O mês de Janus
Janeiro vem de Janus, um dos antigos deuses de Roma, representado por dois rostos opostos: um olhando para traz, o passado; outro para frente, o futuro. Só para lembrar, janeiro não fazia parte do primeiro calendário romano, estabelecido por Rômulo, que tinha só 10 meses e 304 dias. Primeiro mês, naqueles tempos, era março. Só em 713 a.C., com o imperador Numa Pompílio, tivemos a reforma desse calendário, com o acréscimo de dois meses – Janeiro (com 29 dias) e Fevereiro (com 28). Mas o calendário, como o conhecemos hoje, vem do Papa Gregório XIII, no ano de 1582. Daí vem a expressão “calendário gregoriano”. Mas essas são outras histórias.
Voltando ao que interessa, Janeiro, para quem mora no Nordeste do Brasil, é sobretudo mês de céu azul, sol forte e mar quente. Perfeito para férias à beira mar. Com sabores próprios desse tempo. Entre eles destaque para o camarão – de mar ou, muito mais saboroso, de água doce. Pero Vaz de Caminha até deu testemunho: “Alguns índios foram buscar mariscos e apenas acharam alguns camarões grossos e curtos, entre os quais vinha um muito grande camarão e muito grosso, que em nenhum tempo o vi tamanho”. Falava do mais famoso dos camarões de rio, o pitu. A seu lado, temos também aratu, caranguejo, lagosta, polvo, siri. E peixes de todo tipo – beijupirá, camurim, carapeba, cavala (especialmente a perna de moça), cioba, garoupa, pescada amarela, sirigado, tainha, quase todos mantendo o nome que lhes foram dado por nossos índios. Seja como for, o importante é que estejam sempre frescos – carne firme, olhos e escamas brilhantes, guelras úmidas e vermelhas. E que sejam preparados de maneira simples – assado, cozido, grelhado ou no vapor. Sem muito tempero, de preferência, para conservar seu sabor natural – devendo levar apenas azeite, ervas frescas, pimenta e sal grosso.
Janeiro é também tempo de muitas frutas – abacaxi, araçá, caju, goiaba, manga, mangaba, pitanga. Sem esquecer aquelas sem muito prestígio, mas que têm sabor de infância, esse território mágico que acompanha o homem pela vida como uma sombra. São frutas muito especiais, mistura rica de sabores e lembranças – brincadeiras, férias, trelas, os amigos da escola, a casa dos nossos avós. Colhidas nos quintais, num tempo em que ainda se vivia em casas com quintais, Ou compradas nas portas de casa, em balaios de vime que vendedores levavam na cabeça ou em varas penduradas nas costas. Anunciadas em pregões que nossos ouvidos de antes não conseguem esquecer. Faltando só lembrar das frutas roubadas nas árvores dos vizinhos – que, não se sabe por que, eram sempre mais saborosas. Talvez por lembrar o pecado, uma imagem que remonta à fruta proibida do jardim do Éden.
Mas Janeiro é, sobretudo, tempo de ter a família reunida, receber amigos, celebrar a vida



