Poemas de Natal
Natal é sempre celebrado em volta da mesa. Reproduzindo o gesto de Cristo, para quem a mesa era um dos fortes alicerces da sociedade. Símbolo de união, de comunhão, de partilha. Disso falamos todos os anos, aqui. Mas é também alimento para a alma. Por isso deixei os sabores de lado, para dizer algumas palavras ao coração dos queridos leitores. E faço isso pela voz de dois grandes poetas. Um da terra e outro do além-mar. Um é Carlos Pena Filho, o poeta do azul, um dos maiores da língua portuguesa.
POEMA DE NATAL (Carlos Pena Filho)
Sino, claro sino,
Tocas para quem?
Para o Deus menino
que de longe vem.
Pois se o encontrares
Traze-o ao meu amor.
E que lhe ofereces,
Velho pecador?
Minha fé cansada,
meu vinho, meu pão,
meu silêncio limpo,
minha solidão.
O outro é o cardeal dom Tolentino Mendonça, ensaísta e poeta português, especialista em estudos bíblicos. Vive no Vaticano desde 2018, onde ficou responsável pela Biblioteca Apostólica e pelo Arquivo Secreto do Vaticano. No ano passado foi escolhido, por Papa Francisco, como prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação da Santa Sé. Para ele, “a poesia é a arte de resistir ao seu tempo”.
O NATAL NÃO É ORNAMENTO
O Natal não é ornamento: é fermento
É um impulso divino que irrompe pelo interior da história
Uma expectativa de semente lançada
Um alvoroço que nos acorda
para a dicção surpreendente que Deus faz
da nossa humanidade
O Natal não é ornamento: é fermento
Dentro de nós recria, amplia, expande
O Natal não se confunde com o tráfico sonolento dos símbolos
nem se deixa aprisionar ao consumismo sonoro de ocasião
A simplicidade que nos propõe
não é o simplismo ágil das frases-feitas
Os gestos que melhor o desenham
não são os da coreografia previsível das convenções
O Natal não é ornamento: é movimento
Teremos sempre de caminhar para o encontrar!
Entre a noite e o dia
Entre a tarefa e o dom
Entre o nosso conhecimento e o nosso desejo
Entre a palavra e o silêncio que buscamos
Uma estrela nos guiará



