As perspectivas econômicas para os investimentos em 2021
A Folha Finanças desta semana entrevistou Eduardo Martins, assessor de investimentos e sócio da Athena-BGA Investimentos, maior e mais antigo escritório de investimentos de Pernambuco, com R$ 1,2 bilhão sob assessoria e mais de 11 anos de história. O assessor foi convidado por Camila Haeckel, do Inspiração Invest, parceira deste blog.
Na conversa, o assessor de investimentos fala sobre as perspectivas econômicas para este ano no mundo de investimentos tanto internacional, quanto as expectativas para modelos de investimentos no Brasil.
Eduardo é formado em Engenharia Civil, e possui as certificações de Especialista de Investimentos (CEA) da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e é agente autônomo de Investimentos, Ancord. Ele possui ainda experiência em políticas públicas, tendo assumido cargo de assessoria do Gabinete do Governador de Pernambuco e atualmente atua como assessor de investimentos na Athena-BGA.
Confira a seguir, a entrevista com Eduardo Martins.
O que podemos esperar a respeito do dólar para esse ano?
Embora o dólar tenha subido bastante em relação ao real (29% de valorização), ele se enfraqueceu comparado aos seus pares mundiais, principalmente pela valorização do euro. Sua alta foi decorrente de diversos pacotes de estímulos econômicos, chegando a valores de €750 bilhões.
Desta forma, podemos ver um período mais favorável para o Brasil e outros mercados emergentes para a desvalorização do dólar. A vitória de Joe Biden também deve trazer um ambiente internacional com menos ruídos e um momento mais construtivo para a economia.
Além disso, temos a vacinação já avançando ao redor do mundo, o que pode nos levar a uma recuperação global ainda em 2021, favorecendo, novamente, o Brasil.
Entretanto, é preciso estar atento à inflação, pois com diversos estímulos e o mundo tendendo a voltar ao normal, podemos ter forte pressão inflacionária, além de aumento nos preços de commodities, como o petróleo e o minério de ferro.
E quanto às expectativas para o Brasil?
Para responder essa pergunta de forma clara precisamos falar sobre o nosso Produto Interno Bruto (PIB), que nada mais é do que o quanto um país está gerando de receita. Ele pode ser resumido na soma de todos os bens e serviços produzidos por um país, e geralmente tem seu resultado expresso em um ano.
Na verdade, estamos passando por um momento difícil. Mesmo não havendo a crise do coronavírus, teríamos terminado a década sem crescimento em nossas riquezas. Nossas turbulências políticas, nossos planos que não saem do papel e nossa falta de competência de realizar reformas que já deveriam ser consensuais, podem custar caro no futuro.
Para 2020, temos projeção de uma queda no PIB de -4,40%, nos levando a fechar a década com uma queda de 6,5%, que é uma queda ainda maior do que a da década de 80, que ficou conhecido como “a década perdida” do nosso País, acumulando queda de 4% ao longo daqueles 10 anos.
O que nós precisamos, na verdade, é de uma ampla melhora no nosso sistema educacional, uma reforma administrativa, uma simplificação de nosso sistema tributário, onde possamos melhorar o desempenho dos negócios locais a fim de reduzir a grande desigualdade do nosso país, e uma melhora de nosso sistema de saúde.
É uma agenda de reformas extremamente longa e complementar. Não será de muita ajuda aprovar as reformas se falharmos na melhoria da qualidade do nosso sistema educacional.
Então você acha que não devemos investir em ativos mais arriscados neste ano, como as ações?
Na verdade, pelo contrário. No Brasil, sempre tivemos esses obstáculos. Além disso, os estímulos na economia foram tão fortes globalmente, que estamos em um grande momento de liquidez internacional. As taxas de juros no Brasil estão nas mínimas históricas já há vários meses, e deverão ter poucas oscilações neste ano.
Atualmente, estamos com a taxa Selic em 2% ao ano, o que pode ser entendido com o máximo de rentabilidade que você pode ter, com o mínimo de risco. Como a inflação atualmente está maior que esse valor, temos um juro real negativo.
Isso só reforça o quanto precisamos abdicar de segurança e, aos poucos, ir migrando para renda variável. Atualmente, existem diversos produtos e estratégias que o investidor pode se aventurar para proteção de seus investimentos.
Por exemplo, a bolsa brasileira tem historicamente uma correlação negativa com o dólar, ou seja, quando o dólar sobe bastante, temos uma tendência de queda na bolsa.
Porém, o uso de um não abdica o outro. Podemos fazer estratégias de composição desses produtos a fim de minimizar riscos de uma carteira de investimentos e maximizar retornos.
Aproveitando que você mencionou a inflação, o que podemos esperar em 2021?
Abrimos o ano com a inflação relativamente controlada. Temos previsões próximas de 4% nesse ano, bem próximo da meta.
Nos últimos meses de 2020, entretanto, tivemos uma elevação dos preços, principalmente no setor alimentício e de automóveis. Essa tendência deve continuar apenas para os primeiros meses do ano, pois com a apreciação recente do câmbio, e do fim do auxílio emergencial, podemos ter uma desaceleração da demanda interna, mesmo com uma melhora gradual no mercado de trabalho, aliviando forças inflacionárias.
Inspiração Invest



