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Saúde e bem-estar

Transtornos alimentares: impactos no corpo, na mente e na relação com a comida

Silenciosos e muitas vezes invisíveis, os transtornos alimentares afetam a saúde física e emocional

O tratamento do transtorno alimentar é multidisciplinarO tratamento do transtorno alimentar é multidisciplinar - Canva

Os transtornos alimentares não nascem apenas de uma relação distorcida com a comida. Eles são manifestações complexas de sofrimento emocional, construídas lentamente por fatores genéticos, psicológicos, sociais e culturais. Ao contrário do que muitos pensam, não se trata apenas de “vaidade” ou “falta de controle”. São condições médicas sérias, com impactos profundos sobre a saúde física e mental. Entre os transtornos mais comuns estão a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno da compulsão alimentar periódica. Em cada um deles, o comportamento alimentar se torna disfuncional: há restrição extrema de alimentos, compulsão seguida de culpa, vômitos induzidos, uso abusivo de laxantes, jejuns prolongados ou crises de ingestão descontrolada de comida. Por trás desses padrões, quase sempre está a dor psíquica: uma tentativa de compensar emoções difíceis, recuperar a sensação de controle ou responder à pressão de padrões estéticos irreais.

O diagnóstico precoce é fundamental, mas nem sempre fácil. Muitos pacientes escondem os sintomas, minimizam os riscos ou sequer percebem que há algo errado. A negação costuma ser uma parte do quadro. Por isso, o olhar clínico precisa ser sensível e atento. Mudanças bruscas de peso, preocupação excessiva com a imagem corporal, rituais alimentares estranhos, oscilação de humor e retraimento social são sinais de alerta. O diagnóstico se baseia em uma avaliação abrangente: clínica, nutricional e psicológica. É importante lembrar que nem todo corpo que sofre com um transtorno alimentar “parece” doente. Há sofrimento mesmo quando o peso está dentro do que se considera normal.

O tratamento deve ser sempre multidisciplinar. Nenhum profissional, isoladamente, dá conta da complexidade que envolve essas condições. Médicos, psicólogos, nutricionistas e, em muitos casos, psiquiatras, precisam atuar juntos, com escuta ativa, paciência e cuidado. Além da atuação clínica, o acolhimento da família e da rede de apoio é essencial. Muitas vezes, familiares se sentem perdidos, com medo de agir errado ou de “agravar” o quadro. Por isso, orientá-los é tão importante quanto cuidar do paciente. Ambientes que oferecem escuta, compreensão e ausência de julgamento ajudam na recuperação. Comentários sobre peso, corpo e alimentação.

Por fim, é importante lembrar: transtornos alimentares têm tratamento. A recuperação é possível, embora muitas vezes lenta e cheia de altos e baixos. O caminho não é simples, mas começa com um gesto: procurar ajuda. E, ao contrário do que muitos pensam, pedir ajuda não é sinal de fraqueza, é sinal de coragem. É o primeiro passo para se reconectar com o corpo, com os sentidos e com a vida. Mais do que julgamento ou conselhos apressados, quem atravessa esse processo precisa de empatia — um olhar que acolhe, compreende e caminha junto, sem pressa, mas com presença.

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Acontece

Outubro Rosa: Check-up completo

Fernanda Vieira e Juliana Vieira estão à frente da Endogastro Recife - Foto: Divulgação

É tempo de se engajar em mais um Outubro Rosa, campanha que já salvou tantas vidas e continua sendo fundamental — afinal, o câncer de mama ainda é o que mais mata mulheres no Brasil. Pegando carona nesse período de conscientização e no foco da prevenção, as médicas Juliana e Fernanda Vieira, à frente da Endogastro Recife, chamam atenção para outro alerta importante: o câncer colorretal, que ocupa o segundo lugar no ranking de mortalidade feminina no país.

Como as lesões surgem e evoluem de forma silenciosa, muitas vezes sem sintomas, o grande desafio é o diagnóstico precoce. Por isso, cada vez mais ginecologistas têm incluído a colonoscopia nas requisições de check-up para mulheres a partir dos 45 anos, como forma de ampliar o cuidado integral à saúde feminina.

A colonoscopia é o exame mais eficaz para detectar precocemente pólipos e alterações no intestino, permitindo a remoção de lesões antes que se tornem malignas. Quando feita de forma preventiva, pode literalmente salvar vidas.

Na Endogastro Recife, a tecnologia também é aliada da prevenção: a clínica conta com um aparelho de colonoscopia com uso de Inteligência Artificial (IA), capaz de aumentar a precisão do exame e identificar até pequenas alterações que poderiam passar despercebidas ao olho humano. Esse avanço representa um passo importante na detecção precoce do câncer colorretal e reforça o compromisso da equipe com o diagnóstico seguro, humanizado e de alta performance.


