Sex, 05 de Dezembro

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Nem 8, nem 80

Minha vergonha cidadã 

O descaso com a educação expõe um real sentimento de traição

Secretaria de Educação e Esportes/Divulgação

Uma semana  comprometida com valores sociais foi capaz de fortalecer a responsabilidade da minha missão cidadã. No fundo, por ter sido graduado e pós-graduado em universidades públicas, procuro entender que preciso devolver à sociedade tudo que investiu na minha formação. Seja qual for a forma ou o contexto da atividade profissional que estou envolvido.

E o que, de fato, aconteceu nesta semana, para que pudesse aqui evidenciar tal sentimento de vergonha? Bem, das quase 40 edições do Cine PE, permito-me aqui registrar 25 delas com contrapartidas sociais. A destacar, portanto, um esforço dirigido, em larga medida, para atender alunos da rede pública de ensino. Não apenas, pelo compromisso de se olhar para o lado da oferta e promover oficinas de iniciação à educação audiovisual. Também pela importância de, pelo lado demanda, estimular o consumo cultural, a partir de ações promotoras no ensino básico. Enfim, nessa trajetória, o que sobressai é a intenção de fortalecer nossa identidade, pelas lentes do audiovisual, com o propósito de formar cidadãos com valores culturais. Dito isso, agora conto o caso, conforme ele se revelou para mim.

A rede pública de ensino do Jaboatão dos Guararapes foi a escolha. O ambiente de trabalho definido foi uma unidade de ensino, chamada de "Nossa Escola". 23 alunos considerados diferenciados ou vocacionados para o aprendizado compõem o  cenário desse trabalho socioeducativo.

Surpresas no processo? Sim. E dignas de reflexão. Nesse sentido, pretendo reforçar algo que parece ser comum: a capacidade transformadora da educação. No entanto, também não posso deixar de expressar algumas resistências, que mpõem contradições estruturais, capazes de mostrar o descaso. Incrível como uma discreta amostra, extraída de dentro de uma convivência escolar,  pode ser suficiente para entender a dura realidade social, semelhante àquela que se vê pelo país. 

Sobre a questão dos valores convergentes, a experiência que extraio dessas ações de formação, revela um fato: o quanto a escola integral é mesmo indispensável. Neste particular, o grau diferenciado está dado pelo fato de a "Nossa Escola" ter o melhor IDEB da Região Metropolitana do Recife. E esse perfil está bem retratado no curso. Impressionou-me o nível cognitivo dos alunos. Se extrapolo o fato para um plano maior, digo que essa percepção só reforça os indicadores já comprovados de que a escola integral é a variável mais significativa, na explicação do desempenho acadêmico e da qualificação profissional. 

Pena existir o outro lado dessa história, por mais que se saiba desse peso da integralidade. Isso está no tamanho das adversidades. Não fossem a dedicação desmesurada do binômio professores/servidores e, muitas vezes, a capacidade de improvisar, mesmo com instalações e equipamentos inadequados, os resultados da escola integral seriam ainda piores.

Em suma, a ausência de um compromisso maior da sociedade com uma educação básica, que se mova através do ensino integral é algo que me envergonha como cidadão. Faz-me sentir traido pelo Brasil, pois não há como o país se transformar e seguir num plano sustentável de desenvolvimento, sem que a educação possibilite resgatar, minimamente, seus recursos humanos. Enquanto se desperdiça energia com conflitos idiotas, o atraso na promoção da educação básica compromete gerações.

É como disse o escritor britânico George Orwell:
“Quanto mais a sociedade se distancia da verdade, mais ela odeia aqueles que a revelam."

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