Sex, 05 de Dezembro

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Nem 8, nem 80

Incômodos das profecias

As incertezas são o melhor dos manuais das ideologias econômicas

Alfredo BertiniAlfredo Bertini - Rafael Melo/Folha de Pernambuco

A dinâmica que impõe o ritmo das economias não costuma ser tão imperativa e determinística, tal e qual analistas e operadores dos mercados esperam. E quando, associado ao fato, ainda paira no ar uma boa dose de desconfiança e/ou má fé com a política econômica do governo, o quadro resultante configura as marcas das incertezas. 

O danado desse "puxa e escolhe" fica mais instigante, quando a onda da desconfiança se  vê contrariada pelos números. As profecias são desmentidas pelo pragmatismo, por mais que os resultados não sejam tão significativos o suficiente, para que haja comemorações efusivas.

Pois bem, mais uma vez, o IBGE traz à tona novas surpresas estatísticas, que nada exprimem o renitente mau humor de muitos agentes dos mercados. Por mais que se tenha quem ainda fale de um crescimento pífio de 0,4% neste segundo trimestre, o fato real é que nem se esperava por esse resultado. E se o analista criterioso quiser ainda atenuar as menções críticas, num simples olhar para o acumulado de um ano, esse crescimento revela surpresa maior: 3,2% de expansão. No entanto, como o "mau humor" tem muitas vezes um viés ideológico, é preciso virar a lente e trazer leituras diferentes. Mais pessimistas. Algo como dizer que há uma "desaceleração em curso" e que, dado o elevado patamar da taxa de juros, o cenário futuro seguiria nebuloso.

Como disse na abertura do texto, precisão não dita o cotidiano de qualquer economia. Ademais, quase tudo que aqueles agentes do mercado têm insinuado para se colocarem em discordância com a política pública, foi minimizado por situações fáticas. Pode não ser o país idealizado por eles, mas as conquistas discretas -  e sem pirotecnia - até aqui alcançadas revelam um padrão que já foi tolerado, quando outros governos tiveram conquistas semelhantes.  Um comportamento que transforma a suspeita de que as reações são mais ideológicas que pragmáticas. Isso só fortalece que há mesmo uma indisposição prévia por intolerar o que vem do esforçado Haddad e sua equipe.

A verdade fática pode trazer um incômodo para quem faz profecias no campo da economia. Para isso, imbuído do pensamento de Nietzsche, vale lembrar que, assim como a vida, parece mesmo que a dinâmica econômica não tem manual rígido de instruções que a faça tão precisa. Na maioria das vezes, a realidade se impõe como um tapa na cara e não há "profetas" capazes de contê-la. 

Em suma, nem analises prospectivas, nem muito menos políticas públicas, sejam ambas incisivas ou anódinas, corrigem os níveis de incerteza. Na economia parece ser assim: quando o instrumental da matemática não resolve, o reforço à sua compreensão, enquanto ciência social, só a fortalece.

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