Prevenção ao câncer de mama

Mulheres com idade a partir dos 40 anos podem fazer de graça, na próxima segunda (6), o exame de mamografia para prevenção ao câncer de mama. A ação - que integra a campanha Outubro Rosa - acontecerá das 8h às 17h, no Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE), na Imbiribeira, em parceria com a Prefeitura do Recife. O agendamento é prévio e as mulheres interessadas em participar deverão se inscrever pelo link: https://forms.gle/FDEDnQbuvjMC5AvN7. Além do exame realizado em um mamógrafo móvel, haverá ainda orientação ao público sobre a importância do autoexame, como realizá-lo e outros cuidados em relação à saúde. O Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE) fica na Avenida Marechal Mascarenhas de Morais, 3905, ao lado do Geraldão.


Hospital San Camilo terá unidade do Grupo Oncoclínicas em Arcoverde

O Hospital San Camilo, em Arcoverde (PE), vai abrigar a primeira unidade do Grupo Oncoclínicas no interior do Nordeste. A parceria, anunciada no mês em que o hospital completa um ano, prevê o início das atividades no primeiro trimestre de 2026. A nova unidade oferecerá quimioterapia, imunoterapia e acompanhamento com equipe multidisciplinar, unindo tecnologia de ponta e cuidado humanizado. Para o diretor do hospital, Breno Siqueira Fernandes, a iniciativa representa um marco para a saúde no Sertão e amplia o acesso a tratamentos oncológicos de excelência fora das capitais.


Em Pauta

Especialista explica os benefícios de “brincar” em todas as fases da vida

Letícia Amici, médica psiquiatra e professora da Faculdade São Leopoldo Mandic, também comenta o papel das atividades lúdicas na prevenção de distúrbios e doença de Alzheimer

Foto: Canva

Brincar é uma atividade fundamental no desenvolvimento humano. Quando criança, contribui para diversos aspectos, como a formação cognitiva, o gerenciamento de emoções ou o aprendizado das relações sociais. Mas as pessoas não deixam de se desenvolver após a infância; pelo contrário, este processo que acompanha o ser humano durante toda a sua jornada. Logo, brincar também é benéfico quando a vida se torna algo sério: em adultos, pode trazer benefícios inclusive na vida profissional, enquanto em idosos, auxilia na manutenção de funções essenciais para o bem estar. 

É o que explica a médica psiquiatra e professora da Faculdade São Leopoldo Mandic, Leticia Amici. De acordo com a especialista, a prática de atividades lúdicas na fase adulta estimula a liberação de substâncias importantes para o funcionamento cerebral, como a dopamina, associada ao prazer, aprendizado e motivação.

Exemplo deste benefício para a qualidade de vida veio de um estudo da empresa de brinquedos Mattel, com apoio dos institutos de dados e pesquisa MADO e Dynata. A partir de entrevistas com pessoas de todas as idades de sete países – incluindo o Brasil –, a pesquisa mostrou que quase a totalidade (94%) considera que brincar é um “superpoder humano”, essencial, transformador e duradouro, independentemente da idade.  Para a grande maioria, essas atividades ajudam a reduzir a solidão (87%), e inclusive 70% disseram já ter tido suas ideias mais inovadoras durante momentos de diversão. Porém, cerca de quatro em cada dez entrevistados dizem não brincar o suficiente, seja por falta de tempo (51%), companhia (38%), ou segurança (34%). 

“Atividades lúdicas, como aquelas em que é necessário resolver problemas ou improvisar, incentivam a flexibilidade cognitiva, estimulando a ativação e integração de inúmeros circuitos neuronais, o que é essencial no processo criativo”, comenta Letícia.

Nesta entrevista, a especialista comenta a importância da brincadeira em diversas funções da vida, como prevenção de distúrbios como burnout ou doenças como Alzheimer.  Confira abaixo.

Por que o brincar é importante não apenas na infância, mas também na vida adulta e na terceira idade?
Hoje, com as teorias mais modernas, sabemos que o desenvolvimento humano não se restringe à infância e adolescência, e continua ocorrendo, mesmo nos idosos, ainda que de maneiras diferentes, de acordo com cada fase da vida. Brincar, então, assume um papel fundamental ao longo de todo esse processo - na infância, contribui para o desenvolvimento cognitivo, sensório-motor e socioemocional; na adolescência, contribui para autonomia, inserção social e identidade. Nos adultos, o jogo estimula o bem-estar, o uso da criatividade, aumenta o repertório para resolução de problemas, e continua sendo uma atividade que reforça vínculos e interação social. Já nos idosos, o jogo pode ajudar a manter ou reabilitar funções executivas, como a memória, o planejamento e a atenção, além contribuir na socialização e com manutenção da funcionalidade, mesmo com as mudanças inerentes dessa fase da vida.

