O papel da Aprendizagem Criativa no desenvolvimento de competências socioemocionais
Na educação básica, aprender vai muito além de acumular conteúdos: envolve sentir, se relacionar, escutar, colaborar, errar, tentar de novo e crescer. A Aprendizagem Criativa, mais que uma abordagem, é uma filosofia de ensino que coloca o estudante no centro do processo, valorizando sua expressão intelectual, emocional e social.
Inspirada no construcionismo, essa abordagem parte da ideia de que crianças aprendem melhor ao construir algo com significado pessoal. Projetos realizados com paixão, em colaboração e com espaço para explorar e brincar favorecem o desenvolvimento de competências socioemocionais como empatia, colaboração e resiliência.
A empatia floresce em ambientes que valorizam a escuta e o reconhecimento do outro. Em atividades criativas, estudantes compartilham histórias e pontos de vista. No projeto “Memórias de vida: poemas inspirados na Canção do Exílio” realizado na Classe Hospitalar EJA Nefro - Anexo da UEB Jornalista Neiva Moreira, de São Luís - MA, por exemplo, os alunos expressaram suas memórias por meio da poesia. Já a “Caravana Inclusiva”, realizada pela Secretaria Municipal de Educação de Caruaru-PE, promoveu contato com diferentes realidades, sensibilizando a comunidade escolar para questões de inclusão e diversidade.
A colaboração também é essencial. A Aprendizagem Criativa defende que aprendemos melhor com e pelos outros. O projeto “Mãos na Massa: práticas inclusivas a partir da culinária”, aplicado pela Escola Centro de Atendimento Educacional, em Queimados-RJ, estimulou o trabalho em grupo, promovendo trocas de saberes, respeito e fortalecimento de laços. Essas experiências transformam a sala de aula em um espaço coletivo de escuta, construção e pertencimento.
Outro aspecto importante é a resiliência, desenvolvida a partir da compreensão de que errar faz parte do processo criativo. A Espiral da Aprendizagem Criativa - imaginar, criar, brincar, compartilhar, refletir - convida os estudantes a experimentar, revisar ideias e aprender com cada tentativa. O conceito de “diversão trabalhosa” mostra como o envolvimento genuíno nos projetos estimula a dedicação e a persistência. A cultura do tinkering - experimentar, adaptar, improvisar - fortalece a capacidade de lidar com desafios e buscar soluções criativas.
Projetos com propósito e caminhos possíveis para implementação
Projetos são o coração da Aprendizagem Criativa. Quando surgem de curiosidades reais dos estudantes ou de boas perguntas norteadoras, adquirem um significado que ultrapassa a obrigação escolar. O projeto “Soluções para ajudar a salvar o planeta” implementado pela Escola Municipal João Macedo Filho, de Curitiba-PR, por exemplo, mobilizou fortemente os alunos ao propor desafios conectados com a realidade e o futuro do mundo. O engajamento nasce da escuta verdadeira dos interesses dos estudantes e da inclusão de perguntas abertas e culturalmente significativas nas atividades. Um ambiente lúdico, que estimula a curiosidade, o brincar e a descoberta, contribui para que todos se sintam seguros para participar e aprender.
Mesmo em contextos de vulnerabilidade social, é possível adotar a Aprendizagem Criativa de forma acessível. Caminhos incluem promover escuta ativa, formular boas perguntas, criar espaços colaborativos, garantir liberdade para errar e recomeçar, estimular a autoria com múltiplas linguagens, compartilhar com a comunidade e adaptar práticas às realidades das turmas.
Implementar essa abordagem também exige enfrentar desafios como resistência à mudança, escassez de tempo e expectativas tradicionais. Para superá-los, é importante valorizar o processo criativo, formar parcerias entre docentes, diversificar materiais, assumir novos papéis como educadores-designers, refletir junto aos estudantes, abrir a escola à comunidade e investir em formações contínuas.
Os impactos são profundos e vão além das notas. Eles aparecem no brilho nos olhos, na autoconfiança e nas relações fortalecidas. Em “Através da minha janela: carta aberta aos estudantes”, implementada na Escola Estadual Humberto Mendes, de Alagoas, os alunos expressaram sentimentos sobre a transição de ciclos, reforçando o autoconhecimento. Em “Mapa do Céu: guia para curiosos”, implementado pela Escola Municipal Professor Mário Bergamasco, até os mais desmotivados se envolveram com entusiasmo. Essas vivências mostram que a Aprendizagem Criativa contribui para formar estudantes mais empáticos, colaborativos e resilientes - e, acima de tudo, mais preparados para viver em sociedade.
Thais Eastwood Vaine é Coordenadora de Formação e Inovação Pedagógica no Instituto Escolas Criativas



