Outras visões de liberdade e cadeia
A ignorância sobre cultura destaca agora um olhar em 4D
Bem que gostaria de comemorar hoje os 5 anos desta coluna, de um jeito mais suave. Mas, diante de novos ataques ao exercício produtivo do setor cultural, não posso me omitir de uma reação.
Nesta "Era do Caos", vive-se o tempo dos apropriadores da semântica. Não lembro de quando e quanto a democracia e a liberdade foram tão ultrajadas nas suas interpretações. Hoje, o exercício corriqueiro de tais ultrajantes está no aproveitar-se das condições institucionais para que, sutilmente, possam subvertê-las às suas intenções mais autoritárias.
Levitsky e Ziblatt, autores de "Como as Democracias Morrem", foram emblemáticos ao mostrarem o avanço dos ofícios autocratas, pelo uso das próprias regras democráticas. Nesse sentido, a percepção do que seja a liberdade e, até mesmo, a incompreendida "livre expressão", representam situações que fluem em via única. Tão somente, à maneira de serem catalisadoras de interesses ideológicos. Daí, não há medidas e nem limites, pois querem sobrepô-los às distintas formas de agressões ou às viesadas interpretações das leis vigentes. É assim que pensam.
Recentemente, registrei mais uma incompreensível visão conceitual. Aliás, na sua essência, trata-se também de um viés ideológico que põe a produção de bens culturais, num plano de destruição dos seus diferentes valores identitários e econômicos. Noutras palavras, quero me referir à resistência dos que insistem em só enxergarem o setor cultural pelas lentes de um diletantismo voluntário, para ser generoso. Ou pior, pelas lentes do desprezo destrutivo.
Uma vez que aqui me expresso pela modo de enxergar, costumo dizer que esse movimento pela Ignorância acresce à percepção trivial do 3D (desconhecimento, desinformação e desleixo com os valores culturais), um quarto D: o de destruição. Tão pior quanto ignorar o que representa o vetor estratégico da identidade cultural, só mesmo a incapacidade de perceber o sentido econômico que está por trás de qualquer atividade do ambiente da Cultura. Fico aqui por imaginar a razão de tanta miopia, embora isso possa destilar algum sentido. Afinal, como os negacionistas não costumam consumir o amplo "cardápio cultural", não têm como perceberem o que sequer representa uma ficha técnica das produções. Seriam tantos postos de trabalho listados, apenas por amor à arte? Fazer cultura é ato de amantes. Mas, por mobilizar fatores de produção de modo igual a outras atividades, é também prova de Economia.
É daí que extraio o sentido que, por conta da estupidez e da subserviência corporativa, diferencia um projeto de lei no Congresso. Refiro-me ao absurdo de se "transferir" os incentivos da Lei Rouanet para a construção de presídios. Não se trata apenas da repetição da prova do 3D, com a quarta adição do D da destruição. É entender mal o que seja a cadeia que interessa para esta análise: a produtiva. Justo pela importância que extrapola o valor identitário, por causa do enorme impacto econômico. Enfatizo que informações a respeito estão ao alcance de todos. Basta procurá-las.
Os que insistem em seguir na contramão não percebem que a cadeia cultural tem valoração econômica. Esquecem, ainda, que todo setor tem o poder de transformar, ao salvar e libertar muitos que são candidatos aos presídios propostos para o incentivo.
Está na hora de se considerar o melhor sentido de uma cadeia.



