sobre os índices de densidade construtiva no imóvel.
Ocorre que o aumento da temperatura na cidade do Recife, aliado ao crítico congestionamento agravado pelo transporte particular, já é um fato concreto. Nesses termos, pensar o desenvolvimento urbano, sobretudo das regiões centrais, nas quais se enquadra o bairro da Boa Vista, requer uma reflexão mais profícua sobre a relação indissociável entre a verticalização e a capacidade de carga das vias, o que não é nada complexo. Requer ainda refletir sobre a relação das novas construções na paisagem em que se propõe inseridas, principalmente essa que é historicamente conformada.
No entanto, parece que no caso do Colégio Salesiano sua condição de IPAV tem sido obliterada em seu sentido estrutural, relegada em função de um projeto arquitetônico que subdivide o lote e destrói parte das edificações, sob a proposta de adensamento construtivo em altura (algumas torres de muitos pavimentos). Soluções isoladas de plantio de jardins, sob a égide da ‘sustentabilidade’ – conceito que de tanto corrompido tem se tornado sem expressão, têm sido a retórica para a fundamentação do projeto, que também é defendido como única alternativa para a manutenção econômica do imóvel, que vem perdendo gradualmente seu prestígio em suas funções educativas. Parece que as razoáveis alternativas de requalificação urbana ou de reverência respeitosa ao preexistente e ao meio ambiente têm sido preteridas em função da intensa exploração imobiliária.
Mais uma vez, parece evidente que esse imposto modelo de intervenção não é o que melhor representa a busca por uma cidade saudável e não dialoga com a estrutura edificada do bairro, nem com a paisagem, nem com seus cidadãos. Alinhado ao aparente descaso da gestão pública, ainda batizam o projeto de “Oasis”. Resta-nos a questão: para quem?
*Juliana Barreto é arquiteta e urbanista, professora do Centro Universitário UNIFBV ([email protected])



