Nem premiações nem punições garantem equipes comprometidas
Nos últimos anos, uma das queixas mais recorrentes que ouço de gestores e empresários, nos mais variados segmentos, é a crescente dificuldade de encontrar pessoas realmente comprometidas com o trabalho. Não falo aqui apenas de comprometimento com resultados — embora eles também estejam incluídos, mas com todo o processo que envolve o dia a dia nas empresas: presença constante, responsabilidade nas entregas, qualidade no que se faz, preocupação com o futuro da empresa e disposição para crescer e ocupar posições mais estratégicas.
É um cenário que se repete: qualquer contratempo vira motivo para faltar. Atestados médicos se acumulam, muitas vezes com pouca ou nenhuma justificativa sólida. Gerentes e coordenadores se veem em situações desconfortáveis, tentando equilibrar prazos, expectativas da diretoria e uma equipe cada vez mais instável e trabalhosa. A rotatividade aumenta, os treinamentos se tornam recorrentes e onerosos, e a produtividade despenca. E o pior: isso acontece não só em setores mais operacionais, onde tradicionalmente há maior dificuldade de retenção, mas também em áreas técnicas e administrativas.
Compromisso
Nesse contexto, surge uma pergunta inevitável: o que está acontecendo com o compromisso das pessoas com o trabalho? Percebo que estamos diante de um desafio muito mais profundo do que simplesmente aplicar advertências ou suspensões. Embora esses mecanismos façam parte do chamado “sistema de consequência” e possam ajudar a inibir comportamentos inadequados, eles não são, nem de longe, suficientes para construir equipes competitivas e comprometidas, estáveis, motivadas e produtivas.
Algumas empresas apostam em programas de premiação, na tentativa de estimular a performance e o engajamento. É uma estratégia válida, mas também limitada. Entendo a intenção das instituições, mas já sabemos que essas iniciativas, por si só, não são capazes de formar profissionais comprometidos. Se elas tivessem esse poder, as instituições com modelos de remuneração mais agressivos não teriam essas mesmas dificuldades em suas equipes.

Conexão
A verdade é que o compromisso nasce de algo menos visível, mas muito mais potente: a conexão com o propósito da empresa, o sentimento de pertencimento e a construção de um ambiente em que as pessoas se sintam parte importante da engrenagem. Isso exige, antes de tudo, um trabalho cuidadoso e paciente das lideranças.
É aqui que entra um ponto sensível. Muitos líderes, pressionados por metas, sobrecarregados ou até mesmo despreparados, não conseguem — ou não se dedicam — a esse cuidado. Não têm paciência para orientar, não se aproximam quando um empregado falta, não perguntam se há algum problema. Não acreditam que atitudes simples, que não exigem desembolso financeiro podem fazer a diferença. Tratam todos como peças substituíveis. O resultado? Times desmotivados, pouco comprometidos e cada vez menos interessados em dar o seu melhor. E a razão para isso é o simples fato de as pessoas se verem como números.
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Liderança
Formar uma boa equipe vai muito além de selecionar profissionais tecnicamente competentes. É preciso buscar gente que queira crescer junto, que esteja disposta a se desenvolver e contribuir para a evolução da empresa. E isso passa, inevitavelmente, por uma liderança que inspire, que esteja presente e que trate cada pessoa como peça estratégica — não como número.
Compromisso se ensina, se estimula, se reforça. Para que alguém se comprometa, é necessário que se sinta valorizado e envolvido. E para que isso aconteça, é preciso ter liderança atuante. É preciso que o gerente “chegue junto”, que acompanhe de perto, que esteja ali para orientar, cobrar com clareza e, acima de tudo, reconhecer o esforço.
A responsabilidade por esse cenário não pode ser jogada apenas nas costas do RH. Formar equipes estáveis e comprometidas é tarefa de todos: empresários, líderes, pares. Se não cuidarmos disso agora, corremos o risco de ficar sem gente boa para trabalhar — e não por falta de mão de obra, mas por falta de comprometimento mútuo.



