Sete de Setembro mobiliza esquerda e conservadores
Em meio ao julgamento dos réus da suposta trama golpista no STF e da pressão por anistia, manifestantes vão às ruas, intensificando o clima de polarização do país
Para além de celebrar a Independência do Brasil, o dia 7 de setembro será marcado por manifestações políticas de direita e de esquerda. Os atos serão realizados em meio ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposto envolvimento em trama golpista e à pressão pela anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
Em Pernambuco, conservadores realizam o ato “Todos na rua”, neste domingo, na Avenida Boa Viagem, a partir das 14h, em defesa de Bolsonaro. Já o “Grito dos Excluídos" ocorre a partir das 9h, no parque Treze de Maio e tem como foco a preservação da “soberania nacional” e críticas ao tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil.
Impacto
Segundo o professor de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Antonio Lucena, as manifestações têm um impacto midiático na manutenção das bases ativas, seja na direita ou na esquerda, mas “não vão alterar o entendimento do STF sobre o caso da tentativa de golpe”.
“Eu acredito que isso não vai alterar o entendimento do STF sobre o caso da tentativa de golpe. Se os juízes, de fato, decidirem que houve essa tentativa, que ela já é suficiente para gerar uma condenação sobre a ruptura do Estado Democrático de Direito no Brasil, assim será. Lembrando que os ministros do STF não dependem da sua sobrevivência política a partidos, ou congressos. O Judiciário é independente”, explicou.
Ainda de acordo com Lucena, por outro lado, as manifestações podem ser um termômetro para o Congresso Nacional verificar se vale a pena continuar o projeto de anistia aos presos do 8 de janeiro.
“Eu vejo ele (o projeto de anistia) muito mais como algo pro forma, como uma tentativa de passar uma intenção de que eles estão trabalhando sobre isso. Boa parte do establishment político já precificou a não participação de Bolsonaro nas eleições de 2026, e até porque muitos veem Tarcísio (governador de São Paulo) como essa pessoa que pode substituir Lula, dadas as condições atuais”, reiterou o professor.
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Mobilização
De acordo com o cientista político e professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Elton Gomes, o grupo do ex-presidente Jair Bolsonaro tem uma maior capacidade de mobilizar pessoas para os eventos públicos.
“Vai acontecer, para além de qualquer evento fático, real, mensurável, um grande combate de narrativas entre o governo e a oposição. O governo dirá: ‘vamos fazer também atos públicos que vão marcar o apoio ao governo do Lula, a sua reeleição e a contrariedade à anistia’. E a oposição, o centro-direita e à direita, vão dizer: ‘grande ato público com grande capacidade de mobilização popular reforça o apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro”, disse.
Para o cientista político, este “combate de narrativas” nos atos de Sete de Setembro reflete a polarização que o país enfrenta atualmente.
“É uma espécie de microcosmo, de reflexo da profunda divisão que marca a sociedade brasileira contemporânea, em que os grandes conteúdos políticos, de políticas públicas, de administração, de orçamento público, quase não são discutidos em favor de uma agenda que se resuma a ser contra ou a favor de dois líderes carismáticos que se apresentam como messias políticos”, destacou.
Desfile
Na edição deste ano, o desfile cívico-militar de 7 de setembro tem como tema central o “Brasil Soberano”, em uma tentativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de resgatar símbolos nacionais, como o verde e amarelo e o discurso de patriotismo, que foram incorporados pelos bolsonaristas.
“É uma forma também desse movimento todo mostrar que as cores da bandeira nacional não foram sequestradas pela extrema direita. Esse aspecto é relevante em todo esse simbolismo. Essa ação contra um adversário estrangeiro é sim um movimento que tende a gerar um pouco de união nacional que a gente viu recentemente”, comentou Antonio Lucena.
No desfile, o tema é representado por meio de três eixos temáticos, dois deles intitulados "Brasil dos Brasileiros" e "Brasil do Futuro". O terceiro aborda a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), e o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).



