Furtado, Brandt e a Soberania
Dois exemplos de resiliência que fortalecem os interesses econômicos nacionais
A expressão econômica de tudo aquilo que se move por fazer uso de suas teorias e práticas tem o seu valor e sua importância. Por mais que haja envolvimentos e contágios derivados de orientações político-ideológicas, os princípios éticos e o bom senso técnico precisam ser considerados. Assim, num contexto de política econômica em que a emoção ideológica se sobrepõe ao realismo das regras que ditam a Economia, chegar-se ao ponto de se promover riscos à soberania e aos interesses nacionais, representa o ápice do irracionalismo.
Está muito evidente que as manobras do Presidente Trump, na alçada das relações comerciais com o resto do mundo e, em particular, com o Brasil são uma prova cabal de um exercício de empáfia pessoal. Uma espécie de "travessura" típica de quem precisa dar exemplos de supremacia, cuja "brincadeira" só faz promover instabilidades econômicas e desrespeito à soberania de Estados parceiros.
Na contramão desse imperativo, claro que há provas e registros de teorias e práticas de enorme resiliência. Tomo aqui dois referenciais e, de público, agradeço e enalteço as lembranças que me foram passadas pelo economista Marcos Formiga. O momento oportuno das observações, deram-me sentido ao texto. Assim, o primeiro ponto a destacar diz respeito às análises competentes, pertinentes e criteriosas de ninguém menos que Celso Furtado. Em seguida, cabe destaque o trabalho técnico de Carlos Eduardo Brandt, que no "laboratório" do nosso Banco Central, comandou o grupo que propiciou a aplicação exitosa desse meio de pagamento com DNA Brasil: o PIX.
O meu prezado Formiga me trouxe a oportuna informação da coincidência de um ato público em defesa da soberania nacional, realizado na Faculdade de Direito da USP, justo em 26 de julho passado, data dos 105 anos de Celso Furtado. Uma feliz coincidência, posto que, no bojo da produção intelectual do Mestre Paraibano, a preocupação com a soberania esteve bem presente à sua obra. Mais precisamente, em "Formação Econômica do Brasil (1959)", quando aqui se vivia numa dependência econômica externa, ancorada no ritmo do comércio, do custeio e das tecnologias, tudo ditado pelo modelo simplista agrário-exportador, o olhar criterioso do pensador já emitia os primeiros sinais. Naquele momento, era preciso rever o padrão de desenvolvinento para mitigar aquela dependência e daí fortalecer práticas mais soberanas.
Agora, mais recentemente, o exemplo abusivo de quem, de fora e com toda sua imposição monarca, tenta interferir até nos meios de pagamentos nacionais. A implantação e o sucesso do PIX, que nada tem a ver com governos e discursos políticos, representa uma conquista da nação e jamais poderá se render às imposições e intromissões que venham do além das nossas fronteiras.
Estão aí dois exemplos de resiliência que têm a cara de uma Economia, verdadeiramente, verde e amarela.



