A inércia e o desafio
Entre a resistente armadilha da renda média e o compromisso com um plano estratégico
O Brasil está por passar o primeiro quarto do século XXI, ainda preso ao enfrentamento de um gargalo estrutural bastante conhecido pela própria História. Refiro-me à fraqueza de uma nação que não soube como conquistar o seu pleno desenvolvimento, por conta de falhas, erros e omissões que impediram fazer valer seu imenso potencial. Lamentavelmente, o país é um exemplo de incompletude, sobretudo, nos fatos que poderiam ter transfornado, de modo efetivo, uma realidade socioeconômica vulnerável.
Lições antropológicas e sociológicas da nossa formação são variadas e até mesmo divergentes. No entanto, a riqueza que se extrai dessa análises e a expõe como força motriz de uma identidade cultural invejável, possui simbolismo e grandeza. E isso, por si, já representa um passo importante do que pode ser hoje projetado como alvo do desenvolvinento. No entanto, as lições econômicas que contribuem para transformar, verdadeiramente, a sociedade, ainda não lograram o êxito desejável.
Por um lado, tem-se uma inércia que, há 40 anos, não impõe qualquer ritmo dinâmico que faça crescer a economia e dar-lhe a devida sustentação. Por outro, como consequência disso, a necessidade de se estabelecer uma revisão de estratégias, que permita o país encarar o desafio de planejar um novo padrão de desenvolvimento. Agora, num ambiente onde os bens imateriais e intangíveis imprimam as regras do jogo.
Algumas observações gerais sobre esses dois pontos não cabem aqui. Aliás, parte deste meu cometário é decorrência de uma troca de análises que fiz com o mestre economista Marcos Formiga. Conversávamos exatamente sobre esse contexto dos 40 anos recentes de inércia, justo após 80 anos de relativa prosperidade, quando o PIB brasileiro chegou a quintuplicar. Portanto, essa tal inércia é tudo que dá sentido à armadilha da renda média, que outro Mestre, (Edmar Bacha) e outros importantes analistas econômicos (da PUC/RJ, da USP e do INSPER) têm-se debruçado.
Tudo isso constitui um quadro que deriva de um histórico de taxas de juros estratosféricas, quedas nos investimentos e crescente endividamento público. Particularmente, uma configuração tal, que deixa fragilizada uma política fiscal, que só alimenta o conflito dado pelo imperativo do controle de gastos, num país de baixo investimento público e elevada dívida social. Quando daqui miro para outros números desse contexto onde, por exemplo, em 11 dos 27 Estados da União, mais da metade dos municípios não se sustenta, o que há de se dizer?
Diante de toda essa adveridade, para alimentar alguma mínima esperança, saio da "casinha" da armadilha e projeto o futuro. É preciso mesmo dar evidência ao desafio e encarar a realidade de que a economia se move por ciclos e ainda se transforma, mesmo que submetida a tantos líderes políticos desconectados. Assim, na particularidade do planejamento público brasileiro, é cabível se rever estratégias e considerar que, sem educação, cultura, ciência, tecnologia e um olhar preservacionista para o meio ambiente, p país corre o risco de perder mais um século.



