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Uma jogada mal-sucedida na Alepe

Márcio Didier

Editor do Blog da Folha 

A eleição da Mesa da Assembleia na tarde desta segunda-feira (12) tinha tudo para ser protocolar, insossa, beirando a chatice. O máximo de emoção, acreditava-se, seria o discurso de Edilson Silva (PSOL), com sua candidatura solitária à presidência da Casa, apenas para marcar uma posição contra o presidente que tentava e conseguiu a sua quinta candidatura consecutiva, Guilherme Uchoa (PDT). O roteiro seria esse, mas não foi.

Uma jogada tramada por integrantes do “baixo clero” da Casa a partir da terça-feira, após jantar na casa de Francismar Pontes deu vida à eleição. Depois de 12 anos, a disputa por uma vaga no comando da Alepe voltou a ser voto a voto. E por coincidência, nos dois casos, o um mesmo protagonista saiu vencedor: Romário Dias (PSD).

Na chegada à Alepe, o buchicho era geral e dava conta de que Claudiano Martins (PP) inscreveu-se para bater chapa com Romário pela 2ª vice-presidência. A partir daí foi um show de especulações sobre os motivos ou a mando de quem Martins entrou no páreo para peitar o acordo pré-estabelecido durante os últimos dias e medir forças contra um ex-presidente da Casa por três mandatos.

Cogitou-se que, assim como na última disputa da Mesa da câmara, o Palácio do Campo das Princesas estaria por trás da candidatura de Martins. O motivo seria a rebeldia de Romário, que na semana passada criticou a demora na liberação das emendas impositivas. Mas desta vez não tinha o dedo do Governo do Estado, que só acompanhou a distância a “briga”.

Também cogitaram que o presidente e candidato à reeleição, Guilherme Uchoa, era quem estaria articulando o bate-chapa. Mais uma vez, a premissa foi, de certa forma, falha. Na verdade, a situação, segundo alguns governistas, teria deixado Uchoa preocupado. Ele temia que Romário pensasse que ele estaria por trás da articulação. O próprio Romário, afirmaram alguns parlamentares em reserva, teria pensado, num primeiro momento, nessa possibilidade. Mas preferiu colocar panos quentes. Uchoa tinha força parar barrar a postulação. Foi até o gabinete de Romário pela manhã para comunicar a articulação, mas o próprio Romário descartou a possibilidade de intervenção.

Chegou-se, então, aos deputados do chamado “baixo clero”, de menor expressão na Casa. Eles estavam chateados com a postura de Romário durante o processo de negociação. Disseram que o parlamentar do PSD não tinha foco. Ensaiou disputar a presidência, paquerou com a 1ª secretaria e enamorou-se com a 2ª vice. Também criticavam a postura “arrogante” de Romário no trato com os deputados.

Chateados, passaram o fim de semana cabalando votos para a eleição de Claudiano Martins, tido como um bom companheiro pela maioria dos parlamentares. Fizeram as contas e concluíram ter votos suficientes para elegê-los. Mas erraram por pouco.

Para vencer a disputa no primeiro turno eram necessários 25 votos. Claudiano teve 24, contra 19 de Romário. A disputa da etapa inicial terminou após um debate tenso sobre a validade ou não de dois votos marcados com um “X”, quando o Regimento Interno determina o preenchimento de um círculo. Uma fórmula para evitar a marcação de votos.

Houve, então, o segundo turno e deu ruim para Claudiano. Ele perdeu dois votos e viu Romário conquistar mais seis votos, chegando a 25 votos.

Dessa forma, Romário repetiu a disputa acirrada de 2004, quando venceu 26 votos contra 23 uma apertada disputa contra Sebastião Rufino pela presidência da Casa.

Tenso desde o princípio da disputa desta segunda-feira, só por volta das 19h o parlamentar do PSD pôde soltar o ar e festejar a vitória numa eleição que tinha tudo para ser fria, começou morna e terminou fervendo.

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