A importância das palavras para a evolução pessoal e o autoconhecimento
Por: Frederico Fernandes
A sociedade vive cada vez mais em bolhas sociais que nos impõem limites rígidos. Parece que só podemos ser uma coisa ou outra. Cobra-se diversidade nas palavras, mas pouco se pratica nas atitudes. Em reuniões, no trabalho ou em contextos sociais, adaptamos nosso discurso para que o bem-estar coletivo prevaleça, mesmo que o caos interno exista. O que sentimos fica escondido, desde que a aparência agrade as expectativas. Esse padrão nos empurra a nos encaixar: enquanto pensamentos fervilham na mente, somos obrigados a condensar tudo em 140 caracteres. E o que fazemos com o resto? Guardamos num cantinho.
As palavras que contamos ao mundo e a nós mesmos
Toda palavra dita ou não dita carrega poder. Muitas vezes, enfeitamos o discurso para evitar ofender ou ser mal interpretados. O risco? Quase nunca falamos o que realmente precisamos. Somos responsáveis pelo que dizemos e pelo que o outro entende. Por isso, garantir que a mensagem seja clara é fundamental. O cuidado com as palavras deve estar presente em todas as relações, especialmente na comunicação consigo mesmo.
Aqui mora um risco silencioso: a sociedade nos molda, padroniza e vivemos em dívida com nós mesmos. Na autocrítica, o que você diz em silêncio? Frases como “não sou capaz”, “nunca vou conseguir” ou “isso não é para mim” são comuns e criam barreiras que impedem nosso crescimento pessoal e profissional.
As palavras são escolhas e escolhas constroem caminhos
A vida nos empurra para caminhos para os quais precisamos para que possamos nos transformar em pessoas melhores, por isso as palavras que escolhemos usar diariamente com os outros e, principalmente, conosco, são mais do que comunicação: são decisões que moldam nossos caminhos.
Quando afirmamos para nós mesmos "não consigo", neste momento, talvez estejamos fechando uma porta, mesmo que a princípio não saibamos. Existem estudo falando sobre como as palavras negativas afetam nossa saúde física e mental, além de modular a percepção da realidade.
Ao dizer "estou tentando", “eu posso fazer isso”, abrimos espaço para o crescimento e assumir o protagonismo da própria narrativa. Quando você muda a forma como fala sobre si e sobre sua vida, você muda a forma como vive.
Escutar a si é o início da transformação
Muitas vezes, escutamos mais o outro do que a nós mesmos. Queremos ser o ombro amigo, mas quem é o nosso? Quando conseguimos organizar as palavras que fervilham em nossos pensamentos? Cada um escolhe um caminho — dar nome ao que sente, fazer terapia, conversar com alguém ou, ainda, escrever para se perceber e se escutar.
Silenciar nossos desejos e emoções é um ato desumano consigo mesmo. Acolher o que ficou escondido e nomear a dor são formas de respeito e cuidado com nossa história. Não se trata de exigir que o outro entenda, mas de nos compreendermos como indivíduos em uma coletividade.
Dar sentido ao que vivemos nos permite enxergar além, conhecer a nós mesmos em profundidade e usar as palavras como pontes para a nossa própria reconstrução. É perguntar: “O que sinto agora?”, “Que proteção há nesse medo?”, “O que aprendo com isso?”. Esse é nosso espaço interno, seguro, onde as palavras existem sem medo ou censura.
Cultivar a palavra é sempre cuidar de si
Num mundo que exige pressa, aparência e performance para validar existências, escolher as palavras com intenção é um gesto raro, ou seja, é quase um ato de resistência. Hoje, muitas pessoas falam apenas por falar, para serem notadas. Mas as palavras não têm só o poder de dizer, elas revelam como pensamos. E, em algumas situações, não é a palavra que importa, mas o silêncio. Escolher o que calar também é um gesto de sabedoria e um exercício contínuo de autoconhecimento.
Cuidar das palavras é cuidar do que pensamos, do que sentimos e, sobretudo, de como nos tratamos. É perceber que cada frase interna pode ser uma ponte ou um abismo. Entre o silêncio e a fala mora a sabedoria de quem aprendeu a escutar antes de responder e a escutar com verdade. Por isso, palavras não são sobre encontrar respostas prontas, mas sobre ter coragem de fazer perguntas reais e escutar o que surge. Muitas vezes, essa escuta começa com uma única palavra: permissão.
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Sobre o autor: Frederico Henrique Madureira Fernandes nasceu em Mococa (SP) e é bacharel em Administração, pós-graduado em Recursos Humanos e MBA em Liderança, Inovação e Gestão 4.0. Atua como especialista em Remuneração, mas encontrou na escrita um espaço de autoconhecimento e expressão. Ao transformar vivências e emoções em palavras, descobriu um caminho de acolhimento e presença, que agora compartilha com o público em Um lugar chamado Eu.
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