Sex, 05 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
Um Ponto de vista do Marco Zero

Crise no século XXI. Para onde vamos? A escola de crítica social de Frankfurt (3)

Frankfurt tinha a segunda maior população judaica da Alemanha

O Instituto de Pesquisa Social, a Escola de Frankfurt, foi criado em 1924O Instituto de Pesquisa Social, a Escola de Frankfurt, foi criado em 1924 - Reprodução

O Instituto de Pesquisa Social, a Escola de Frankfurt, foi criado em 1924. Para compreender o fracasso da revolução alemã de 1919. Em 1930, seus pesquisadores, Theodor Adorno, Horkheimer, Herbert Marcuse, Walter Benjamin e Jurgen Habermas, indagaram por que os trabalhadores alemães foram seduzidos pela sociedade de consumo. E cooptados pelo nazismo.

Em 1914, o Partido Social Democrata – SPD, o maior do país, era a principal força do movimento operário alemão. Após o assassinato do arquiduque austríaco, Francisco Ferdinando, o SPD se deixou levar ao entusiasmo pela guerra. Frankfurt tinha a segunda maior população judaica da Alemanha. E elegeu seu primeiro prefeito judeu. Com história e cultura germânicas.

Politicamente, a República de Weimar caminhava. E a tendência estética do país abrangia o minimalismo da Bahaus, marco do designe moderno. Dirigida pelo gênio da arquitetura, Walter Gropius. Que terminou chefiando o curso de arquitetura de Harvard. Ao tempo em que Bertold Brecht lançava sua peça Tambores na Noite. E Schoenberg introduzia a música dodecafônica.

Foi no prédio monástico do Instituto que os filósofos alemães inventaram a teoria de crítica social. Para eles, uma construção teórica que significava o domínio da humanidade sobre a natureza por meio da ciência. Mas, havia uma pedra no meio do caminho. O nazismo. Impulsionado pela inflação e pelo desemprego. Gerados pelo draconiano Tratado de Versalhes. O antissemitismo aumentava.

O nazismo, animado pelo nacionalismo, inflou a Segunda Guerra Mundial. O extremismo e o genocídio golpearam as instituições alemães. Adorno e Horkheimer foram para o exílio nos Estados Unidos. Walter Benjamin, num hotel na Espanha, não conseguiu visto. Deu fim a própria vida. E Herbert Marcuse foi para Nova York. Produziu estudos sobre a indústria cultural. Trabalhou para o governo norte-americano, em projeto de desnazificação. Tornou-se teórico da nova esquerda, nos anos 60.

Por que o nazismo triunfou na Alemanha? Segundo Erich Fromm, a pequena burguesia, central no capitalismo industrial do século XIX, demonstrou ser a mais entusiasta apoiadora de Hitler. Fromm escreveu: “O desejo por autoridade é canalizado para líder forte, enquanto figuras paternas específicas tornam-se objeto de rebelião”. Para Marcuse, o nazismo não foi uma rutura com o passado. Mas uma tendência dentro do liberalismo, que apoiava o capitalismo na luta contra o comunismo.

Despontava a luta ideológica entre esquerda e direita. Estimulada no nacionalismo polarizado entre Estados Unidos e Rússia. O Comitê de Atividades Antiamericanas da Câmara dos Representantes ativava seus trabalhos. Perseguindo atores, atrizes e diretores de Hollywood. Incluindo liberais como Ernest Hemingway e André Malraux.

Para Habermas, autor da teoria da ação comunicativa, o espaço público foi eliminado no século XX. Segundo ele, por causa da comunicação de massa, redes sociais, impasses populistas. Perdendo sua autonomia e seu poder de crítica. Para ele, a internet não gera espaço público.

Como se vê, na cordilheira da política, são recorrentes os picos nacionalistas. Irmãos siameses do populismo. O risco do binômio não tem data. Nem prazo. Está aí, na crise do século XXI. Como se fosse uma flecha no tempo. Descrevendo um arco. Em direção à reunião de plutocratas no salão principal.

Veja também

Newsletter