O que a ciência já comprovou sobre os impactos das atividades lúdicas no cérebro e na saúde mental?
Sabemos que as atividades lúdicas contribuem para a estruturação das circuitarias cerebrais, estimulando conexões neuronais e ativação de redes cerebrais importantes. Durante jogos e brincadeiras, por exemplo, sabemos que circuitos associados às funções executivas são estimulados, sejam através do controle inibitório, planejamento ou direcionamento da atenção, além de estimular regiões associados à linguagem e criatividade. Além desse estímulo direto nesses circuitos, o brincar também estimula a liberação de substâncias importantes para o funcionamento cerebral, como, por exemplo, a dopamina, associada ao prazer, aprendizado e motivação, contribuindo, consecutivamente, para o bem-estar.

Como atividades lúdicas podem ajudar a reduzir estresse, ansiedade e sintomas de burnout em adultos?
Atividades prazerosas, como as atividades lúdicas, contribuem tanto para liberação de neurotransmissores, que são substâncias essenciais no manejo da ansiedade e do burnout, por exemplo, assim como também atuam na redução de substâncias ligadas ao estresse, como os níveis de cortisol. 

Em que medida o brincar estimula a criatividade e a memória em adultos?
Atividades lúdicas, como aquelas em que é necessário resolver problemas ou improvisar, incentivam a flexibilidade cognitiva, estimulando a ativação e integração de inúmeros circuitos neuronais, o que é essencial no processo criativo. Já quanto à memória, hoje sabemos que as brincadeiras contribuem para a mobilização da atenção e para o fator motivacional, que são pilares fundamentais no processamento da memória. Além disso, também ajudam na consolidação da aprendizagem, já que diante as atividades lúdicas, utilizamos vários tipos de estímulos, facilitando a fixação de conteúdo, por exemplo. 

Jogos e brincadeiras podem ter efeito preventivo em doenças neurodegenerativas, como Alzheimer?
Hoje sabemos que atividades lúdicas atuam com uma peça importante na prevenção de transtornos neurodegenerativos, como os processos demenciais. Ao estimular a atividade dos circuitos cerebrais, os jogos contribuem para a manutenção adequada do que conhecemos como “reserva cognitiva”, um dos fatores de proteção contra os processos degenerativos. Estratégias de treinamento cognitivo baseados em jogos mostram-se como ferramentas importantes na melhora da memória e cognição.  Além disso, um outro fator de proteção neuronal associado aos jogos está na contribuição com a melhora do humor e bem-estar, através da liberação de neurotransmissores como a dopamina e serotonina. As brincadeiras também reduzem os estresses e fatores inflamatórios cerebrais, também atuando como um outro fator de proteção cerebral. Outro aspecto fundamental são os benefícios emocionais e sociais dos jogos, que atuam ativamente na prevenção da neurodegeneração.

Quanto tempo por semana um adulto deveria se permitir momentos de lazer lúdico?
Não há um consenso sobre qual o tempo adequado para as atividades lúdicas na vida adulta, de maneira geral, alguns estudos preconizam cerca de duas horas ao dia para atividades de lazer. O tempo gasto, a necessidade, e até mesmo o tipo de atividade escolhida podem variar para cada pessoa, de acordo com suas necessidades e preferências, mas não há dúvidas de que esses momentos são fundamentais para o bem-estar e melhores níveis de qualidade de vida. 

Existem tipos de jogos/brincadeiras que a senhora recomenda para cada fase da vida (criança, adulto, idoso)?
Para crianças, jogos que estimulem o desenvolvimento sensório-motor, como massinha de modelar, blocos de empilhar, quebra-cabeça; brincadeiras de faz-de-conta com bonecos, super-heróis e imitação de atividades; jogos com conteúdos pedagógicos; jogos com bolas, pular corda, que contribuem para coordenação, além de pega-pega, esconde-esconde, que também contribuem na interação com outras crianças. Jogos de tabuleiros e cartas, jogos de RPG (baseados na interpretação de papéis), jogos de lógicas, passam a ser mais interessantes tanto para adolescentes, quanto para os adultos, que também costumam ter momentos prazerosas com jogos de enigma, improviso ou jogos tipo “quiz”, sem contar as brincadeiras e atividades físicas que podem ser realizadas com familiares e amigos. Já para os idosos, jogos cognitivos, como quebra-cabeças, palavras cruzadas, sudoku, jogos de tabuleiro e cartas, peças para montar ou mesmo jogos sobre história e curiosidade podem ser bastante úteis. 


A Coluna "Saúde e Bem-estar" é atualizada semanalmente no Portal Folha de Pernambuco
Colaboração: jornalista Jademilson Silva
[email protected]
@jademilsonsilva

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