Diversificação de Portfólio: o que é e qual a sua importância
A Folha Finanças desta semana recebe o agente autônomo de investimentos, sócio da Athena-BGA, escritório de assessoria de investimentos da XP em Pernambuco, Lucas Canuto. Ele foi entrevistado por Camila Haeckel, do Inspiração Invest, parceiro do Blog, CEA e especialista em investimentos, além de trabalhar no mercado financeiro há mais de 12 anos.
Na entrevista, Lucas fala sobre a importância da diversificação dos ativos na carteira de investimentos, as vantagens disso e como por em prática uma carteira diversificada.
Canuto é formado em engenharia mecânica e trabalhou por alguns anos em sua área de formação passando por empresas do setor industrial. Porém, foi no mercado financeiro que Lucas encontrou a sua identificação. Ele possui MBA em Investimentos e Private Banking pelo Ibmec, além de certificação de planejador financeiro CFP, e é um dos responsáveis pelo segmento de alocação e produtos da Athena-BGA.
Confira a entrevista com Lucas Canuto a seguir:
O que é diversificação de carteira?
Em investimentos, a diversificação é uma estratégia que visa diminuir o risco da carteira ao investir em diferentes ativos com baixa correlação entre si. Ela tem um papel fundamental dentro de uma alocação inteligente. É como diz o ditado: "não se deve colocar todos os ovos na mesma cesta".
A ideia é bem simples, distribuir o risco do portfólio entre diferentes ativos e setores que respondam de maneiras distintas ao mesmo estímulo externo. Dessa maneira, quando um ativo da sua carteira for mal por determinado motivo, os seus outros investimentos não serão necessariamente afetados ou podem até se beneficiar disso.
Para deixar claro, podemos fazer um exercício simples: Suponha dois indivíduos com carteiras de investimentos diferentes. O primeiro investe 100% do seu capital em ações da Petrobras. O segundo investe apenas 10% do capital na Petrobras e os outros 90% estão distribuídos em ações e ativos de diferentes setores. Caso saia uma notícia que derrube os preços do petróleo em escala global, qual dos dois indivíduos será mais impactado? Muito provavelmente o primeiro terá uma variação negativa maior na carteira.
Qual a importância de uma boa diversificação?
De maneira prática, podemos resumir em dois principais fatores: gestão de risco e custo de oportunidade. Pelo lado do risco, como já explicado, quanto mais você distribui sua carteira em ativos descorrelacionados, menor a chance de você ter uma queda abrupta no retorno dos seus investimentos.
Já adianto, é impossível zerar os riscos de uma carteira. Isso por que existem dois “tipos” de riscos, o risco não-sistemático e o sistemático. O primeiro é o que chamamos de diversificável, quanto melhor for a diversificação da carteira menor ele será. Já o sistemático é aquele que não conseguimos nos livrar não importa o quão diversificado esteja seu portfólio. Ele trata de situações que englobam e impactam todas as classes de ativos de determinado mercado. Um exemplo em escala nacional foi a recente recessão que tivemos entre 2014 e 2016. Praticamente todos os ativos locais sofreram nesse período. E um bom exemplo em escala internacional é a atual pandemia do novo coronavírus, que em meados de fevereiro e março derrubou todos os mercados globais.
Outra grande importância que enxergo na diversificação é referente ao custo de oportunidade, que é o valor do que você renuncia ao tomar uma decisão. Em outras palavras, é aquilo que você deixa de ganhar caso não esteja participando.
Por exemplo, o Ibovespa subiu 15,9% em novembro, quem não tinha parte da carteira em ações deixou de ganhar essa valorização. Por isso, acredito que uma boa diversificação deve englobar diversas classes de ativos locais e internacionais, com diferentes pesos de acordo com cada momento de mercado e que, primeiro, proteja seu patrimônio de grandes oscilações e, segundo, que faça você participar das boas oportunidades que existem no mercado.
Como fazer uma carteira realmente diversificada?
Esta é uma pergunta muito importante, mas que tem uma resposta um pouco mais complexa, pois demanda um conhecimento maior do mercado e do comportamento das diferentes classes de ativos. Já entendemos a importância de uma boa diversificação de carteira. Contudo, a execução já não é algo tão trivial. Muitas pessoas acreditam que o simples fato de aplicar em diferentes ativos ou instituições já é o suficiente para diversificar de maneira satisfatória. Na grande maioria das vezes, não é.
A palavra-chave para uma boa diversificação é a correlação, que é uma medida de similaridade de comportamento entre dois ativos. Por exemplo, a ação da Petrobras tem uma correlação muito alta com o preço do petróleo mundial. No caso, o ideal para uma composição de carteira é ter ativos descorrelacionados, isto é, com baixa correlação entre si, ou com correlação negativa, que é quando um sobe e o outro cai. O racional disso é que os ganhos de alguns ativos compensem as perdas de outros e, assim, equilibrar os resultados do portfólio em determinado período. Logo, você ter diferentes investimentos em duas ou mais instituições sem saber a composição de cada um deles ou os seus comportamentos perante o mercado não é garantia de que você tem uma carteira diversificada.
Um exemplo muito comum é investir, ao mesmo tempo, na bolsa brasileira e no dólar. Historicamente, existe uma correlação negativa entre o Ibovespa e a moeda norte-americana. Isto quer dizer que, boa parte das vezes, quando o principal índice de ações brasileiro cai, o dólar se valoriza no mesmo período. Essa relação não é constante e invariável. Existem situações em que ambos ativos vão se movimentar para a mesma direção no mesmo período.
No escritório, além de atualizar mensalmente a alocação estratégica básica para cada perfil de cliente, fazemos também diversos estudos e simulações das correlações entre os ativos que sugerimos. Dessa maneira, buscamos diminuir as oscilações das carteiras e entregar uma performance acima do mercado no longo prazo.
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