No Rio Negro, na Amazônia, curta de Bruno Vilela marca estreia como atriz e advogada recifense
Para as mulheres que desejam investir em novas áreas, Fernanda dá algumas dicas
A recifense Fernanda Braga estreia como atriz de cinema no curta-metragem “O Ano da Serpente”, do artista plástico e diretor Bruno Vilela, que será exibido na Galeria Marco Zero, de 2 de outubro a 15 de novembro. Formada em Direito, mas apaixonada por atuação, Fernanda sonhava em ser atriz desde jovem.
“Eu era uma criança que fazia teatro toda semana, fazia uma peça e chamava todos do prédio para assistir. A primeira vez que pisei em um palco eu tinha uns 3 para 4 anos. Sempre escrevia poesias, inventava músicas, apresentava peças no Teatro Barreto Júnior, além disso fazia ballet e parte do coral da escola. Então, a centralidade da minha infância era envolta da arte e da literatura. Veio a adolescência, a pressão para estudar, passar em uma boa universidade e a arte assumiu um papel secundário”, conta.
Já na vida adulta, Fernanda passou por obstáculos que aumentaram o seu desejo de ser quem realmente era e ouvir sua intuição. Aos 37 anos, recebeu o diagnóstico de câncer de mama e, depois do tratamento, venceu a doença. Três anos depois, enfrentou um divórcio e um quadro grave de ansiedade e depressão que acabaram refletindo no surgimento de mais problemas de saúde, além de uma cirurgia de remoção do útero.
Em busca de honrar essa promessa, em 2023, Braga voltou a se dedicar à arte teatral, estudando nos Estados Unidos, no conservatório de atuação Meisner, de uma das principais escolas de interpretação do mundo, o Baron Brown Studio, por onde passaram astros como Tom Cruise e Tom Hanks. Ao mesmo tempo em que precisava conciliar com as obrigações de ser mãe e com a carreira como advogada.
“Às vezes pensava em desistir do curso no conservatório e cheguei a comunicar que ia, mas, para minha surpresa, eles me ofereceram bolsa de estudos. Nesse momento eu ganhei confiança. Se o melhor estúdio de Los Angeles estava me dando bolsa, eu devia ter algum talento. A partir daí falei para uns amigos da área que tinha voltado a atuar e veio o convite do Bruno Vilela para fazer o curta “O Ano da Serpente”, que ele estava dirigindo, e a oportunidade de fazer figuração no filme ‘O Agente Secreto’.”
Desde que voltou a atuar, Fernanda vive uma vida tripla como mãe, advogada e atriz, ocupação em que está cheia de projetos.
“Hoje mantenho encontros a noite com colegas de curso e estamos trabalhando em roteiros. Bruno Vilela já está trabalhando no próximo projeto, que deve ser gravado no ano que vem e, além disso, tenho os compromissos com a Procuradoria, Advocacia e palestras”, explica. A rotina é puxada, mas segundo a atriz, “quando as coisas são feitas com entusiasmo, há dedicação, mas não há esforço”.
Para as mulheres que desejam investir em novas áreas e experimentar novas vivências, Fernanda dá algumas dicas.
“Apenas comece. Comece pequeno, com vergonha, com medo, com insegurança, de maneira inconstante. Comece errado, apenas comece. Faça pelo menos uma coisa por dia ou por semana na direção do seu sonho. Pode ser desconfortável no início, mas nenhum desconforto é maior do que perder a vida sendo quem você não é e desacreditando de si mesma. Eu senti na pele. Minha alma gritou”.
O Ano da Serpente
Produzido de forma totalmente independente, entre junho de 2024 e fevereiro desde ano, “O Ano da Serpente” foi filmado no Rio Negro, na Amazônia, e no ateliê de Vilela no Recife. A trama acompanha um viajante que, após encontrar uma caixa misteriosa com objetos enigmáticos, embarca em uma jornada pela floresta amazônica, onde sons e visões misteriosas se revelam como tentativas de comunicação da natureza. A Deusa Serpente, que surge em diferentes formas, o guia nesse transe místico.
“A gravação foi um processo muito divertido. Eu tinha certeza de que Bruno faria um filme lindo e me preocupava em honrar a obra dele e a personagem. O maior desafio foi fazer o voice over, técnica de voz sobreposta que eu nunca tinha feito, e comunicar com silêncio. Tentei transformar a eventual insegurança em vulnerabilidade”.
Em 2025, o curta foi selecionado para a Mostra Limite do Festival Internacional de Curtas de São Paulo — Kinoforum, o maior evento do gênero na América Latina. A produção foi exibida em São Paulo e, no Recife, será exibido na Galeria Marco Zero, de 2 de outubro a 15 de novembro.



