O alerta que vem da Europa e o desafio do Brasil diante da crise climática
Em 2025, a Europa enfrenta o pior ano de incêndios florestais desde 2006. Segundo dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS), mais de 1 milhão de hectares de vegetação já foram destruídos no continente, com destaque para Espanha e Portugal, países que concentram as maiores áreas atingidas. O fenômeno não é isolado: ele é resultado direto do aumento das ondas de calor, da intensificação das secas e da ação de ventos fortes, todos efeitos já amplamente associados às mudanças climáticas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
O cenário europeu nos obriga a refletir sobre nossa própria vulnerabilidade. O Brasil, apesar de abrigar o maior bioma tropical do mundo, convive com fragilidades estruturais semelhantes às que potencializaram a tragédia europeia. No caso do Nordeste, os riscos são ainda mais evidentes: trata-se de uma região historicamente marcada por secas, desigualdades socioeconômicas e capacidade limitada de resposta a desastres ambientais. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a região semiárida concentra 86% das ocorrências de estiagem do país, e o Atlas de Desastres Naturais da Defesa Civil aponta que secas e incêndios florestais estão entre os eventos mais recorrentes e devastadores para a população nordestina.
A cooperação internacional já tem mostrado seu valor. Quando a Espanha solicitou apoio emergencial para seus bombeiros, o Brasil respondeu enviando alimentos desidratados produzidos em território nacional, capazes de garantir energia rápida e eficiente às equipes de combate em campo. Esse gesto, ainda que pontual, evidencia algo maior: nenhum país pode enfrentar sozinho a crise climática. A solidariedade global precisa estar no centro da agenda.
Entretanto, a lição mais importante não está apenas na resposta, mas na prevenção. Relatórios recentes do Banco Mundial e da Organização Meteorológica Mundial (OMM) apontam que cada dólar investido em prevenção de desastres gera uma economia de até sete dólares em resposta e reconstrução. Para o Brasil, essa lógica é ainda mais urgente: nosso território concentra tanto áreas de risco de desertificação no semiárido quanto regiões amazônicas suscetíveis a incêndios e degradação.
Se nada for feito, o verão de 2026 pode representar um ponto crítico. Projeções do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) indicam que os episódios de seca prolongada no Nordeste tendem a se intensificar, afetando não apenas a disponibilidade de água, mas também a agricultura familiar, que responde por grande parte da segurança alimentar local. No campo ambiental, os biomas da Caatinga e do Cerrado, já pressionados por desmatamento e uso insustentável do solo, correm risco de colapso em escala regional.
É fundamental, portanto, adotar uma agenda que combine políticas públicas robustas, inovação tecnológica e participação social. Isso significa fortalecer os sistemas de monitoramento climático e hidrológico, ampliando a rede de estações e a integração de dados em tempo real. Também investir em brigadas permanentes e treinamento comunitário, garantindo capacidade local de prevenção e resposta rápida a incêndios e secas. Além disso, ampliar incentivos à agricultura resiliente, com irrigação eficiente, recuperação de solos e uso de espécies adaptadas às mudanças climáticas. E, por fim, integrar prevenção e proteção social, assegurando que comunidades vulneráveis tenham acesso a programas de transferência de renda, água potável e infraestrutura mínima diante de eventos extremos.
O futuro climático do Brasil, especialmente do Nordeste, não será definido apenas pela intensidade dos eventos, mas pela qualidade das nossas escolhas no presente. A experiência europeia mostra que esperar o desastre acontecer custa vidas, recursos e tempo. O caminho mais inteligente é agir antes.
Como sociedade, temos de entender que cada decisão, desde a formulação de políticas públicas até os investimentos privados em sustentabilidade, constrói o amanhã. A crise climática já está aqui. O futuro não é distante: ele começa agora, e depende da coragem das escolhas que fazemos hoje.



