Fundação Abrinq mostra que 77% dos adolescentes no país exercem atividades como trabalho infantil
A Fundação Abrinq lança uma análise inédita sobre o trabalho infantil no Brasil com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE. O relatório traz um alerta: no primeiro trimestre de 2025, cerca de 1 milhão de adolescentes de 14 a 17 anos estavam envolvidos em atividades consideradas como trabalho infantil, o equivalente a 77% de todos os adolescentes ocupados nesse grupo etário.
Embora o Brasil venha apresentando uma queda constante nas taxas de desocupação desde 2022, o fenômeno do trabalho infantil persiste de forma alarmante. A média histórica entre 2018 e 2025 indica que mais de quatro em cada cinco adolescentes ocupados (82,9%) executavam atividades que se enquadram como trabalho infantil segundo os critérios internacionais.
Adolescentes enfrentam maiores barreiras no mercado de trabalho
A taxa de desocupação entre adolescentes de 14 a 17 anos foi de 26,4% no primeiro trimestre de 2025, quase quatro vezes mais alta do que a média nacional. Essa dificuldade de inserção leva muitos jovens a aceitarem postos informais, mal remunerados e até ilegais, destaca o relatório. Apesar de uma leve tendência de queda na proporção de adolescentes em situação de trabalho infantil, os números permanecem elevados e indicam que a precariedade ainda é uma realidade para mais de 1 milhão de jovens brasileiros.
Perfil do adolescente trabalhador: informalidade, baixa remuneração e desigualdade racial
A maioria dos adolescentes em situação de trabalho infantil está inserida em ocupações informais. Mais da metade deles (59,6%) trabalham como empregados no setor privado sem carteira assinada. Outros 28,8% atuam como trabalhadores por conta própria ou como auxiliares em negócios familiares, sem qualquer tipo de remuneração formal.
No que diz respeito à renda, a média recebida por adolescentes de 14 a 15 anos equivale a apenas 45,6% de um salário mínimo (R$ 644,87). Entre os de 16 a 17 anos, o rendimento médio sobe para 62,5% do piso nacional (R$ 882,50), mas ainda reflete a precariedade das condições oferecidas.
O estudo também evidencia desigualdades raciais: mais de 63% dos adolescentes em situação de trabalho infantil se declaram pretos ou pardos, apontando para a persistência do racismo na dinâmica das violações de direitos.
Ciclo de vulnerabilidade
A pesquisa indica que a entrada precoce no mercado de trabalho impede que os adolescentes frequentem a escola, comprometendo o rendimento escolar e limitando oportunidades futuras.
Além disso, o estudo aponta correlação entre a alta incidência de trabalho infantil e momentos de crise econômica. Entre 2020 e 2021, período mais crítico da pandemia de COVID-19, o índice de adolescentes em trabalho infantil superou os 85%. Em contextos de escassez de empregos, o mercado tende a absorver mão de obra mais vulnerável, incluindo adolescentes em condição irregular.
Urgência de políticas públicas
Para a Fundação Abrinq, a erradicação do trabalho infantil exige uma atuação articulada entre poder público, setor empresarial e sociedade civil. “É preciso intensificar a fiscalização das relações de trabalho, especialmente nos setores que mais recorrem à exploração infantil”, afirma Victor Graça, superintendente da organização.
O estudo reforça a urgência de políticas públicas eficazes e bem monitoradas, sobretudo em um contexto de recuperação econômica. Mesmo com a melhora dos indicadores do mercado de trabalho, o trabalho infantil persiste como um grave entrave ao desenvolvimento pleno de milhões de crianças e adolescentes no Brasil.
Não ao trabalho infantil
A Fundação Abrinq lança a edição 2025 da campanha Não ao Trabalho Infantil, reforçando a importância de manter o enfrentamento a essa grave violação de direitos. Como parte da ação, estão disponíveis gratuitamente materiais de conscientização como cartazes, peças digitais e banners. Todo o conteúdo pode ser acessado em www.naoaotrabalhoinfantil.org.br



